É um momento que a maioria de nós já experienciou. Estamos a mastigar pastilha elástica despreocupadamente quando de repente, e sem intenção, a engolimos. E é então que aquela ‘cantilena’ que ouvíamos durante a infância nos vem novamente à cabeça: ‘não engulas pastilhas – ficam presas no estômago durante sete anos!’. Enquanto aquela massa de menta é sugada pelo abismo que é o sistema digestivo, pergunta-se: ‘O que fiz eu!?’.
Sossegue – aparentemente este mito que perdura há décadas, e de origem incerta, mas praticamente universal, tem quase ou nenhuma base científica.
“Não é verdade, e faço essa afirmação com completa certeza”, garante o gastroenterologista pediátrico norte-americano, David Milov, médico na clínica Nemours Children’s, em Orlando, em declarações à revista Scientific American.
Se a lenda fosse verdade, como Milov explica, “isso significaria que cada pessoa que alguma vez já engoliu pastilha elástica teria durante sete anos aquela substância algures no seu sistema digestivo, e tal seria visível ou detetável através de exames médicos”, porém a realização de procedimentos de colonoscopia e de endoscopia não revelaram quaisquer provas de tal acontecer. “Ocasionalmente vemos uma pastilha , mas regra geral é algo que ali está há uma semana no máximo”.
De acordo com Rodger Liddle, um gastroenterologista na Escola de Medicina, da Universidade de Duke, “nada é capaz de permanecer no organismo durante tanto tempo, a não ser que o seu tamanho fosse tão grande que o estômago não conseguisse expulsá-lo ou ficasse preso no intestino”.
Então o que terá acontecido a todas aquelas pastilhas elásticas que já engolimos?
Ao que parece, nada de especial… alguns dos componentes, tais como os açúcares, são digeridos, contudo a maioria das substâncias que compõe a pastilha são indigeríveis.
Sem surpresa, ou não, o corpo humano não consegue fazer muito com estas mistelas de borracha, resilientes como são. Milov explica: “Provavelmente demoram mais tempo a passar através do trato digestivo, comparativamente aos outros alimentos, mas eventualmente são expulsas e saem do organismo quase intactas”.