Em declarações à agência Lusa, o empresário do grupo com sede em Felgueiras e que tem um polo em S. João da Madeira disse que o que está a ser proposto aos "cerca de 20" trabalhadores das duas empresas ali existentes é que, "conforme vão terminando os contratos" dos que estão afetos à atual filial da Carité, estes passem para a congénere Brada, que funciona num pavilhão contíguo e pertence ao mesmo proprietário.
"Existem dois pavilhões geminados: num deles está uma filial da Carité e na outra uma empresa de nome Brada, do mesmo proprietário. Como as coisas não estavam a funcionar, porque havia alguma confusão por estarem as duas a trabalhar debaixo do mesmo teto, vamos manter só a Brada e, conforme vão terminando os contratos, está a ser proposto aos trabalhadores mudarem de uma empresa para a outra", explicou.
Contudo, assegurou à Lusa Reinaldo Teixeira, "para os trabalhadores não muda nada, é-lhes dada uma declaração que lhes assegura os mesmos direitos e a antiguidade", e "toda a gente percebeu e aceitou de livre vontade".
"Está mais preocupado o Bloco de Esquerda [BE] do que as pessoas que lá estão. Ao terminarem o contrato, se quiserem mudam para a Brada, se não quiserem não precisam de ficar, a empresa paga-lhes os direitos todos e eles vão embora", acrescentou.
No domingo, o BE informou que o seu grupo parlamentar questionou o Governo, numa pergunta escrita dirigida ao ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, sobre a alegada "pressão" que estará a ser exercida pelo grupo de calçado Carité, em S. João da Madeira, para que os trabalhadores rescindam contrato com a empresa.
Os bloquistas referem que a administração da Carité "tem estado a usar várias formas de pressão psicológica e outra sobre as cerca de três dezenas de trabalhadores que ali estão empregados para que assinem a rescisão de contrato e assinem um contrato de trabalho com outra empresa".
Uma 'nova' empresa que, dizem, "apenas o será juridicamente, uma vez que se situará nas mesmas instalações".
"As várias formas de pressão utilizadas sobre os trabalhadores parecem prefigurar uma prática de assédio moral. E os objetivos dessa pressão devem merecer as maiores dúvidas. Por que razão quer a entidade patronal mudar o nome da empresa, obrigando os trabalhadores a abdicar dos seus direitos e interesses?", questiona o BE.
Relembrando que o proprietário do grupo Carité "por diversas vezes apareceu na comunicação social intitulando-se como um 'empreendedor de referência'", tendo tido "o apoio explícito de membros do anterior Governo, nomeadamente do seu vice-primeiro ministro", e beneficiado "de apoios financeiros através de fundos europeus", o Bloco considera que "situações como estas são inadmissíveis e demonstram a necessidade de uma alteração à legislação laboral".
Adicionalmente, sustenta, impõe-se que, "no imediato, o Governo e outras entidades, nomeadamente a ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho], intervenham nesta situação, protegendo os trabalhadores e os seus direitos laborais".
Na pergunta dirigida ao executivo, o BE questiona se o ministro Vieira da Silva "tem conhecimento da situação relatada" e de alguma inspeção realizada pela ACT na empresa, interrogando-se ainda sobre "que medidas pretende o Governo adotar para colocar um fim às práticas de assédio moral por parte desta empresa" e para "proteger e defender os direitos laborais dos trabalhadores".