Sanções visam "causar um dano económico que obrigue a sociedade a reagir"

Convidado da 'Grande Entrevista' da RTP3, o Presidente da Associação Portuguesa de Bancos comparou as sanções aplicadas pelos países ocidentais à Rússia como uma forma "não bélica" de fazer guerra. Apesar do efeito ricochete, Vítor Bento acredita que as medidas estão a ser mais pesadas para os russos do que para os europeus.

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Notícias ao Minuto
06/04/2022 23:59 ‧ 06/04/2022 por Notícias ao Minuto

Economia

Vítor Bento

O Presidente da Associação Portuguesa de Bancos acredita que, apesar de "haver sempre um efeito de ricochete", o efeito das sanções económicas continuará a ser maior sobre a Rússia do que sobre os países ocidentais. 

Vítor Bento foi o convidado desta quarta-feira na 'Grande Entrevista' da RTP3', conduzida por Vítor Gonçalves, onde fez uma analogia entre as sanções económicas e as intervenções bélicas na guerra.

Para o especialista, a "economia tem vindo a tornar-se num teatro estratégico cada vez mais importante" e, no caso concreto do conflito na Ucrânia, está a ser utilizada como uma "alternativa ao envolvimento mais bélico internacional".

"Neste caso, deste conflito em particular, utilizou-se pela primeira vez uma artilharia muito pesada. É um fenómeno novo e é uma forma de intervir num conflito e causar um dano à outra parte. Neste caso, o dano não é necessariamente físico, como nas guerras, visa-se afetar as suas condições de sustentabilidade", referiu.

O Presidente da Associação Portuguesa de Bancos explica que a ideia das sanções à Rússia é "causar dano económico que obrigue a sociedade a reagir para se libertar desse dano."

Segundo o economista, o Ocidente goza da mais valia de que "as principais instituições que gerem a economia mundial são instituições ocidentais" e isso "dá-lhe um poder muito forte".

"As reservas cambiais de um país têm de estar aplicadas no estrangeiro e, como as principais instituições de acolhimento dessas reservas são ocidentais, isso cria uma vulnerabilidade maior em quem não tem esses ativos. A capacidade de criar dano é muito maior da parte do Ocidente", explicou.

Já a Rússia pode, de acordo com Bento, deixar de fornecer materiais "que podem ser essenciais às economias ocidentais", desde a energia a materiais fundamentais a certas industrias - "Esse é o elemento de contra-retaliação que pode haver do outro lado", sugeriu.

Ainda assim, "a dependência financeira da Rússia é maior do que a do Ocidente relativamente à Rússia".

Questionado sobre se a Rússia pode criar algum instrumento semelhante ao sistema SWIFT para fazer face à sua exclusão, por exemplo, o economista acredita que sim, mas disse ser "complicado".

"É possível, mas complicado, e requer que haja também um leque suficientemente lato de instituições que participem no sistema para ele poder ser eficaz", afirmou.

A ideia é diminuir a liberdade de manobra do adversário, é limitar a capacidade de movimento económico, a capacidade quer de financiar a economia quer de transacionar com o exterior", sublinha. "A ideia de facto é causar dano económico que obrigue a sociedade a reagir para se libertar desse dano."Quanto à dependência do petróleo e gás russo, referiu que, "felizmente, estamos a sair do período mais frio na Europa e isso pode tornar o sacrifício, do lado europeu, menos duro do que se a necessidade de prescindir desses produtos fosse feita em períodos mais frios".

Vítor Bento acredita que, com o tempo, a falta de oferta será facilmente substituída com o aumento de oferta de outros países. "Isso leva tempo a ajustar", recordou.

"No caso da Alemanha, é-lhe mais difícil substituir o gás russo, que vem por pipelines, por gás liquefeito, que é transportado por navios e depois tem de ser convertido. E a Alemanha não está preparada para o tornar imediatamente operacional, o que significa que tem de investir em infraestruturas". Nesse caso, a "capacidade de substituir fontes de fornecimento é mais lenta", rematou.

Leia Também: Sanções deverão abranger gás e petróleo russo mais cedo ou mais tarde

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