O título de campeão português de futebol é decidido no sábado, na última jornada da I Liga, e o psicólogo desportivo Jorge Silvério assinalou os desafios que os técnicos de Sporting e Benfica enfrentam para gerir emocionalmente os jogadores.
"Do lado do Sporting, penso que o principal trabalho a ser feito pela equipa técnica é o controlo de alguma euforia. Vimos isso depois do jogo com o Benfica [empate 1-1, no Estádio da Luz], com o ambiente de festa que foi criado. É preciso manter o foco total em ganhar o último jogo", lançou à Lusa o especialista.
Após o dérbi lisboeta da última ronda, Sporting e Benfica enfrentam a 34.ª e última jornada com os mesmos 79 pontos, mas com os 'leões' em vantagem no confronto direto, bastando fazer igual ou melhor na receção ao Vitória de Guimarães do que as 'águias' fizerem na visita ao Sporting de Braga, com ambos os jogos marcados para as 18:00 de sábado.
"No outro lado, do Benfica, o trabalho do Lage é diferente. Não tendo ganho o jogo contra o rival, obviamente que o objetivo do título ficou mais difícil, mas não é impossível. O trabalho que a equipa técnica vai ter que fazer é, sobretudo, que os jogadores acreditem que ainda é possível. Apesar de já não depender só deles, não podem baixar os níveis motivacionais", sublinhou Jorge Silvério.
De resto, o responsável destacou que a pressão que os jogadores podem sentir antes da decisão do título é, naturalmente, extensível aos próprios treinadores.
"Normalmente só se fala dos jogadores, mas são os treinadores que vão ter que fazer o trabalho de gestão. Têm que estar atentos ao que se passa com os seus comandados e com a sua equipa técnica. A missão do treinador é muito difícil, porque tem que estar com atenção a tudo, quer antes, quer durante os jogos, para tomar as melhores decisões", vincou.
E acrescentou: "É importante ter esse controlo de decisão. Independentemente de como os jogos vão correr, estar preparado para vários cenários e ter planos para as diferentes possibilidades. Se o jogo começar a correr bem, se o jogo não correr tão bem... Tem de estar pronto para decidir o que fazer".
De resto, segundo Jorge Silvério, durante os encontros decisivos que se aproximam, a postura dos técnicos, enquanto líderes das equipas, assume grande preponderância.
"Além da comunicação com a equipa, o treinador tem que saber lidar com a comunicação não verbal, e gerir a maneira como se comporta e os sinais que transmite para dentro do campo", frisou à Lusa.
O psicólogo desportivo apontou ainda para a "grande evolução" ao nível da organização dos clubes, que contam com vários profissionais dedicados às diferentes áreas, nas componentes física e mental.
"Nos últimos 15 a 20 anos, o futebol está mais científico, muito mais especializado a todos os níveis. Como exemplo, começámos por ter treinadores de guarda-redes, hoje já temos treinadores só para as bolas paradas. Isto também é verdade ao nível das ciências que apoiam o treino desportivo. Há um avanço muito grande", sublinhou o perito que trabalha na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) com as seleções de futsal masculina e feminina.
E rematou: "Todos estes fatores são extremamente importantes em termos do treino desportivo. E, quando estamos a falar de um acontecimento da magnitude que tem o ser campeão nacional, até em termos financeiros, tudo faz ainda mais sentido porque qualquer um deles pode fazer a diferença entre o alcançar, ou não, o objetivo".
Por último, Jorge Silvério assinalou ainda a importância do apoio dos adeptos para a concretização dos objetivos das equipas, considerando que devem "apoiar ao máximo" mas também saberem "sofrer um bocadinho", sempre com desportivismo.
Leia Também: O sintoma de ansiedade que pode ser mais comum do que pensa