"É bom aproveitar esta oportunidade para quebrar alguns mitos, nomeadamente mitos urbanos, que é o mito que temos turistas a mais. Não há turistas a mais em Portugal, existe pressão, sim, nalguns casos sobre os recursos", afirmou Pedro Machado.
O governante falava em Cascais, na apresentação da candidatura da vila do distrito de Lisboa a cidade criativa da gastronomia da UNESCO (na sigla em inglês da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
Para Pedro Machado, o país precisa de ter uma "estratégia concertada" e a candidatura de Cascais é "seguramente espírito disso", porque atualmente "os processos de candidatura e até de reconhecimento e certificação" estão dependentes da preocupação com vários fatores, nomeadamente com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas.
O secretário de Estado explicou que quando fala em mito urbano significa que há regiões do país "que têm 50% de ocupação", o que representa "na prática, quantitativamente, que aqueles estabelecimentos têm seis meses sem atividade".
Apoiando-se nos números recorde do turismo em 2024 - mais de 30 milhões de turistas estrangeiros, 80 milhões de dormidas e acima de 27 mil milhões de euros de receita -, Pedro Machado salientou que é preciso "gerir melhor" os recursos, devido à pressão sobre os recursos hídricos, por exemplo, para que não se repitam dificuldades como as sentidas no Algarve em 2023 e 2024.
Em relação a Cascais, manifestou querer "estar ao lado" de uma candidatura que deve contribuir para "qualificar a experiência" turística, no que "significa aumentar os padrões de qualidade" da oferta e "crescer em valor", levando ao reconhecimento de que Portugal tem "uma diversidade extraordinária", e com "vantagem competitiva" para as comunidades e para o setor.
O representante do conselho consultivo da candidatura, José Bento dos Santos, referiu que o vereador presente de Santa Maria da Feira, lhe confirmou que a única cidade portuguesa até agora distinguida pela UNESCO na área da gastronomia, em 2021, "deu um impacto extraordinário ao desenvolvimento local e da gastronomia".
O gastrónomo destacou que a "nova gastronomia" assenta sobre requisitos cumpridos por Cascais, pois a matéria-prima, dos legumes ao pescado "garantem que se pode fazer os pratos mais saudáveis", "tudo o que é bom faz parte daquilo que é saboroso", a sustentabilidade passa pelo saco verde dos biorresíduos e, na solidariedade, apontou a organização de cozinha solidária local que recebeu vários prémios.
Para Bento dos Santos, "viver em Cascais é um privilégio", mas mais importante, visitar a vila e experimentar a sua gastronomia "não é uma vantagem, é uma distinção".
O vice-presidente da Câmara de Cascais, Nuno Piteira Lopes (PSD), explicou que a vila se candidata "com o objetivo de poder integrar uma rede de mais de 350 cidades", posicionando-se no topo dos apoiantes do "desenvolvimento sustentável" e reforçar a "sua posição enquanto município inovador" e "criativo".
O autarca sublinhou que Cascais assumiu "um compromisso com os 17 ODS definidos pela ONU, que compõem a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável" e a candidatura vai "permitir também um objetivo estratégico" de reforçar a cooperação entre municípios.
Segundo Piteira Lopes, ao integrar a rede de cidades, com culturas e gastronomias diferentes, a autarquia terá "uma elevada aprendizagem com aquilo que se faz de melhor em todo o mundo", mas permite também aos outros elementos da rede visitarem, trabalharem e aprenderem com Cascais.
A gastronomia, para o autarca, é um "pilar fundamental do turismo", mas também "um fator estratégico para desenvolvimento do concelho", com vista à criação de mais "postos de trabalho" e para "requalificar e valorizar o património gastronómico" e o "património cultural" do município.
A candidatura de Cascais deve ser apresentada até meados de fevereiro de 2025, e a UNESCO deve divulgar a sua decisão no início do Verão.
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