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Crise da ALBA favorece posições de Marrocos na América Latina

As alterações políticas e crises em países latino-americanos do grupo Aliança Bolivariana dos Povos da Nossa América (ALBA) favorece Marrocos na tentativa de garantir aliados em torno do conflito no Saara ocidental, referem observadores citados pela agência Efe.

Crise da ALBA favorece posições de Marrocos na América Latina
Notícias ao Minuto

17:20 - 16/12/19 por Lusa

Mundo Marrocos

A maioria dos membros da ALBA mantém abertas embaixadas na República Árabe Sarauí Democrática (RASD), não possuem representação diplomática em Marrocos e consideram-se firmes aliados da Frente Polisário e defensores das suas posições nos fóruns internacionais.

No entanto, as alterações internas registadas na Bolívia (após a renúncia de Evo Morales), o conflito político na Venezuela e a crise política e social na Nicarágua coloca interrogações sobre a manutenção da América Latina como uma região de "profundidade estratégica" para a Polisário.

Nesta lógica, Marrocos considera ter chegado o momento para ocupar o terreno que perdeu para a Polisário no continente, como considerou o presidente da Câmara de conselheiros (câmara alta) do parlamento marroquino, Hakim Benchemach, em declarações à Efe.

Benchemach, que mantém estreitas relações com instituições oficiais e legislativas latino-americanas, considerou na América Latina surgiu uma nova geração de líderes "que se libertou dos modelos ideológicos herdados da época da Guerra Fria".

Na sua perspetiva, estas alterações podem terminar com o que designou de "posições hostis à integridade territorial marroquina" e que foram adotadas no passado no continente.

Para além dos fatores ideológicos, a Frente Polisário sempre reivindicou o facto de se considerar uma nação árabe onde se fala o espanhol, uma herança cultural e linguística, um argumento para se aproximar da América Latina.

Esta posição tinha sido já sublinhada em 2008 por Ahmed Bujari, o ideólogo da diplomacia sarauí, que numa intervenção no Senado do México sublinhou que a América Latina constitui para o povo sarauí "uma aposta de futuro" e um continente em que o seu povo "partilha uma história colonial similar e um idioma comum".

Por sua vez, assinala a Efe, Marrocos mudou de tática e passou da confrontação e da "cadeira vazia" nos fóruns onde estava presente da RASD para uma política de sedução e abertura de canais de diálogo com países cujo reconhecimento da RASD era praticamente inquestionável.

Rabat aceitou "conviver" com a RASD ao restabelecer relações diplomáticas com Cuba em 2017 e abrir uma representação diplomática em Havana, que durante décadas foi a capital onde se formaram as elites sarauís da RASD.

De acordo com fontes que pediram o anonimato, existe agora uma aproximação de Rabat ao Equador (país que reconheceu a RASD em 1983), com o objetivo de estabelecer relações e abrir uma embaixada em Quito.

Em setembro, uma delegação oficial equatoriana liderada por Andrés Terán, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Integração Política e Cooperação Internacional, visitou Rabat e reuniu-se com o chefe da diplomacia, Naser Burita, com o aparente objetivo de iniciar uma nova fase nas relações bilaterais, após o país ter abandonado a ALBA, assinala a Efe.

Em relação à Venezuela, Marrocos não optou por uma posição neutral e em julho reconheceu Juan Guaidó como "presidente da Assembleia nacional", para além de receber oficialmente no mesmo mês o seu "enviado especial", Juan Ignacio Guédez.

No entanto, esta posição não significou a rutura com o regime de Nicolás Maduro, que continua a ser representado no país com uma embaixada dirigida por um Encarregado de negócios.

No entanto, esta tática de coexistência com a RASD não se aplica a todos os países latino-americanos. Em novembro, o Governo marroquino advertiu o Panamá que poderá encerrar a embaixada em Rabat caso este país continue a reconhecer a república sarauí.

Os analistas consideram que o próximo passo de Marrocos será em direção aos governos da Bolívia e Uruguai (com um novo Presidente que já manifestou distanciamento face à ALBA), e que poderão aproximar-se das teses de Marrocos.

Citado pela Efe, o politólogo marroquino Abdeluahed Akmir considera que, no atual momento, a diplomacia marroquina terá de aguardar pelo momento oportuno e atuar como "observadora", porque a prioridades destes países latino-americano reside na sua situação interna.

Akmir manifestou a convicção que o legado da ideologia comunista esquerdista "vai desaparecer" com as alterações registadas em países como a Bolívia -- que também abandonou em novembro o conclave caribenho e sul-americano após o golpe de Estado --, e que em breve "contagiarão" os restantes países da ALBA.

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