Descongelamento de carreiras. "O país não tem novas prioridades?"
"Ou bem que essa recuperação é para todos ou não pode ser só para alguns", disse ainda Manuela Ferreira Leite esta quinta-feira no seu espaço de comentário na antena da TVI 24.
© Getty Images
Economia Ferreira Leite
O plano de descongelamento de carreiras tem sido marcado por dúvidas e debate, nomeadamente com as reivindicações de professores para que conte todo o tempo de serviço. Manuela Ferreira Leite, porém, deixa o alerta de que não é possível voltar tudo a ser como era.
No espaço de uma semana, desde o seu comentário anterior na antena da TVI 24, “o que mudou foi a tomada de consciência de que, se queremos recuperar aspetos que foram perdidos aquando das medidas da troika, ou bem que essa recuperação é para todos ou não pode ser só para alguns”.
“Acho que as pessoas têm de estar todas conscientes, e julgo que estão todas conscientes, que o país passou por uma crise em que efetivamente empobreceu. Ficámos todos mais pobres”, e tal aconteceu em vários sentidos, não apenas diretamente na carteira, explicou.
“Os serviços públicos degradaram-se, os jovens emigraram, as pessoas perderam o emprego, ficámos com menos empresas com capital português, o país empobreceu”, resumiu.
“A seguir”, acrescentou, “é evidente que [a situação] melhorou”. Houve “algumas medidas que retiraram aspetos excessivos em relação a determinados aspetos”, no que será uma referência a excessos de austeridade, e “a conjuntura internacional melhorou”, permitindo a recuperação económica de Portugal.
Porém, alertou a antiga líder social-democrata, “temos todos de nos convencer que, perante uma doença, nós estamos em convalescença”. E isso significa “que estamos melhores mas que temos que ter muita prudência”. “E mesmo que fiquemos curados, ficamos com cicatrizes”. Explicando de seguida a metáfora, a antiga ministra das Finanças deu um exemplo genérico de uma pessoa que perdeu o emprego nos tempos da troika e que já tem novo emprego, mas um pior do que o que perdeu no passado.
“Nós podemos melhorar e estamos a melhorar, mas não é fácil recuperar a situação inicial” - alertou numa referência ao debate em torno do descongelamento de carreiras. Até porque “enquanto Portugal empobreceu”, outros países enriqueceram.
Manuela Ferreira Leite acrescentou ainda que foi criada esta “ilusão” de que seria possível voltar aos valores anteriores, algo para qual, na sua perspetiva, o Governo também terá contribuído. Recorde-se que António Costa esta semana afirmou também que seria uma “ilusão achar que podemos voltar ao ponto antes da crise”.
As pessoas foram “efetivamente prejudicadas com o descongelamento de carreiras” como foi quem perdeu emprego ou casa, comparou. “Agora vamos admitir a hipótese, teórica, de que efetivamente havia disponibilidade para fazer isso tudo. O país não tem novas prioridades? É isso que me preocupa. O país tem novas prioridades”, como a resposta à seca, à tragédia dos incêndios e à desertificação do Interior do país.
“Ao haver novas prioridades, alguma coisa tem que ser sacrificada. Recuperarmos tudo o que há para trás e não ficar ninguém lesado pelas medidas que foram tomadas… e onde é que estão as novas prioridades”. Serão “feitas à conta de novos impostos?”, questionou.
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