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Movimentos antivacinas ganharam fôlego. "Portugal não foi imune"

A propósito da Semana Mundial da Imunização, promovida pela Organização Mundial da Saúde e que, este ano, se realiza entre os dias 24 e 30 de abril, falámos com Carlos Carneiro, coordenador do departamento de doenças autoimunes do grupo HPA Saúde. O especialista em medicina interna explica a importância da imunização ao longo da vida.

Movimentos antivacinas ganharam fôlego. "Portugal não foi imune"
Notícias ao Minuto

09:40 - 28/04/23 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle Entrevista

Mais de 1,5 milhões de mortes poderiam ser evitadas melhorando a cobertura de vacinação global, segundo a Vaccines Europe. Os dados mostram também que, atualmente, a imunização através da vacinação salva, anualmente, até cinco milhões de vidas em todo o mundo ao prevenir doenças infecciosas, o que demonstra a importância da imunização ao longo da vida

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, Carlos Carneiro, especialista em medicina interna e coordenador do departamento de doenças autoimunes do grupo HPA Saúde, defende uma mudança de paradigma. "É normal que as pessoas associem a vacinação às crianças. No entanto, têm vindo a ser desenvolvidas vacinas para a idade adulta", lembra, alertando para a necessidade de reforçar a aposta na prevenção, nomeadamente para contrariar o retrocesso global nas taxas de vacinação devido à pandemia de Covid-19.

Notícias ao Minuto © Carlos Carneiro

"Nos últimos anos, na Europa e nos Estados Unidos da América, os movimentos antivacinas começaram a ganhar espaço" e "Portugal não foi imune a esta tendência" negacionista. Ainda assim, o médico afirma que "a taxa de vacinação e de confiança continua elevada", pelo que "temos de desmontar mitos completamente infundados e sublinhar a importância e segurança da vacinação".

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Para Carlos Carneiro, é necessário "fazer da literacia em saúde um desígnio nacional", para que "a promoção do conhecimento possa minimizar os riscos da ignorância." 

Em termos históricos [a vacinação] já salvou mais vidas do que antibióticos ou de qualquer outra intervenção. 

Qual a importância da imunização, nomeadamente em indivíduos mais velhos?

É normal que as pessoas associem a vacinação às crianças. No entanto, têm vindo ser desenvolvidas vacinas para a idade adulta. O que temos de fazer é mudar o paradigma e apostar na prevenção.

As vacinas garantem uma proteção para toda a vida?

Digamos que a vacinação é um dos grandes avanços da história da medicina e em termos históricos já salvou mais vidas do que antibióticos ou de qualquer outra intervenção. Os seus benefícios são vastos e comprovados cientificamente, permitindo mudar a forma como a comunidade científica dá resposta as necessidades de saúde de toda a população.

Dispomos, atualmente, de vacinas para a prevenção de mais de quantas doenças? Quais os avanços feitos em Portugal e como tem sido a evolução da cobertura vacinal?

O Plano Nacional de Vacinação iniciou-se a 4 de outubro de 1965. A evolução do mesmo envolveu a introdução progressiva de novas vacinas de forma faseada e programada, bem como a atualização dos esquemas de vacinação tendo em conta fatores epidemiológicos, assim como a evolução tecnológica e do conhecimento científico. Inicialmente, era constituído por cinco vacina. Hoje, integra 13 vacinas, tendo sido introduzidas atualizações ao plano de vacinação em 2020. No entanto, existem ainda vacinas extra plano recomendadas mediante prescrição médica, de acordo com o indivíduo, como a vacina da gripe, por exemplo. De acordo com o Plano Nacional de Vacinação, existem várias vacinas que podem ser administradas na idade adulta. A vacina do tétano é administrada conjuntamente com a da vacina de difteria com intervalos de 20 em 20 anos até aos 65 anos e depois dessa idade de 10 em 10 anos. Temos vacinas específicas para viajantes e temos duas vacinas contra infeções por Streptotococus pneumoniae e, mais recentemente, contra o herpes zoster. Por último, não nos podemos esquecer da importância da vacina da gripe, que deve ser feita anualmente, atendendo à mudança continua do vírus Influenza.

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A importância da existência de uma vacina contra o herpes zoster é reconhecida por inúmeros especialistas. Contudo, até ao momento, não existem recomendações para a administração da vacina contra a zona na população envelhecida em Portugal. 

Há uma diferença substancial entre a prescrição individual, que se baseia na apreciação da segurança/eficácia de determinada vacina e de fatores de ordem clínica e a vacinação universal a ser incluída no Plano Nacional de Vacinação. O custo-efetividade, bem como a avaliação dos benefícios versus riscos devem ser ponderados em determinados grupos etários e populações de risco. Penso que com a evidência científica alicerçada no 'real evidence experience' caminharemos para atualização das recomendações da toma desta vacina face à prevalência desta patologia.

A elevada taxa de cobertura vacinal e de imunidade foi a grande responsável pela situação de quase normalidade que temos vivido nos últimos meses em Portugal e no resto do mundo

Quando a cobertura vacinal numa população é elevada, estamos perante aquilo a que chamamos de imunidade de grupo. O que é exatamente e quais os benefícios?

A importância da vacinação vai muito além das vantagens para a própria pessoa que ganha imunidade contra a doença, pois as vacinas permitem proteger toda a população, mesmo aqueles que não são vacinados. A isto chama-se 'imunidade de grupo'. Acontece quando há um número considerável de pessoas vacinadas numa determinada população e assim se consegue reduzir a incidência da doença. Ou seja, quanto mais pessoas estiverem imunizadas maior será a proteção geral contra essa doença. Menos mortes e menos doentes crónicos são alguns dos benefícios diretos, mas também maior esperança média de vida e melhores condições de saúde e bem estar.

A UNICEF alertou recentemente que a perceção pública da importância das vacinas infantis caiu durante a pandemia em 52 de 55 países analisados, incluindo Portugal, que registou uma diminuição de 6,5%. Como comenta estes dados?

A pandemia aumentou a consciencialização das pessoas para a vacinação. Foi sem dúvida uma mudança de paradigma em que várias pessoas viveram o luto de um ente querido ou conheceram alguém que passou por algo semelhante. Nos últimos anos, na Europa e nos Estados Unidos da América, os movimentos antivacinas começaram a ganhar espaço. Portugal não foi imune a esta tendência. Ainda assim, a taxa de vacinação e de confiança continua elevada. Temos de desmontar mitos completamente infundados e sublinhar a importância e segurança da vacinação. Há, todavia, bolsas de migrantes que tornam difícil a convocação para a vacinação e grupos residuais que recusam a vacinação.

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Que análise faz da situação em Portugal?

Um bom exemplo do impacto da vacinação em Portugal é a redução do excesso da mortalidade, como comprovam os dados públicos do Eurostat.

Na sua opinião, faria sentido estabelecer a obrigatoriedade da vacinação?

A vacinação contribuiu para uma espécie de solidariedade intergeracional. A maioria das vacinas previstas no Programa Nacional de Vacinação são administradas na infância, para que a menor circulação do agente infecioso na comunidade possa proteger outras populações nomeadamente os idosos que, por norma, são mais vulneráveis e portadores de outras comorbilidades. Temos de apostar em campanhas nas creches, nas escolas, junto das famílias e dos cuidadores. Por outras palavras, fazer da literacia em saúde um desígnio nacional de forma a que a promoção do conhecimento possa minimizar os riscos da ignorância. Os direitos, liberdades e garantias individuais não se devem sobrepor ao bem comum. As pessoas devem ter o direito de recusar as vacinas desde que assumam e estejam informadas das consequências dos seus atos.

O efeito protetor das vacinas mostra-se largamente superior ao risco dos seus efeitos secundários

Em 2019, a hesitação vacinal foi considerada pela Organização Mundial de Saúde uma das 10 maiores ameaças à saúde mundial. O que diria a uma pessoa antivacinas? Que argumentos utilizaria para convencê-la da importância da vacinação?

A elevada taxa de cobertura vacinal e de imunidade foi a grande responsável pela situação de quase normalidade que temos vivido nos últimos meses em Portugal e no resto do mundo. A investigação de muitos anos permitiu desenvolver e aperfeiçoar a tecnologia do RNA mensageiro e desenvolver uma vacina [contra a Covid-19] em tempo recorde, o que permitiu uma monitorização das entidades reguladoras do medicamento de forma constante, corroborando a sua eficácia e segurança.

Quais os principais mitos sobre vacinas que importa desmistificar? 

A vacinação de cada indivíduo contribui para a proteção do próprio e do coletivo. A decisão em causa deve ser alicerçada no conhecimento e na ciência e não em mitos. O mais relevante é que o efeito protetor das vacinas mostra-se largamente superior ao risco dos seus efeitos secundários. Todos os fármacos têm efeitos secundários, as vacinas não são exceção. Apesar de as taxas de vacinação em Portugal serem 'das mais altas da Europa', o valor investido em prevenção ainda está muito aquém daquele que é utilizado na média dos países europeus. Nesse sentido, temos de aumentar essas taxas de cobertura de vacinação, pois só através da prevenção evitam-se custos associados à hospitalização.

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