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Moçambique. Economistas consideram "nociva" subida das reservas bancárias

Economistas moçambicanos consideraram hoje "nociva" para as empresas a decisão do banco central de aumentar os coeficientes de reservas obrigatórias, assinalando que a medida "não vai resolver" a espiral de inflação, porque esta "variável" é condicionada por "problemas estruturais".

Moçambique. Economistas consideram "nociva" subida das reservas bancárias
Notícias ao Minuto

14:41 - 05/06/23 por Lusa

Economia Moçambique

"Significa que [as empresas] vão pagar as suas dívidas com um custo muito maior" e esta medida "pode pôr em causa a rentabilidade e a continuidade das operações de muitas empresas, é a parte nociva que acompanha estas medidas de caráter restritivo", disse Egas Daniel, economista e coordenador do programa em Moçambique do International Growth Center (IGC) da London School of Economics.  

A rentabilidade dos investimentos de empresas "fica comprometida", sublinhou.

"Nenhuma empresa projeta fazer investimentos com base em empréstimos ou com base em financiamento bancário, num contexto em que as taxas de juro estão tão altas", enfatizou Egas Daniel.

Por outro lado, a sobrevivência de "alguns bancos pequenos" está em risco, acrescentou, porque têm de lidar com "apertos já extraordinários" impostos pelo regulador.

O economista manifestou dúvidas em relação ao argumento de que o excesso de liquidez está a provocar uma pressão inflacionista, defendendo que a alta de preços em Moçambique é causada por fatores estruturais, como a fraca produção e produtividade da economia.

O Banco de Moçambique "não encontra uma estrutura económica que permita que as medidas sejam eficazes", realçou.

Aquele economista apontou o "crónico recurso" às obrigações e bilhetes de tesouro pelo Estado, para o financiamento da despesa pública, como outro fator por detrás das elevadas taxas de juro.

"O setor público não contrai as suas despesas ao longo do tempo, elas têm um crescimento exponencial não acompanhado pelas receitas, o que gera maior défice que deve ser financiado pela própria banca", realçou.

O economista Elcídio Bachita considerou arriscada a decisão de subir os coeficientes de reservas obrigatórias impostas aos bancos comerciais.

"Eu diria que não é exatamente uma medida prudente", olhando para o estado da economia, comentou.

"Naturalmente que isto vai ter as suas repercussões", porque "os bancos comerciais vão ficar com menos recursos financeiros para financiar a economia", prosseguiu.

"Os bancos comerciais serão obrigados a aumentar as taxas de juro, vamos verificar uma subida daquilo que é a 'prime rate' do sistema financeiro nacional, acredito que no próximo mês ou, no máximo, até agosto", frisou.

O Banco de Moçambique "está a atuar de forma isolada", destacou Bachita, "sem se coordenar com outros atores da economia nacional, porque só as medidas monetárias não se estão a mostrar efetivas no combate à inflação".

Por seu turno, Estrela Charles, economista e investigadora do Centro de Integridade Pública (CIP), organização não-governamental moçambicana (ONG), considerou que o aumento dos coeficientes está votado ao falhanço, se for isolado e não atender ao caráter estrutural da dinâmica da inflação no país.

"Nós sabemos muito bem que a nossa inflação não é causada diretamente pela questão do excesso de liquidez na nossa economia, é uma inflação que é causada também do lado da oferta e do lado da produção", frisou Charles.

A decisão, prosseguiu, "não terá efeito algum se não for conciliada com a política fiscal".

Ao "enxugar" o dinheiro em circulação, quer em moeda nacional, quer em moeda estrangeira, o banco central poderá afetar negativamente a taxa de câmbio e criar um efeito contraproducente, encarecendo as importações e agravando os preços.

"O nosso país depende de importações e a taxa de câmbio é uma variável muito sensível para a nossa economia", realçou.

Em causa está o aumento das reservas obrigatórias que os bancos comerciais têm de manter junto do banco central: o regulador decidiu na quarta-feira subir os coeficientes para 39% dos passivos (caso dos depósitos) em moeda nacional e 39,5% no caso de moeda estrangeira.

Foi a segunda subida do ano, sendo que no início de 2023 eram de 10,5% e 11,% respetivamente.

A inflação homóloga em Moçambique desacelerou em abril para 9,6%, o valor mais baixo em 12 meses.

O banco regulador justificou a ação com a necessidade de "absorver a liquidez excessiva no sistema bancário, com potencial de gerar uma pressão inflacionária", mas a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) considerou na sexta-feira que a decisão vai tornar ainda mais caro contrair financiamento bancário, essencial numa economia de pequenas e médias empresas, que vão ter mais dificuldades.

Leia Também: Banco de Moçambique deixa de comparticipar importação de combustíveis

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