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Brasil apoia sínodo da Amazónia, mas teme ser difamado pelo lóbi

O diplomata brasileiro Kenneth da Nóbrega teme que o Sínodo da Amazónia, que tem início este fim de semana no Vaticano, seja usado pelo "lóbi agrário europeu" para difamar a agricultura do país.

Brasil apoia sínodo da Amazónia, mas teme ser difamado pelo lóbi
Notícias ao Minuto

09:37 - 04/10/19 por Lusa

Mundo Amazónia

Em entrevista à Lusa, o embaixador Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega disse que "o Governo brasileiro vê com bons olhos a realização do Sínodo da Amazónia", que faz "parte da missão pastoral da Igreja [Católica], está de acordo com a legislação brasileira, com o acordo entre o Brasil e a Santa Sé que rege as atividades da Igreja no Brasil".

"Reconhecemos na Igreja um papel importante na formação da sociedade brasileira e a opção da Igreja ativa pelos mais pobres é objeto de grande apreciação de nossa parte", completou.

Para o embaixador, que estabeleceu um diálogo direto junto da Santa Sé durante a preparação do evento em nome do Governo brasileiro, o que preocupa o país não é o Sínodo em si, mas a repercussão que os debates dos bispos católicos poderão gerar.

"Estamos preocupados não pelo Sínodo em sim, as questões existentes sobre as queimadas e incêndios não vão ser matéria de discussão no Sínodo da Amazónia porque [o encontro] vai discutir coisas com base em um documento de trabalho, e lá estas questões não se encontram", explicou.

"A questão é a repercussão na imprensa, do ativismo ambiental. Não estou dizendo que eles [bispos da Igreja] estão fazendo de propósito, mas na verdade, o risco é que involuntariamente eles reforcem a campanha dos lobbies europeus que têm muito medo da concorrência da agricultura brasileira", acrescentou.

Nóbrega salientou, seguindo sua linha de argumentação, que a agricultura do Brasil tem sido difamada por produtores agrícolas da Europa com objetivo de impedir a concorrência dos produtos brasileiros dentro de seus mercados.

"O nosso medo é que este lobby que não quer fazer a diferença entre o que é sustentável ou não, que está querendo que a gente não exporte para lá, possa ser fortalecido por um ativismo da Igreja que é muito bem-intencionado, mas pode servir para estas causas, ser instrumentalizado", apontou.

Questionado sobre manifestações públicas de preocupação a respeito do Sínodo da Amazónia, mencionadas pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro e pelo ex-comandante do Exército e atual assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Eduardo Villas Bôas, que declaram que o evento teria um viés político, o embaixador defendeu que este tipo de comentário foi uma resposta ante a onda de notícias falsas sobre a Amazónia brasileira.

"Criou-se todo um clima de desconfiança [no Governo] em relação ao debate internacional sobre a Amazónia (...) Quando um presidente de um país como a França diz que é preciso internacionalizar o debate ascenderam os alarmes aqui", argumentou, referindo-se a declarações de Emmanuel Macron ao final do último encontro do G7 (grupo que reúne as sete maiores economias do mundo), em agosto.

O embaixador também citou que é obrigação dos governantes defender a soberania nacional da floresta amazónica que fica dentro do território brasileiro.

"Claro que vai haver uma discussão política dentro do Sínodo. No entanto, os organizadores disseram-me que o foco será a Igreja e o que ela pode fazer para melhorar a situação social dos mais pobres, dos mais necessitados na Amazónia", destacou.

"Temos uma tranquilidade porque conversamos [com a Santa Sé] e as conclusões [do Sínodo] vão ser de natureza pastoral e social. Não vão incitar nenhum tipo de política internacional. Viés político é difícil que não tenha, mas não vemos isto como um objetivo da Igreja", concluiu.

Convocado no dia 15 de outubro de 2017 pelo papa Francisco, o Sínodo da Amazónia é apresentado com o nome "Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral", acontecerá em Roma, entre os dias 6 e 27 de outubro.

As atividades contarão com participação do papa, bispos dos nove países que abrangem a região Pan-Amazónica (Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa), representantes dos povos indígenas originários da floresta, personalidades, cientistas e ambientalistas.

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