Laskasas quer "atrair talentos" a setor que tem falta de trabalhadores

No mobiliário desde os 13 anos, então como aprendiz de marceneiro, Celso Lascasas emprega hoje 450 pessoas no grupo Laskasas, onde aumentou o salário mínimo para 750 euros para "atrair talentos" a um setor marcado pela falta de trabalhadores.

Notícia

© Global Imagens

Lusa
18/12/2021 06:20 ‧ 18/12/2021 por Lusa

Economia

Negócios

 

Em entrevista à agência Lusa, o empresário -- que em 2004 fundou o grupo de mobiliário Laskasas, em Rebordosa, Paredes, no distrito do Porto -- reconheceu que o problema da falta de mão de obra afeta "todos" no setor, mas não tem, até agora, impedido a empresa de crescer a dois dígitos anualmente, até à atual faturação de 26 milhões de euros.

E, se alguns empresários "falam em recrutar pessoas lá fora, na Índia ou Brasil", Celso Lascasas não gosta da "logística" que tal implica -- "é preciso ver casas" para acolher estes imigrantes, por exemplo, -- e desde sempre apostou numa "política diferente", que lhe permite garantir a valorização dos trabalhadores que emprega.

"Eu quero uma política diferente. Quero ter marca e, tendo marca, consigo pagar acima da minha concorrência. Consigo contratar um marceneiro talvez com mais 200 ou 300 euros do que qualquer empresa que trabalhe para terceiros e cujas margens sejam esmagadas. Portanto, o meu foco é esse", sustentou.

Assim, o empresário decidiu aumentar para 750 euros o salário mínimo no grupo Laskasas já a partir de janeiro de 2022, pagando 45 euros acima do salário mínimo nacional que entra em vigor no próximo ano. Contudo, ressalva, dos 450 trabalhadores que emprega, já "só 70 pessoas" recebem atualmente a remuneração mínima.

"[750 euros] vai ser o ordenado mínimo da minha empresa e a ideia é subir, à medida que vou conseguindo implantar ainda mais a minha marca e ter mais margem", afirmou, revelando ser também sua intenção alargar progressivamente a todos os trabalhadores, ao longo do próximo ano, o seguro de saúde que atualmente abrange cerca de "30 a 35%" dos funcionários.

O objetivo é "tentar, reter e angariar talentos", nomeadamente o "pessoal jovem, que é mais difícil contratar para o chão de fábrica".

"Os jovens não gostam de se apresentar como marceneiros ou serralheiros. Querem ser todos 'designers', criativos. Esta geração quer uma secretária e um computador, mas isso tem que ser mudado, até porque, provavelmente, daqui a cinco ou 10 anos um serralheiro vai ganhar muito mais do que um enfermeiro. É preciso ter essa visão", sustenta, acrescentando: "Eu orgulho-me de ser marceneiro. Sou marceneiro e consegui fazer aquilo que consegui".

Apesar das dificuldades de contratação no setor, Celso Lascasas tem conseguido ir reforçando os quadros à medida das necessidades de crescimento da empresa: "Este ano, desde janeiro até 30 de outubro, metemos 72 pessoas no nosso grupo. Desde abril de 2020 até outubro deste ano metemos 147 pessoas", precisou.

O objetivo, confessou à Lusa, é "bater os 500 trabalhadores para o ano", acompanhando o crescimento da produção, que tem sobretudo assentado nas vendas para os mercados internacionais.

Passados quatro anos desde a "aposta forte" feita a nível internacional, atualmente as exportações representam 32% das vendas do grupo e deverão continuar a subir.

"A minha meta é que o mercado externo represente 40% da faturação no final de 2022 e faturarmos, nesse ano, [um total de] 27 milhões de euros", afirmou Celso Lascasas.

O Médio Oriente (Quatar, Barhein, Arábia Saudita, Dubai) e Inglaterra são os principais mercados externos da Laskasas, com um peso de conjunto de 22%, mas os planos do empresário passam por "começar a apostar forte na América do Norte (EUA e Canadá) e na Ásia", já "a partir de janeiro".

Para o efeito, tem previsto um investimento "de 500 a 600 mil euros, no mínimo", na abertura de um 'showroom' em Nova Iorque, que se juntará ao 'showroom' de Londres, um outro investimento - de 450 mil euros - a inaugurar em março do próximo ano.

O objetivo destes 'showrooms' é dar a conhecer os produtos da empresa aos 'designers' de interior com que a Laskasas trabalha no estrangeiro, já que a estratégia do grupo nos mercados externos assenta num modelo 'business to business' (B to B) e não na venda direta ao consumidor final, como em Portugal.

Outro "projeto recente" a nível internacional, com cerca de meio ano, é a aposta na Rússia, que pesa 3% a 4% na faturação da empresa.

No total, o grupo Laskasas tem atualmente 12 lojas próprias em Portugal e quatro no estrangeiro, em Marbella (Espanha), Punta Cana (República Dominicana), Moscovo e Holanda.

Os produtos vendidos nas lojas próprias são exclusivamente produzidos nas três unidades fabris do grupo: a casa-mãe, que produz peças de mobiliário e artigos para o lar; a DomKapa, especializada em estofos; e a Serralux, na área da serralharia.

Para além da falta de mão de obra, Celso Lascasas aponta como atuais condicionantes à atividade o encarecimento dos custos de transporte e das matérias-primas e a escassez destas últimas, o que já motivou dois aumentos da tabela de preços da empresa.

"Este ano está a ser um ano atípico. Em junho tivemos que aumentar as nossas tabelas em 8%, porque fizemos contas e já não dava mais, e em janeiro [de 2022] vou ter que aumentar mais 4%. Os nossos fornecedores dão-nos preços, alguns deles, ao dia, outros à semana e outros ao mês. Tenho a empresa há 17 anos e isto nunca se passou", afirma.

Segundo o empresário, os preços do ferro, do inox e do MDF "têm subido mesmo muito", o que tem obrigado a empresa a investimentos avultados "para comprar mais quantidade e não correr o risco de não ter matéria-prima".

"Nunca tivemos que parar secções por falta de matéria-prima, mas o departamento de compras está sempre em cima, para não faltar material", garante.

Ainda assim, Celso Lascasas diz-se confiante "que, agora, as coisas vão começar a estabilizar": "Já estão a começar [a fazê-lo] desde há um mês ou dois e penso que, a partir de janeiro, vão normalizar, porque isto também é insustentável", disse.

Orgulhoso em ser português, mas consciente de que o seu apelido pode gerar confusões quanto à nacionalidade -- herdou-o de uma bisavó alemã que veio trabalhar para as antigas minas de São Pedro da Cova, em Gondomar, e adaptou-o para Laskasas, com 'k', para designar o grupo -- o empresário garante que "nada sai" das fábricas de Paredes sem a identificação "Made in Portugal".

"Eu não percebo nada de 'marketing', mas houve uma coisa de que eu sempre, desde o início, nunca abdiquei: Nós comunicarmos sempre, seja a nível internacional, seja a nível interno, que somos portugueses e que o fabrico é português", asseverou.

E se, há uma década, os portugueses eram "conotados com um país ali do canto, que ia às feiras e fazia cópias das grandes marcas italianas", o presidente da Laskasas sente que "há uma diferença muito grande agora".

"Eu noto que, a cada ano que passa, nós portugueses e as empresas do meu setor começamos a ser mais respeitados e começam a olhar para nós de maneira diferente. Hoje já começa a ser um trunfo dizer que se é português", congratula-se.

Leia Também: Gérard Lopez lança OPA para reforçar participação na SAD do Boavista

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas