"Há muito em jogo na indústria do gás de Moçambique e os últimos ataques dos militantes, perto de um projeto fundamental, ameaçam fazer descarrilar as perspetivas positivas do país", disse o analista Jason Tuvey.
Num comentário enviado à Lusa, o analista salientou que "Moçambique está a apostar no desenvolvimento dos recursos de gás natural para alimentar o crescimento económico nos próximos anos, esperando-se uma expansão económica de dois dígitos depois do início da produção de gás, atualmente prevista para 2024".
O Governo, acrescentou, "depositou as suas esperanças nas receitas de gás natural liquefeito para lidar com as pobres finanças públicas, que têm um rácio da dívida pública sobre o PIB acima de 120%".
Apesar do treino que a Capital Economics antevê que vá ser dado às forças de segurança moçambicanas por militares estrangeiros, nomeadamente portugueses, os projetos arriscam-se a sofrer mais adiamentos.
"Estes últimos ataques ameaçam adiar ainda mais o início da produção de gás", escreveu o analista, considerando que não haverá suspensões dos investimentos.
"O projeto liderado pela Total, bem como o desenvolvimento 'offshore' liderado pela Eni, vai quase de certeza continuar, porque senão estas firmas arriscam-se a pagar multas substanciais, mas uma decisão final de investimento sobre o projeto liderado pela Exxon foi recentemente adiado mais uma vez", acrescentou.
No comentário enviado à Lusa, Jason Tuvey alertou ainda que "qualquer falhanço no avanço dos projetos vai não apenas prejudicar as perspetivas de crescimento mas também levantar novamente os receios sobre a sustentabilidade do peso da dívida" de Moçambique.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o mais recente aconteceu no passado dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da ONU, e mais de duas mil mortes, segundo uma contabilidade feita pela Lusa.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
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