O Sporting sagrou-se, no passado fim de semana, bicampeão nacional pela primeira vez em 73 anos, graças ao triunfo conquistado na receção ao Vitória SC, por 2-0, à 'boleia' dos golos da autoria de Pedro Gonçalves e, claro está, Viktor Gyokeres.
Um feito que parecia impossível de alcançar. Principalmente, se recuarmos no tempo até 15 de maio de 2018, quando o emblema verde e branco viveu aquele que foi um dos dias mais 'negros' de toda a sua centenária história, na sequência da invasão por parte de um grupo de adeptos à Academia de Alcochete.
Acabado de regressar da Madeira, onde perdera diante do Marítimo, por 2-1, e vira esfumadas as possibilidades de alcançar o segundo lugar da I Liga e consequente apuramento para a Liga dos Campeões, o plantel viu-se confrontado (e até agredido) onde pensava estar mais seguro.
Estrelas como Rui Patrício, Gelson Martins, Daniel Podence ou Rafael Leão avançaram para a rescisão unilateral do contrato que mantinham com o clube. Outros, como Bruno Fernandes ou Bas Dost, fizeram o mesmo, mas acabaram por voltar atrás.
O então treinador, Jorge Jesus, também não resistiu ao descalabro, e, dois meses depois, Bruno de Carvalho abandonou a presidência, na sequência de uma Assembleia Geral Extraordinária onde 71,36% dos sócios votaram favoravelmente à sua destituição.
'Revolução' começou com Sousa Cintra
Com a 'casa a arder, coube a Sousa Cintra a responsabilidade de regressar a Alvalade para assumir, provisoriamente, a presidência do Sporting, cargo que já ocupara, entre 1989 e 1995, e não perdeu tempo a formular uma autêntica 'revolução'.
Além dos 'desertores', também jogadores como Cristiano Piccini, Jonathan Silva, Héldon, Seydou Doumbia, Bryan Ruiz, Simeon Slavchev ou Lukas Spalvis 'mudaram de ares'. Em sentido inverso, chegaram Raphinha e Nani, por exemplo. Já para o banco, o eleito foi José Peseiro.
Frederico Varandas 'tremeu' e depois convenceu
O ribatejano acabaria, ainda assim, por durar apenas 14 jogos naquela que foi, também, a segunda passagem pelo Sporting A 9 de setembro, Frederico Varandas foi eleito presidente, com 42,32% dos votos, contra os 36,84% de João Benedito e os 14,55% de José Maria Ricciardi.
Um mês depois, o ex-diretor clínico tomou aquela que acabaria por ser a primeira grande decisão na liderança do clube, ao avançar para a demissão do treinador, na sequência da derrota sofrida na receção ao Estoril, por 1-2, que ditou o afastamento da Taça da Liga.
Após uma 'experiência' com Tiago Fernandes, a (surpreendente) escolha recaiu sobre Marcel Keizer, que começou com uma série de goleadas e conquistou, inclusive, a Taça de Portugal, mas acabou por não resistir a um 'arranque em falso', em 2019/20, e foi, também ele, despedido.
Leonel Pontes foi 'promovido', mas não convenceu, e Jorge Silas, que o sucedeu, não fez muito melhor. Com a posição cada vez mais fragilizada, Frederico Varandas fez um 'all in', ao pagar, nada mais, nada menos, do que 12 milhões de euros ao Sporting de Braga por Ruben Amorim.
Ruben Amorim e Hugo Viana mudaram tudo
O novo treinador chegou a Alvalade em setembro de 2020 e dispôs de um luxo que os antecessores não tiveram. Isto é, de tempo. Depois de um quarto lugar na I Liga, 'reuniu a tropas', e, em pleno ano de pandemia, sagrou-se campeão nacional e conquistou a Taça da Liga.
2021/22 foi menos feliz, fruto de um segundo lugar, e 2022/23 ainda menos, com mais um quarto lugar. Pela primeira vez, a continuidade no cargo esteve em causa, mas Frederico Varandas deu-lhe mais uma oportunidade... e não podia ter acertado mais.
Hugo Viana identificou as fragilidades do plantel e dotou-o de 'armas letais' como Viktor Gyokeres, Morten Hjulmand ou Francisco Trincão, operações alavancadas pelas milionárias vendas de Manuel Ugarte e Pedro Porro para Paris Saint-Germain e Tottenham, respetivamente.
Ruben Amorim, por seu lado, trabalhou o modelo de jogo e conquistou o título de campeão nacional, com uma caminhada de tal maneira dominadora que fez do Sporting o grande favorito ao título, na temporada que se seguiria.
Manchester United (quase) arruinou a época
O Sporting entrou na presente temporada a 'todo o gás', quer na I Liga (onde chegou a ter cinco pontos de vantagem sobre o Benfica ao cabo de apenas 11 jornadas), quer na Liga dos Campeões (onde goleou o Manchester City, por 4-1), mas o 'sonho' tremeu... e de que maneira.
Em novembro, o Manchester United chegou-se à frente e pagou aos leões dez milhões de euros para levar Ruben Amorim, na sequência da demissão de Erik ten Hag. O próprio garantiu que a saída não faria qualquer tipo de 'mossa', o que se revelou mentira.
Com João Pereira, a equipa somou quatro derrotas, um empate e apenas três vitórias ao cabo de oito jogos, complicando as contas na prova milionária, no campeonato nacional e quase até na Taça de Portugal, onde teve de recorrer ao prolongamento para eliminar o Santa Clara.
Frederico Varandas não teve alternativa a não ser dar um passo atrás e despedir o treinador que apontara aos mais elevados patamares do futebol europeu. A solução deu pelo nome de Rui Borges, e motivou um pagamento de 4,1 milhões de euros ao Vitória SC.
Rui Borges, o 'salvador'
Tantas vezes criticado, por quem tanto e tão pouco percebe de futebol, Rui Borges teve a coragem de pegar numa equipa 'destroçada' e, logo no primeiro jogo, bater o Benfica, por 1-0. Seguiu-se uma 'maré' de lesões há muito não vista, mas o mirandelense soube contornar as dificuldades.
Mesmo com exibições nem sempre bem conseguidas, os resultados foram surgindo, graças às soluções 'inventadas' pelo treinador, que soube colocar de parte o 'seu' 4x3x3 e recuperar o 3x4x3 que tantas alegrias tinha dado ao clube.
Pelo meio, ainda adaptou, por exemplo, Zeno Debast ao centro do terreno e Eduardo Quaresma ao lado direito da defesa, ao mesmo tempo que, privado de algumas das principais estrelas, com principal destaque para Pedro Gonçalves, foi lançando jovens 'às feras'.
E a verdade é que... correu bem. Sob a segurança de Rui Silva, a liderança de Morten Hjulmand, a criatividade de Francisco Trincão e a 'veia' goleadora de Viktor Gyokeres, o Sporting sagrou-se mesmo bicampeão, e, agora, faz 'mira' à final da Taça de Portugal, diante do Benfica.
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