Morin, de 98 anos, falava na apresentação do livro 'O Devir da Lusofonia', de Isabelle de Oliveira, na Associação de Futebol do Porto, cujo preâmbulo assinou.
Segundo o pensador francês, "a lusofonia tem um papel importante a desempenhar", realçando o "contributo importante" do trabalho de Isabelle de Oliveira, professora na parisiense Universidade Sorbonne-Nouvelle (III), "para a cultura [lusófona]" e para a Humanidade.
A sessão contou ainda com intervenções de várias personalidades, como a antiga candidata presidencial Maria de Belém, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, ou o presidente da Associação de Futebol do Porto, Lourenço Pinto, autor do posfácio.
Classificando a literatura portuguesa como "admirável", Morin assentou a intervenção na riqueza da multiculturalidade, criticando ainda o papel do inglês como uma "língua universal que perde o sabor" em troca do valor para o mercado.
No início da "conclusão", como apelidou a palestra que deu, o filósofo começou por explicar, em português, que "a francofonia pode ajudar a lusofonia", lembrando depois Bento de Espinosa, um descendente de portugueses que, em Amesterdão, "acabou por influenciar o pensamento europeu moderno".
Portugal é "um país extraordinário, que é atlântico e mediterrâneo ao mesmo tempo, ibérico e com ligação ao resto do planeta, com uma vitalidade e convivialidade e cordialidade extraordinária", afirmou.
À Lusa, Isabelle de Oliveira destacou esta obra como abrindo "portas sobre a memória da diáspora portuguesa", particularmente em França, para poder denunciar "o 'clichê' do trolha, da porteira, e olhar para a diáspora com outro olhar, mais positivo".
Outra ideia importante é a de "chamar a atenção aos governantes" portugueses.
"A diáspora não é só as remessas, temos hoje altos quadros em todas as áreas, e dizer que já chega, basta, de olhar para esse conceito, para mim uma aberração, de lusodescendentes, somos todos portugueses", atirou.
Sobre a ligação ao campo desportivo, Oliveira destaca Cristiano Ronaldo ou José Mourinho como "embaixadores" do mundo lusófono, da mesma forma que a diáspora é "embaixadora da língua portuguesa", ligados ao país "por afetos".
Lourenço Pinto destacou aos jornalistas a importância desta "manifestação cultural" para o esforço de formação de jovens enquanto desportistas e pessoas, um crescimento pessoal de que a cultura é "parte integrante".
"Já dizia Coubertin que não há desporto sem valores e os valores no desporto são importantíssimos", acrescentou.
Isabelle Oliveira é a diretora da Faculdade de Línguas Estrangeiras Aplicadas da Universidade Sorbonne-Paris III e tem escrito vários ensaios e textos sobre a elaboração e execução de políticas de promoção internacional da língua portuguesa.
Nascido em 8 de julho de 1921, em Paris, Edgar Morin tem assinado, ao longo das décadas, múltiplos trabalhos nas áreas da sociologia, política e filosofia, entre muitas outras.
De acordo com a biografia existente na página do centro a que deu nome, foi investigador do Centro Nacional de Investigação Científica, em França, entre 1950 e 1989, tendo sido diretor de investigação em 1970.
Em 2017, Morin já tinha apresentado outro livro da mesma autora, a obra 'Lusofonia e Francofonia: A aliança da latinoesfera', na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
Na terça-feira, Morin vai receber um doutoramento 'honoris causa' pela Universidade Lusófona do Porto, pelas 11h00, seguindo-se, na quarta-feira, uma palestra em Guimarães, no Centro Internacional das Artes José de Guimarães, pelas 16h00.