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Quase 300 mil portugueses têm anosmia. Sabe o que é? Cheira-nos que não

E quando o nariz falha? No Dia Mundial da Anosmia, que se assinala esta segunda-feira, 27 de fevereiro, o Lifestyle ao Minuto falou com o otorrinolaringologista João Carlos Ribeiro, professor na Faculdade Medicina de Coimbra, que não deixa nada por esclarecer sobre esta terrível doença.

Quase 300 mil portugueses têm anosmia. Sabe o que é? Cheira-nos que não
Notícias ao Minuto

11:54 - 27/02/23 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle Entrevista

Mascarada pelos sintomas aparentemente 'normais' de uma constipação, a anosmia afeta cerca de 300 mil portugueses, sobretudo aqueles que sofrem de polipose nasal, uma doença benigna crónica com uma prevalência de cerca de 12% em Portugal, que provoca o desenvolvimento de pólipos nasais (pequenos tumores benignos). Porém, é ainda uma condição desconhecida por muitas pessoas, incluindo os próprios doentes, muitos deles alvo de vários diagnósticos incorretos.

"Muitas pessoas não sabem, mas mais de metade dos casos de anosmia correta e precocemente diagnosticados podem ser tratados. Mesmo nos restantes casos, os sintomas e consequências da perda olfativa podem ser minorados com cuidados e tratamentos específicos", afirma o otorrinolaringologista João Carlos Ribeiro, professor na Faculdade Medicina de Coimbra, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, a propósito do Dia Mundial da Anosmia, que se assinala esta segunda-feira, 27 de fevereiro.

Sublinha ainda que "é muito importante um diagnóstico precoce de uma anosmia". "Quando mais precoce, maior a probabilidade de sucesso."

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A perda de olfato ganhou destaque com a pandemia de Covid-19, mas a sua causa pode ser bem diferente. O que é a anosmia?

Anosmia é a perda completa do sentido de olfato. Cerca de 300 mil  portugueses não têm olfato. Mas podemos ter outro tipo de alterações do olfato. Por exemplo, hiposmia é a diminuição parcial do olfato. Já numa parosmia os odores são distorcidos e a intensidade pode estar alterada. Numa fantosmia a pessoa acredita que está a cheirar um odor que não existe.

Como 80% do paladar é devida ao sentido de olfato, uma anosmia altera significativamente o prazer em comer e beber

Cada vez mais os testes de olfato ajudam a diagnosticar muito precocemente doenças neurodegenerativas como Parkinson, esclerose múltipla e demências, incluindo Alzheimer. A hiposmia numa doença de Parkinson é um sintoma precoce, que precede até oito anos os sintomas motores. Para além de ajudar no diagnóstico, a alteração do olfato correlaciona-se com a gravidade da doença de Parkinson, funcionando como um preditor prognóstico da doença. Doenças como a esquizofrenia, depressão e do espectro do autismo estão associadas a disfunções do olfato.

Quais as causas?

Uma anosmia pode resultar de um traumatismo craniano, de um problema nas fossas nasais como a polipose nasal, quimioterapia, exposição a solventes ou de uma infecção respiratória superior, como a Covid-19. 

Além de ser uma doença desconhecida por muitas pessoas, incluindo nos próprios doentes, que só tem conhecimento do que é após o diagnóstico, o impacto negativo desta condição também é pouco percecionado pela sociedade. Como é que a condição afeta os doentes e a sua qualidade de vida? Quais as principais queixas?

A anosmia condiciona a alteração do paladar. Como 80% do paladar é devida ao sentido de olfato, uma anosmia altera significativamente o prazer em comer e beber. As pessoas com anosmia comem por necessidade, não por prazer. Isso leva frequentemente a uma perda ou ganho exagerado de peso com consequências para a saúde do individuo. Além disso, um doente com anosmia não distingue os alimentos estragados, pelo que estão mais frequentemente em risco de intoxicações alimentares. Ou então descartam comida em bom estado por não terem a certeza de que está comestível. Estes doentes não cheiram o gás ou fumo, podendo colocar a sua vida e dos seus em perigo. Devido à relação direta entre o olfato e a memória, observa-se ainda uma mais rápida deterioração cognitiva, torna-se mais difícil relembrar episódios passados e estudos internacionais reportam uma mortalidade em idades mais precoces. São doentes mais propensos a depressão e isolamento social. A insegurança na sua própria higiene condiciona muito frequentemente ansiedade e episódios de pânico ou desinteresse.

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É fácil chegar ao diagnóstico?

Existem múltiplas formas de diagnosticar os problemas de olfato. Depois de uma história clínica cuidada, devemos realizar uma endoscopia nasal e testes olfativos. Podemos efetuar testes de função nasal como PNIF (peak nasal inspiratory flow) ou rinomanometria acústica, assim como testes de imagem onde incluímos ressonâncias magnéticas estruturais e funcionais. Estes testes ajudam o especialista a diagnosticar a causa para o problema e a encontrar a melhor forma de resolver ou melhorar o problema.

A endoscopia nasal é um procedimento médico que se realiza para examinar o interior das fossas nasais e seios perinasais. Utiliza-se um endoscópio nasal que é um tubo delgado com uma câmara na ponta, para obter uma imagem detalhada da área examinada. O procedimento é realizado no consultório, e o médico e o doente podem observar o que se está a fazer nos monitores acoplados ao endoscópio. Se se encontrar alguma alteração, pode-se realizar biópsia sob anestesia local para análise. A endoscopia nasal é muito útil para o diagnóstico, e mesmo tratamento, de causas de anosmia nasais e perinasais, como a sinusite, rinite alérgica, polipose nasal, tumores nasais e obstruções nasais. O procedimento é seguro e muito bem tolerado.

Os testes de olfato são exames feitos para avaliar a capacidade de uma pessoa detectar e distinguir odores. Existem vários tipos de teste de olfato disponíveis, que variam no seu desenho e método de administração. São realizados testes de limiar, discriminação, identificação e memória, incluídos em canetas ou cartões onde se raspa destapando odores específicos. Na prática clínica utilizamos mais frequentemente os testes em canetas validados para a população portuguesa. Isto é importante porque o sentido de olfato está intimamente ligado à cultura e memória olfativa de um povo. Estes testes ajudam-nos muito a orientar o diagnostico e avaliar o tratamento. Por exemplo, os testes de limiar olfativo permitem-nos suspeitar de uma doença nasossinusal como a polipose nasal, ou a avaliar o sucesso do tratamento com medicamentos biológicos onde os doentes habitualmente recuperam o olfato. Por outro lado, os testes de olfato supraliminares ajudam-nos a efetuar o diagnóstico de doenças como Parkinson ou Alzheimer. Os exames de imagem são muito úteis para o estudo de doentes com queixas de anosmia.

Mais de metade dos casos de anosmia correta e precocemente diagnosticados podem ser tratados

A tomografia computadorizada é utilizada em doentes com sinusite crónica e polipose nasossinusal. A ressonância magnética estrutural e a ressonância magnética funcional são exames com múltiplas indicações no estudo do olfacto, como por exemplo, em casos de anosmia congénita, traumatismos crânio encefálicos ou anosmias idiopáticas. Permitem analisar os volumes dos bolbos olfactivos, a altura dos sulcos olfactivos e a ativação de áreas olfativas primárias e secundárias. Uma ressonância magnética permite avaliar a probabilidade do sucesso da inclusão de um doente num programa de reabilitação olfativa.

Que terapêuticas existem para melhorar a vida destas pessoas?

Muitas pessoas não sabem, mas mais de metade dos casos de anosmia correta e precocemente diagnosticados podem ser tratados. Mesmo nos restantes casos, os sintomas e consequências da perda olfativa podem ser minorados com cuidados e tratamentos específicos. O tratamento da anosmia depende da correta identificação da causa subjacente. Em alguns casos, a anosmia pode ser temporária e resolver por si só, sem necessidade de tratamento. Mas na maioria dos casos, anosmia é persistente e requer um tratamento específico. Se a anosmia de dever a uma infeção nasal, o tratamento pode incluir antibióticos e outros medicamentos para reduzir a inflamação. Se devida a obstrução por polipose nasossinusal, pode requerer tratamento endoscópico nasossinusal e tratamento com os novos medicamentos biológicos. Em muitos casos, o treino olfativo tem elevadas taxas de sucesso. Este tratamento implica a exposição a odores específicos para estimular e treinar o sistema olfativo por forma a melhorar a capacidade de detectar e discriminar odores.

Porém, nem todos os casos de anosmia são curáveis... 

Sim. Em alguns casos, como nas lesões do nervo olfativo ou na destruição de células olfativas, o tratamento pode centrar-se na gestão dos sintomas, com consequente melhoria da qualidade de vida do doente. É muito importante um diagnóstico precoce de uma anosmia. Quando mais precoce, maior a probabilidade de sucesso.

Que mensagem gostaria de deixar a estes doentes?

Mesmo quando não há cura, consegue-se melhora-se a qualidade de vida de um doente com anosmia.

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