"No que respeita ao conflito entre Israel e Gaza, o que vimos em termos de impacto foi um aumento inicial dos preços do petróleo, mas isso foi já totalmente invertido, e também vimos isso na Europa [dado o inicial] aumento dos preços do gás natural em cerca de 10%. Portanto, o conflito até agora tem tido um impacto muito limitado na atividade das economias europeias do lado dos preços", declara o diretor do FMI para a Europa, Alfred Kammer, num encontro com jornalistas europeus em Bruxelas, incluindo a Lusa.
No dia em que o fundo divulga as perspetivas económicas regionais da Europa, Alfred Kammer afirma que "o impacto adicional dependerá da duração e da intensidade desse conflito".
"Portanto, se estamos a falar de um conflito localizado [e não regional], como o que vemos agora, então, nesta fase, o impacto é limitado na Europa", acrescenta.
De acordo com Alfred Kammer, "do lado dos preços da energia, isso é algo que já se materializou, mas não foi de forma dramática".
"Não estamos a ver [...] um corte na produção do petróleo da OPEP [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] e esse seria um cenário diferente", compara o responsável.
Ainda assim, assinalando os impactos do contexto geopolítico inicialmente verificados sobre os preços da energia, Alfred Kammer avisa que tal cenário "pode aumentar a inflação na Europa em geral".
Numa altura em que as economias europeias abrandam e em que se prevê apenas uma ligeira recuperação em 2024, o responsável admite que "os riscos em torno das previsões aumentaram", pela guerra da Ucrânia causada pela invasão russa e pelo aumento das tensões no Médio Oriente entre Israel e o Hamas.
"As estimativas rápidas do Produto Interno Bruto [PIB] sugerem que as economias da área do euro abrandaram no terceiro trimestre, confirmando, de um modo geral, a nossa previsão de um abrandamento substancial do crescimento este ano, seguido de uma ligeira recuperação em 2024. No entanto, os riscos em torno das nossas previsões aumentaram", especifica o responsável.
Em meados de outubro, o preço do gás europeu voltou a subir, após uma tendência de descida pós-pandemia e pós-crise energética, devido aos receios de um conflito mais alargado no Médio Oriente, dadas as tensões entre Israel e o grupo islamita terrorista Hamas.
Teme-se que um conflito mais generalizado na região possa colocar em risco os fluxos de gás natural liquefeito através do Estreito de Ormuz, por onde passa mais de um terço da produção mundial de petróleo, preocupações que levaram a subidas no preço do gás natural.
Uma situação semelhante verificou-se no ano passado, pela invasão russa da Ucrânia dado a Rússia ser um importante fornecedor de gás da UE (agora em menor escala), assim como países do Médio Oriente.
Há um ano, a componente energética era, aliás, a que mais pesava na inflação.
Neste encontro com a Lusa e outros meios europeus, Alfred Kammer apela ainda a um acordo em breve na União Europeia sobre a reforma das regras da governação económica, destacando a "discussão muito envolvida entre os Estados-membros".
"Essa discussão robusta é um bom sinal, mas também defendemos que essas discussões cheguem a uma conclusão" brevemente, adianta.
A posição surge quando se prevê a retoma destas regras orçamentais em 2024, após a suspensão devido à pandemia e à guerra da Ucrânia, com nova formulação apesar dos habituais tetos de 60% do PIB para a dívida pública e de 3% do PIB para o défice.
A discussão tem por base uma proposta da Comissão Europeia de trajetória técnica e personalizada para países endividados da UE, como Portugal, dando-lhes mais tempo.
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