No início de julho, o ministro francês da Cultura, Franck Riester, anunciou a intenção de devolver "rapidamente" os objetos sagrados ao antigo Reino do Daomé, atual Benim, antes mesmo da adoção formal de uma lei que legitime o processo, sublinhando que os totens e outros ceptros reais, exigidos por aquele país africano, "devem poder" ser aí "vistos, admirados e estudados".
O Benim não tem, porém, assim tanta pressa. "À proposta francesa respondemos 'paciência, guardem [as peças] durante mais algum tempo até que estejamos mesmo preparados'", disse José Pliya, diretor da Agência beninense de promoção dos Patrimónios e do Turismo (ANPT), citado pela agência France Press.
Em novembro último, recordou o mesmo responsável, "o Presidente [Emmanuel] Macron surpreendeu o mundo inteiro ao anunciar a restituição sem demora destes 26 objetos" e o Benin saudou "a coragem" de França e deste passo histórico.
"Recebemos o presente e saudamos o gesto", reafirmou Pliya. Mas "esta devolução é de tal forma importante que queremos fazer as coisas bem", acrescentou.
O Benim, que tem no turismo um dos principais pilares do seu desenvolvimento económico, quer acolher as obras nas condições mais adequadas, e estas passam pela construção de um museu no centro dos Palácios Reais do Abomei - um conjunto de 12 edifícios construídos em argila entre meados do século 17 e finais do século 19, espalhados por uma área de 40 hectares no centro da cidade de Abomei, capital do antigo Reino do Daomé - à qual a Unesco deu já "luz verde".
"Os trabalhos vão começar no quarto trimestre deste ano e a duração será de dois anos. Portanto, para nós, o regresso desses objetos [está previsto] para a inauguração desse museu, no outono de 2021", disse o diretor da ANPT.
Macron quer abrir uma nova página nas relações de França com África, mas tem mais pressa do que a evidenciada pelo Benim.
Paris está a preparar um grande evento para começar em maio do próximo ano, o 'África 2020, Estação das Culturas Africanas em França', anunciado pelo chefe de Estado francês num discurso em Ouagadougou, capital do Burkina Faso, em julho de 2018, e quer fazer das peças do Abomei um exemplo tangível da redenção do passado colonialista francês pretendida por Macron.