"Acabámos de anunciar o fim do nosso serviço ao 8chan, com efeito desde a meia-noite de hoje", afirmou o proprietário da empresa norte-americana Cloudflare, Matthew Prince.

"A razão é simples: eles [os gestores do site] puseram-se à margem da lei e causaram muitas mortes trágicas. Apesar de não ter violado a letra da lei ao recusar-se a moderar os comentários cheios de ódio da sua comunidade, o 8chan criou um ambiente que viola o espírito [da legalidade]", explicou.

Matthew Prince já tinha admitido, no domingo, que o fórum -- onde se multiplicavam conversas extremistas quer da extrema-direita, quer de conspirações diversas e até comentários machistas -- se tinha tornado "um esgoto cheio de ódio".

No entanto, lembrou, a Clouflare não poderia fazer a moderação dos comentários publicados, já que o 8chan era só um dos mais de 19 milhões de sites de internet que eram distribuídos pela empresa.

Hoje de manhã, o 8chan estava inacessível, tendo o seu administrador publicado, no Twitter, que o site ia migrar para um novo servidor, por decisão da Cloudflare.

Segundo o proprietário, a decisão não foi tomada de ânimo leve.

"Toleramos, embora com repugnância, conteúdos que achamos repreensíveis, mas não admitimos plataformas que inspiram diretamente eventos trágicos e se tornam, por isso, ilegais", escreveu Matthew Price, sublinhando que "o 8chan cruzou essa linha".

Já há dois anos, a Cloudflare deixou de distribuir o site neonazi Daily Stormer, depois de uma mulher ter sido morta durante as violentas manifestações de extrema direita em Charlottesville, Virgínia.

"Hoje, o Daily Stormer está sempre disponível e continua a ser repugnante. [Os gestores] orgulham-se de ter o maior número de leitores de sempre", disse Matthew Price.

Estes sites "já não são um problema da Cloudflare, mas continuam a ser um problema da internet", afirmou, alertando que a decisão hoje tomada "não vai resolver o problema do ódio online".

Pouco antes do tiroteio no supermercado em El Paso, no Texas, que matou, este fim de semana, 20 pessoas e deixou feridas outras 26, o atirador divulgou um "manifesto" racista no 8chan.

O homem, identificado como Patrick Crusius, invocava uma "invasão hispânica" do Texas e elogiava o massacre de março na Nova Zelândia, que matou 51 pessoas em duas mesquitas de Christchurch.

O autor do massacre de Christchurch também tinha anunciado a sua intenção no fórum 8chan e divulgou o ataque em direto no Facebook Live durante 17 minutos, antes de a transmissão ter sido desativada.

No domingo, o fundador do 8chan, Frederick Brennan, que cortou todas as ligações ao site, defendeu que o fórum deveria ser definitivamente fechado.

"Assim que soube do homicídio em massa, defendi que era preciso investigar se havia ligações ao 8chan", disse Brennan ao jornal New York Times.

"Fechem o site", acrescentou, justificando que o 8chan "não traz nada de bom ao mundo".

O site é atualmente gerido a partir das Filipinas, por um antigo combatente do exército norte-americano, Jim Watkins.

Leia Também: EUA de luto. "Crime de ódio" no Texas é o pior massacre do ano