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Gregório Duvivier considera "absurdo" UE continuar comércio com o Brasil

O ator e comediante brasileiro Gregório Duvivier afirmou, em entrevista à agência Lusa, que considera absurdo que a comunidade internacional, nomeadamente a União Europeia (UE), "patrocine o fascismo" do Governo brasileiro, através da firmação de acordos comerciais.

Gregório Duvivier considera "absurdo" UE continuar comércio com o Brasil
Notícias ao Minuto

08:00 - 13/11/19 por Lusa

Mundo Gregório Duvivier

"Acho que a comunidade internacional tem como ser muito mais exigente. É um absurdo chamar um sujeito de fascista e 'ecocida' [que causa destruição intencional num ecossistema ou comunidade] e continuar a comprar soja dele. Será que não entendem que o que causa desflorestação é a [produção de] soja, que é a política ruralista de Bolsonaro que acaba com a Amazónia? Então, você vai continuar a fomentar a política ruralista, apenas criticando a figura do Presidente?", questionou Duviver, acrescentando que "não faz o menor sentido".

Apesar do artista brasileiro considerar Bolsonaro o "grande vilão" responsável pelos problemas ambientais que o Brasil hoje enfrenta, como os incêndios na Amazónia, ou as contínuas manchas de petróleo nas águas do nordeste do país, Duvivier frisa que o chefe de Estado tem "grandes parceiros internacionais, e um deles é a União Europeia".

"Como é que podem [UE] firmar um acordo com o Mercosul nesse estado? Tinham que negociar. (...) A UE tem esse poder e não exerce essa pressão. Acho uma pena. Essa pressão política de criticar Bolsonaro é fachada, mentira, não faz a menor diferença. Ele [Bolsonaro] não está nem aí para o que o Macron [PR francês] ou qualquer outro líder diz. Mas se isso implicar a quebra de acordos comerciais, acho que vai ser obrigado a repensar a sua política 'ecocida'", argumentou.

Conhecido em Portugal pela sua participação no popular canal 'online' de comédia "Porta dos Fundos", e, mais recentemente, pela apresentação do programa satírico "Greg News", emitido pela rede de televisão HBO, Duvivier é um duro crítico do executivo de Bolsonaro. Contudo, acredita que a comunidade internacional poderia ter um papel mais ativo na oposição ao atual mandatário.

Gregório Duvivier aproveitou a entrevista com a agência Lusa, na cidade brasileira do Rio de Janeiro, para apelar à Europa que não firme acordos comerciais com o país sul-americano, sem que esses impliquem obrigações ambientais e democráticas.

"Que sejam assinados acordos que garantam que não haverá censura no Brasil, nem cortes na Educação e na Cultura, que não haja perseguição a artistas no país. Acho que tudo isso deveria ser debatido. Senão, o que acontece é que quando você compra algo de uma pessoa assim, está também a patrocinar aquele fascismo que você critica", defendeu o ator brasileiro.

O acordo de livre comércio entre a UE e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), de que fazem parte o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, foi fechado em 28 de junho, após 20 anos de negociações.

Em finais de agosto, face aos fogos na Amazónia, o Presidente francês, Emmanuel Macron, colocou em causa a assinatura deste acordo de livre comércio, com o argumento de que o seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro, "decidiu não respeitar os compromissos ambientais e não se empenhar em matéria de biodiversidade".

Em reação à posição assumida por Emmanuel Macron, no dia 23 de agosto, o primeiro-ministro português considerou que não se deve "confundir o drama que está a ser vivido neste momento na Amazónia com um acordo comercial, muito importante, e que levou mais de 20 anos a ser negociado".

Desde o início de setembro que o Brasil enfrenta um novo problema ambiental, com a chegada de cerca de quatro mil toneladas de petróleo a 314 praias dos nove estados do nordeste do país. Contudo, a sociedade brasileira tem criticado a falta de posicionamento e de ações do Governo face ao desastre.

Além das preocupações ambientais, Gregório Duvivier mostra-se também apreensivo com a quantidade de militares que constituem o atual Governo, numa comparação com o período ditatorial, que vigorou no país entre 1964 e 1985, e estabelecendo ainda um paralelo com a situação de Portugal.

"As Forças Armadas em Portugal não têm interesse em voltar à cena política. Ficou muito claro, desde 1974 [fim do regime ditatorial] em Portugal de que o lugar das Forças Armadas é no exército, ou no quartel, e não no Congresso. No Brasil não, aqui as Forças Armadas, desde a democratização [em 1985], continuaram a compor Governos", indicou o ator.

"O executivo atual tem tantos militares quanto na ditadura, dentro dos Ministérios. Acredito que isso nunca aconteceria em Portugal, porque lá houve uma rutura entre a ditadura e a democracia, e no Brasil foi uma transição amigável, com uma amnistia geral, inclusive para torturadores. No Brasil, torturadores confessos foram perdoados e mais do que isso: idolatrados", referiu Duvivier à Lusa.

Apesar do ator e humorista ser um crítico acérrimo do Governo de Bolsonaro, Gregório acredita que os "ventos que sopram do oeste" do Brasil, como Chile, Equador e Bolívia, podem trazer mudanças, mas também "ondas de violência".

"É o vento de uma juventude cansada do neoliberalismo, dos cortes. É uma juventude que está endividada, que não consegue pagar a faculdade, que está a ver as suas conquistas sociais desaparecerem. Esses jovens não veem com bons olhos um Presidente como Bolsonaro, que é conservador e autoritário, que não sabe lidar com manifestações populares", disse.

"Quando o povo foi às ruas em protesto pelos cortes na Educação, Bolsonaro chamou-o de "bando de idiotas úteis". É um sujeito que não tem uma conversa muito hábil com essa juventude enfurecida, e eu tenho muito medo que o Brasil seja obrigado a passar por mais um episódio de violência, como tantos na sua história", finalizou o artista brasileiro.

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