"Olhando para as duas convocatórias, parece-me que há mais jogadores experientes e a atuar num patamar mais alto na seleção francesa. Portugal tem alguns a jogar a um nível interessante, mas que não abundam tanto, sobretudo com as saídas do Fábio Silva e do Eduardo Quaresma. São duas equipas com estilos distintos, mas, para um primeiro jogo, acho que Portugal vai ser mais equipa do que a França", disse à agência Lusa o técnico.
Portugal inicia a 10.ª presença, e terceira seguida, na prova frente à França, campeã em 1988, na quarta-feira, às 21:00 locais (20:00 em Lisboa), em jogo da ronda inaugural do Grupo C, que integra igualmente Polónia e Geórgia, adversários no mesmo dia em Zilina.
"Há certas alterações nas duas seleções quanto aos nomes que se destacaram mais na qualificação. É sinal de que a formação está a trabalhar bem e há quem já tenha saltado para patamares elevados. O talento é emergente em cada país, o que faz com que haja alguma incerteza sobre a consistência e o que serão as equipas. Os primeiros jogos são mais embrulhados e as equipas vão crescendo em sincronismo durante a prova", referiu.
Jorge Maciel inclui Portugal, finalista vencido em 1994, 2015 e 2021, entre os candidatos ao cetro e lembra a "diversidade interessante no perfil dos médios e alas" ao dispor, que "permitem mudar um jogo sem alterar muito de estrutura tática", alternada entre o '4-4-2' losango e o '4-3-3' com Rui Jorge, nos sub-21 desde 2010 e a chegar à quinta fase final.
"Pode andar mais pelo '4-3-3' em função da realidade do grupo. O selecionador irá ter de olhar para as necessidades e para quem está disponível e tentar cozinhar alguma coisa. Melhor do que ninguém, o Rui Jorge saberá quais são os futebolistas que permitem criar nuances diferentes no jogo. Acho que isso pesa muito no contexto das seleções", expôs.
Portugal está particularmente afetado na defesa, mas o adjunto de Paulo Fonseca sente que esse "é o ponto mais débil de todas as seleções", numa fase em que "a tendência é para que se observem mais golos, não necessariamente por haver mais futebol ofensivo, mas porque se defende menos, o talento está a emergir muito da parte de quem joga na frente e os atletas têm sido criados muito para atacar, mas pouco para jogar o jogo todo".
"A capacidade para atuar como um bloco pode ser um fator muito diferenciador. Portugal tem uma capacidade forte para ter bola e dominar as partidas dessa forma. Se conseguir isso e apresentar-se como um bloco, pode ter a vantagem de não quebrar e andar muito mais estável. Mesmo não tendo alguma rotina na dupla de centrais, uma linha defensiva articulada pode ser uma grande vantagem, independentemente de quem jogue", sugeriu.
Radicado há seis anos em França, onde já treinou o Valenciennes (2023) e coadjuvou o Nantes (2018) e o Lille (2019-2023) antes de chegar ao Lyon, no defeso de 2024, Jorge Maciel perspetiva uma seleção gaulesa "agressiva e direta", disposta em '3-4-2-1', para "segurar atrás com três homens e evidenciar quem atuar na frente, com apoio dos alas".
"O Castello Lukeba já surgiu há algum tempo, inclusive no Lyon, e tem um estatuto muito interessante. O Ismaël Doukouré varia entre central e lateral direito e apresenta um perfil tipicamente francês, na linha do Jules Koundé. O Matthis Abline também está a aparecer muito bem, até para suprir as ausências de Désiré Doué e Hugo Ekitiké. É um avançado diferente do Randal Kolo Muani e do Ekitiké e tem um perfil mais completo nessa relação com a equipa. Depois, têm uma 'formiguinha' como o Johann Lepenant, que iniciou esta época no Lyon, teve um nível interessante no Nantes e é um jogador de equipa", indicou.
As lesões, a simultaneidade com o renovado Mundial de clubes, a promoção às seleções principais, que disputaram a 'final four' da Liga das Nações, ou a intransigência dos seus emblemas retiraram a Portugal e França vários elegíveis com trajeto recente nos sub-21.
Tiago Santos, Tomás Esteves, António Silva, Tomás Araújo, Eduardo Quaresma, Renato Veiga, Nuno Mendes, Dário Essugo, João Neves, Vasco Sousa, Rodrigo Mora, Francisco Conceição e Fábio Silva desfalcam os lusos, enquanto os franceses não têm Malo Gusto, Leny Yoro, Lesley Ugochukwu, Enzo Millot, Warren Zaire-Emery, Bradley Barcola, Rayan Cherki, Maghnes Akliouche, Désiré Doué, Arnaud Kalimuendo, Elye Wahi e Hugo Ekitiké.
"Além do Mundial, há uma janela de mercado que se apressa e não sabemos a razão de certas ausências nas convocatórias. A reflexão mais profunda é se este enquadramento prejudica o futebol em geral. Chegamos a um ponto em que, se calhar, não vamos ter os melhores em provas como o Europeu de sub-21 e, nas outras, os melhores não estarão nas melhores condições. Quando se quer futebol de qualidade, há que entender que não vamos lá com mais jogos e a espremer um futebolista ao máximo", advertiu Jorge Maciel.