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Médico explica: É possível ter uma 'vida normal' com esclerose múltipla

Em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, no âmbito da rubrica 'Médico explica', a médica especialista Sónia Baptista fala sobre o impacto da atrofia cerebral no dia a dia dos doentes, a importância de aumentar as reservas cognitivas e de desenvolver exercícios para estimular o cérebro.

Médico explica: É possível ter uma 'vida normal' com esclerose múltipla
Notícias ao Minuto

07:48 - 23/08/22 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle Médico explica

A Organização Mundial da Saúde estima que, em todo o mundo, existam cerca de 2,5 milhões de pessoas diagnosticadas com esclerose múltipla (EM), oito mil das quais em Portugal. Esta doença crónica incapacitante é uma reação do sistema imunitário que, por razões desconhecidas, ataca o próprio organismo, destruindo a mielina, uma camada de gordura que reveste as fibras nervosas. 

Segundo a neurologista  Sónia Baptista, os danos causados pela EM podem acelerar o processo de atrofia cerebral, mesmo quando tudo parece bem, e assumir o controlo da vida de quem dela padece. "No dia a dia, as pessoas com mais atrofia cerebral podem ter mais dificuldades na marcha e destreza manual, alterações cognitivas como esquecimentos frequentes, défice de atenção, lentificação e dificuldades no raciocínio e planeamento de atividades", explica a especialista, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto

Ainda  que a doença não tenha cura, Sónia Baptista alimenta a esperança de que é possível impedir a sua progressão. "Recomendam-se hábitos de vida saudável", desde logo porque são meio caminho andando para melhorar as possibilidade de tratamento. "É possível estabilizar a doença e manter 'uma vida normal' em todas as suas dimensões", reitera.

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Antes de mais, o que é a esclerose múltipla?

Trata-se de uma doença inflamatória crónica do sistema nervoso central, mediada pelo sistema imunitário que tem como alvo principal a mielina dos neurónios. Por isso, é também conhecida como uma doença desmielinizante. 

Notícias ao Minuto  Sónia Baptista© DR

Quais as causas?

É uma doença com causa multifatorial. Isto é, resulta da combinação de fatores genéticos e ambientais. Ou seja, a doença ocorrerá numa pessoa que tem um determinado património genético que lhe condiciona suscetibilidade para vir a desenvolver a doença, mas é igualmente necessário que esse indivíduo se exponha a alguns  fatores ambientais: tabagismo, obesidade em idade infantil/adolescência, défice de vitamina D, infeção pelo vírus Epstein Barr. 

Qual a prevalência da doença no mundo e em Portugal?

De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que existam cerca de 2,5 milhões de pessoas com esclerose múltipla no mundo. A prevalência da doença é muito heterogénea e varia significativamente consoante a área geográfica. É, por exemplo, muito elevada nos países mais afastados do Equador. O caso dos países nórdicos. Em Portugal, os últimos estudos apontam para valores entre os 50 a 60 por cada 100 mil habitantes. 

A doença surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade

Afeta ambos os sexos de igual modo?

Não. A doença afeta mais frequentemente o sexo feminino numa proporção que varia de 2:1 a 3:1, ou seja, duas a três mulheres por cada homem afetado.

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Quais os primeiros sinais de alerta da doença?

Os primeiros sintomas da doença podem ser muito variáveis, mas os mais comuns são as alterações visuais, as alterações da sensibilidade e as alterações motoras. Geralmente duram alguns dias a semanas, muitas vezes com melhoria espontânea, não devendo ainda assim ser desvalorizados. 

Manifestam-se a partir de que idade?

A doença surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos de idade, ou seja, é uma patologia tipicamente dos jovens adultos. 

Quais os impactos da atrofia cerebral no dia a dia dos doentes? E as consequências ao nível  do bem-estar e relações?

A atrofia cerebral está associada a um risco superior de incapacidade motora e de manifestações cognitivas. Ou seja, no dia a dia, as pessoas com mais atrofia cerebral podem ter mais dificuldades na marcha e destreza manual, alterações cognitivas como esquecimentos frequentes, défice de atenção, lentificação e dificuldades no raciocínio e planeamento de atividades. Adicionalmente, podem ainda notar-se alterações no comportamento social que podem afetar negativamente as relações com as pessoas que rodeiam o doente, incluindo familiares, amigos e colegas de trabalho. 

Qual a importância do aumento da Reserva Cognitiva?

A Reserva Cognitiva refere-se ao enriquecimento intelectual ao longo da vida e associa-se a uma maior capacidade do nosso cérebro de improvisar e encontrar formas alternativas de fazer uma determinada tarefa. Por outras palavras, confere proteção contra o envelhecimento e as lesões cerebrais. No caso concreto da esclerose múltipla, em dois doentes que apresentem o mesmo grau de lesão cerebral, aquele com maior reserva cognitiva irá tolerar melhor o dano cerebral e apresentar menos manifestações clínicas. 

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Como tal, o que deve ser feito?

Devem ser implementadas estratégias para enriquecimento intelectual, nomeadamente participação em atividades de lazer estimulantes do ponto de vista cognitivo como a leitura, aprendizagem de um idioma, por exemplo, tentar manter-se profissionalmente ativo sempre que possível e evitar o isolamento social. 

Existem muitos tratamentos disponíveis e é possível estabilizar a doença e manter 'uma vida normal' em todas as suas dimensões

Quais os passos que devem ser dados no futuro para promover a qualidade de vida destes doentes? Exercícios para estimular o cérebro?

Um passo fundamental para promover e manter a qualidade de vida dos doentes a longo prazo é, sem dúvida, iniciar e manter o tratamento farmacológico que é proposto pelo médico. Adicionalmente, recomendam-se hábitos de vida saudável, nomeadamente a evicção do tabagismo, praticar exercício físico, dieta saudável e prevenção/tratamento de outras doenças como a hipertensão arterial, diabetes e hipercolesterolémia. Todas as atividades que estimulem cognitivamente o cérebro, como a leitura, viagens, idas ao teatro e cinema, são benéficas.

O que importa desmistificar sobre a doença?

Que um doente com esclerose múltipla irá ficar necessariamente incapacitado e impossibilitado de realizar os seus sonhos. Felizmente, existem muitos tratamentos disponíveis e é possível estabilizar a doença e manter 'uma vida normal' em todas as suas dimensões: profissional, familiar e social. 

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