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Populistas à frente numa República Checa muito dividida em relação à UE

O partido populista Aliança dos Cidadãos Descontentes (ANO) está à frente nas sondagens para as eleições europeias na República Checa, um dos países mais anti-imigração da Europa e onde é mais evidente o confronto entre eurocéticos e europeístas.

Populistas à frente numa República Checa muito dividida em relação à UE
Notícias ao Minuto

11:06 - 17/05/19 por Lusa

Mundo Europeias

A ANO, que surge nas sondagens com 21% e deverá eleger seis eurodeputados, governa a República Checa desde 2017 e é liderada por Andrej Babis, 64 anos, um industrial considerado um dos homens mais ricos da Europa central e uma figura polémica.

O país aguarda nesta altura que o Ministério Público decida se acusa ou não o primeiro-ministro, como recomendou uma investigação por suspeita de envolvimento do primeiro-ministro numa fraude com fundos europeus no valor de 2 milhões de euros, um caso que levou a protestos antigovernamentais que juntaram milhares de pessoas e é tema central na campanha das europeias.

Babis assegura que é pró-europeu, mas critica "as imposições" de Bruxelas à sua governação e tem fomentado o discurso xenófobo num país em que a opinião pública é maioritariamente contra a entrada de imigrantes e as autoridades são as mais rígidas da União Europeia (UE) no acolhimento de refugiados, tendo rejeitado 90% dos pedidos de asilo apresentados em 2018.

Este contexto favoreceu a emergência em 2017 do partido de extrema-direita nacionalista Liberdade e Democracia Direta (SPD), do empresário checo-japonês Tomio Okamura, anti-imigração e a favor da saída da República Checa da UE ('Czexit'), que foi a terceira força mais votada nas legislativas desse ano e elegeu 22 deputados à câmara baixa do parlamento nacional.

As sondagens preveem que o SPD tenha entre 7% e 10% dos votos, podendo chegar a eleger dois eurodeputados, mas, dada a elevada abstenção dos checos, analistas admitem que o partido possa ficar aquém do limiar de 5% dos votos expressos.

Para o lançamento da sua campanha europeia, a 25 de abril, Okamura recebeu em Praga alguns dos principais líderes da extrema-direita europeia, como Marine Le Pen, da francesa União Nacional (RN, ex-Frente Nacional) e Geert Wilders, do holandês Partido para a Liberdade (PVV).

O líder da extrema-direita italiana, Matteo Salvini, enviou uma mensagem vídeo, mas já tinha estado com Okamura, na capital checa, no início de abril, no âmbito dos contactos para formar uma aliança de partidos nacionalistas no próximo Parlamento Europeu (PE).

O comício do SPD realizou-se na histórica Praça Venceslau, no centro de Praga, palco há 30 anos de manifestações em massa pela queda do regime comunista da Checoslováquia, e teve uma assistência de cerca de 500 pessoas, mas, à distância, dezenas de contra-manifestantes realizaram um ruidoso protesto, abafando os discursos com palavras de ordem anti-extrema-direita e com o som de buzinas, tambores e apitos.

No mais recente Eurobarómetro, de abril, 58% dos checos considera que o país beneficiou de pertencer à UE, mas, ao mesmo tempo, apenas um terço (33%) afirma que estar na UE é positivo, o valor mais baixo de todos os 28 Estados-membros, e menos de metade (47%) votaria pela permanência na União num eventual referendo.

Vaclav Klaus, primeiro-ministro durante as negociações e Presidente quando da adesão da República Checa à UE, em 2004, disse numa entrevista recente que promoveu a adesão por considerar que o país não tinha alternativa, mas que ele próprio tinha reservas, e considerou que, hoje, a integração deu ao país tanto de bom como de mau.

A divisão checa entre eurocéticos e europeístas fica patente também nas sondagens para as eleições.

O segundo partido mais votado, depois da ANO, é o partido Pirata (centro-esquerda), que se define como europeísta e liberal e regista cerca de 15% das intenções de voto, podendo eleger quatro eurodeputados.

Em terceiro lugar está o Partido Democrático Cívico (ODS), formação conservadora e eurocética fundada em 1991 por Vaclav Klaus e até às últimas legislativas um dos dois principais partidos do país, com cerca de 12% dos votos e três eurodeputados.

Segue-se o Tradição Responsabilidade Prosperidade (TOP 09), à frente de uma coligação de centro direita, europeísta, com 10% e dois eurodeputados, a par, em intenções de voto, com o já mencionado partido de extrema-direita eurocética SPD.

O CSSD, partido social-democrata pró-UE que até 2013 alternava no poder com o ODS, surge a seguir, com cerca de 7% e um eurodeputado, praticamente empatado com o KSCM, comunista e eurocético, também com cerca de 7% das intenções de voto e a possível eleição de um eurodeputado.

Os especialistas em sondagens frisam contudo que o desinteresse dos eleitores, que nas últimas europeias, em 2014, se traduziu numa taxa de abstenção de 82%, pode revelar-se decisivo para qualquer partido.

A República Checa vota a 24 e 25 de maio e elege 21 dos 751 deputados do Parlamento Europeu.

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