A maioria dos membros da ALBA mantém abertas embaixadas na República Árabe Sarauí Democrática (RASD), não possuem representação diplomática em Marrocos e consideram-se firmes aliados da Frente Polisário e defensores das suas posições nos fóruns internacionais.
No entanto, as alterações internas registadas na Bolívia (após a renúncia de Evo Morales), o conflito político na Venezuela e a crise política e social na Nicarágua coloca interrogações sobre a manutenção da América Latina como uma região de "profundidade estratégica" para a Polisário.
Nesta lógica, Marrocos considera ter chegado o momento para ocupar o terreno que perdeu para a Polisário no continente, como considerou o presidente da Câmara de conselheiros (câmara alta) do parlamento marroquino, Hakim Benchemach, em declarações à Efe.
Benchemach, que mantém estreitas relações com instituições oficiais e legislativas latino-americanas, considerou na América Latina surgiu uma nova geração de líderes "que se libertou dos modelos ideológicos herdados da época da Guerra Fria".
Na sua perspetiva, estas alterações podem terminar com o que designou de "posições hostis à integridade territorial marroquina" e que foram adotadas no passado no continente.
Para além dos fatores ideológicos, a Frente Polisário sempre reivindicou o facto de se considerar uma nação árabe onde se fala o espanhol, uma herança cultural e linguística, um argumento para se aproximar da América Latina.
Esta posição tinha sido já sublinhada em 2008 por Ahmed Bujari, o ideólogo da diplomacia sarauí, que numa intervenção no Senado do México sublinhou que a América Latina constitui para o povo sarauí "uma aposta de futuro" e um continente em que o seu povo "partilha uma história colonial similar e um idioma comum".
Por sua vez, assinala a Efe, Marrocos mudou de tática e passou da confrontação e da "cadeira vazia" nos fóruns onde estava presente da RASD para uma política de sedução e abertura de canais de diálogo com países cujo reconhecimento da RASD era praticamente inquestionável.
Rabat aceitou "conviver" com a RASD ao restabelecer relações diplomáticas com Cuba em 2017 e abrir uma representação diplomática em Havana, que durante décadas foi a capital onde se formaram as elites sarauís da RASD.
De acordo com fontes que pediram o anonimato, existe agora uma aproximação de Rabat ao Equador (país que reconheceu a RASD em 1983), com o objetivo de estabelecer relações e abrir uma embaixada em Quito.
Em setembro, uma delegação oficial equatoriana liderada por Andrés Terán, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Integração Política e Cooperação Internacional, visitou Rabat e reuniu-se com o chefe da diplomacia, Naser Burita, com o aparente objetivo de iniciar uma nova fase nas relações bilaterais, após o país ter abandonado a ALBA, assinala a Efe.
Em relação à Venezuela, Marrocos não optou por uma posição neutral e em julho reconheceu Juan Guaidó como "presidente da Assembleia nacional", para além de receber oficialmente no mesmo mês o seu "enviado especial", Juan Ignacio Guédez.
No entanto, esta posição não significou a rutura com o regime de Nicolás Maduro, que continua a ser representado no país com uma embaixada dirigida por um Encarregado de negócios.
No entanto, esta tática de coexistência com a RASD não se aplica a todos os países latino-americanos. Em novembro, o Governo marroquino advertiu o Panamá que poderá encerrar a embaixada em Rabat caso este país continue a reconhecer a república sarauí.
Os analistas consideram que o próximo passo de Marrocos será em direção aos governos da Bolívia e Uruguai (com um novo Presidente que já manifestou distanciamento face à ALBA), e que poderão aproximar-se das teses de Marrocos.
Citado pela Efe, o politólogo marroquino Abdeluahed Akmir considera que, no atual momento, a diplomacia marroquina terá de aguardar pelo momento oportuno e atuar como "observadora", porque a prioridades destes países latino-americano reside na sua situação interna.
Akmir manifestou a convicção que o legado da ideologia comunista esquerdista "vai desaparecer" com as alterações registadas em países como a Bolívia -- que também abandonou em novembro o conclave caribenho e sul-americano após o golpe de Estado --, e que em breve "contagiarão" os restantes países da ALBA.