Programa da troika foi "desajustado" e causou "dor"

O presidente do Conselho Económico Social (CES), Silva Peneda, considerou que o programa da 'troika' foi "desajustado" e causou "muita dor" aos portugueses, na medida em que trouxe à tona "uma obsessão" sobre o controlo do défice orçamental.

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Lusa
07/02/2015 12:38 ‧ 07/02/2015 por Lusa

Economia

Silva Peneda

"Nós sabíamos que este programa ia ter muita dor e não é possível fazer um programa destes de ajustamento tão forte sem alguma dor, agora, julgo que a dor foi mais do que proporcional ao ajustamento e houve fragilidades que têm a ver com a ignorância e com o pouco conhecimento que os representantes da 'troika' [Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia] tinham da economia portuguesa", disse Silva Peneda em entrevista à agência Lusa.

Silva Peneda, que está de saída do CES e se prepara para assumir um cargo na Comissão Europeia, a partir de 01 de maio, reconheceu que foi sempre muito crítico relativamente ao programa de ajustamento e à forma como este foi desenhado.

"Houve um erro da conceção do programa e eu talvez tenha sido a primeira pessoa que falou de um programa mal desenhado. Nessa altura fui muito criticado mas passado algum tempo o primeiro-ministro confirmou essa expressão", afirmou.

O presidente do CES assenta o seu ponto de vista "na machadada que foi dada na classe média em Portugal que, praticamente, desapareceu".

O antigo ministro do Emprego do Governo de Cavaco Silva reconhece que o programa da 'troika' "nasceu com umas condições políticas excecionais, muito favoráveis", uma vez que 80% dos deputados apoiavam o programa e "a própria concertação social fez um acordo tendo por base o programa da 'troika'".

Mas, "à medida que as coisas foram correndo, veio ao de cima uma obsessão sobre o controlo do défice orçamental", o que Silva Peneda lamenta, pois tal obsessão gerou desequilíbrios.

"Eu costumo dizer que as sociedades são muito complexas e para elas funcionarem é preciso ter vários equilíbrios e quando tentamos atacar um dado desequilíbrio à bruta, de uma forma muito intempestiva e direcionada só para esse objetivo, não reparamos que estamos a criar outros desequilíbrios e esses depois vão demorar muito tempo e vão ser muito difíceis de corrigir", salientou o presidente do CES.

Silva Peneda admitiu ter gerido "essa obsessão com muito dogmatismo", uma vez que aqueles que partem do princípio de que "com um choque muito forte depois renasceria das cinzas uma economia fluorescente, é uma teoria que não tem qualquer adesão à realidade", conforme o demonstrou a carta do ministro das Finanças Vitor, Gaspar, quando se demitiu.

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