Pequim procura "mudança qualitativa" e "diversificação" em África
Os interesses chineses em África deverão "diversificar-se" e registar uma "importante mudança qualitativa", afirmam analistas à agência Lusa, nas vésperas de um fórum que deve anunciar milhares de milhões de dólares em crédito chinês ao continente.
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"O destaque será o anúncio de mais um número enorme: 'China promete 63.000 milhões de dólares [54.000 milhões de euros] a África'", prevê Eric Olander, jornalista especializado nas relações entre China e África, radicado em Xangai.
"Mas espero também uma diversificação dos interesses chineses, que se têm focado na extração de recursos, comércio e na relação económica", acrescenta o fundador do portal The China Africa Project, apontando as áreas militar, política e de diplomacia cultural como exemplos desse novo interesse.
O Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) arranca na segunda-feira, em Pequim, e contará com a participação de dezenas de chefes de Estado e de Governo africanos, incluindo os Presidentes de Angola e Moçambique, João Lourenço e Filipe Nyusi, respetivamente.
Ana Cristina Dias Alves, académica especializada na cooperação económica entre China e África, e professora assistente na Universidade Nanyang Technological, em Singapura, prevê ainda uma "importante mudança qualitativa" nas relações.
"Passará muito por alinhar os interesses da China com os interesses do continente [africano]", afirma Alves, à Lusa.
A "enfatizar" a mudança qualitativa, a académica espera uma "articulação" entre o projeto internacional de infraestruturas chinês, a "Nova Rota da Seda", e os objetivos de desenvolvimento das Nações Unidas e da União Africana, para além dos planos de desenvolvimento nacionais.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, participará também no fórum.
"Isto evidencia uma maior preocupação em contribuir para o desenvolvimento sustentável do continente e uma maior participação da parte africana neste processo", diz.
Lançada em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a "Nova Rota da Seda" inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos, centrais elétricas e zonas de comércio livre, visando ressuscitar vias comercias que remontam ao Império romano, e então percorridas por caravanas.
Os projetos no âmbito daquela iniciativa estendem-se à Europa, Ásia Central, Sudeste Asiático e deverão passar a incluir grande parte do continente africano.
Outro dos objetivos da China, que nos últimos anos passou a adotar uma política externa mais assertiva, será promover o seu modelo político no continente africano, à medida que a liderança chinesa assume que este pode ser uma solução para outras partes do mundo.
Dezenas de Institutos Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para difundir a língua e cultura chinesa, abriram portas nos últimos anos em África, enquanto milhões de lares do continente passaram a receber diariamente entretenimento e conteúdo noticioso chinês.
Eric Olander considera que o rápido desenvolvimento do país asiático será o seu mais poderoso instrumento de 'soft power' no continente.
"A mensagem que a China tem, que é extremamente apelativa, é que nos últimos 25 anos passou de um país mais pobre do que a maior parte de África para se tornar na segunda maior economia do mundo", afirma.
"No ocidente, por vezes, subestimamos o poder de uma estrada ou ponte. Mas o impacto que têm na vida das pessoas [em África] é enorme, e eles sabem que veio da China", descreve, acrescentando: "E isso é muito poderoso".
O jornalista lembra, por isso, que o continente africano é "muito apelativo" para Pequim promover o seu modelo de capitalismo autoritário, "porque os africanos entendem a noção de que não podem haver direitos políticos e civis antes de terem direitos económicos e sociais".
"E esse é o mantra chinês".
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