"O meu plano foi vir ajudar. Não vim aqui e prometi milagres"

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, o treinador português, de 59 anos, explicou as razões que o levaram a aceitar o convite para voltar à Turquia, mostrando-se confiante na manutenção no principal escalão do futebol turco. Regresso a Portugal no futuro próximo em cima da mesa.

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Rodrigo Querido
06/05/2025 06:41 ‧ há 2 horas por Rodrigo Querido

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A Turquia ganhou um novo treinador português no passado mês de fevereiro. Dez anos depois da última experiência no futebol turco, José Morais assumiu o comando técnico do Bodrumspor, numa altura em que até pensava no regresso a Portugal.

 

Morais, de 59 anos, não conseguiu recusar o convite para uma missão que parecia quase impossível. Na altura, o Bodrumspor, a disputar a primeira divisão turca pela primeira vez, ocupava o antepenúltimo lugar, a sete pontos da primeira equipa acima da linha de água quando o treinador português assumiu o comando técnico

Três meses passaram e o emblema turco ainda sonha com a manutenção na Superliga turca, a escassas quatro jornadas do final do campeonato e quando há várias equipas também com contas complicadas rumo a esse objetivo.

Em entrevista exclusiva ao Deporto ao Minuto, o treinador, de 59 anos, explicou que foram razões afetivas que o levaram a aceitar este convite do Bodrumspor, mostrando-se confiante na permanência na elite do futebol turco.

Bodrumspor? Foi quase uma dádiva de gratidão por pessoas em que, numa fase da minha carreira, trabalharam comigo, estiveram comigo

Voltou à Turquia dez anos depois para o que se pode chamar uma missão de risco. O que o levou a aceitar este convite?

Foi mais uma questão de ajudar quem conheço. O Bodrumspor é uma equipa cujo proprietário é o antigo presidente do Antalyaspor, o Ali Şafak, com quem já tive a oportunidade de trabalhar. Agora está um bocadinho melhor, mas estava e continua a estar numa situação muito difícil, quase sem esperança nenhuma de se manter e praticamente relaxada quando eu vim. Era uma tarefa que eu sabia que não era fácil. A equipa estava numa situação delicada, poucas jornadas pela frente, muita coisa em jogo. Vim com o propósito de ajudar com a minha experiência, com a minha paixão pelo futebol e com a convicção de que enquanto houver possibilidade vale a pena lutar.

Foi no fundo isso que me fez vir aqui. Foi quase uma dádiva de gratidão por pessoas em que, numa fase da minha carreira, trabalharam comigo, estiveram comigo. E eu, nesta fase de mais consideração, de maior experiência e mais conhecimento, voltei para conseguir poder eventualmente ajudar a tirar o clube da situação em que se encontrava. É uma coisa que estamos na iminência de conseguir, mas não está ainda conseguido e não é fácil de conseguir.

Tinha deixado o Sepahan em novembro do ano passado. O objetivo passava por voltar à Turquia ou tinha outra coisa em mente?

Não, o meu objetivo era prosseguir a carreira em Portugal. No fundo queria parar um bocadinho e ter agora o momento para estar numa liga onde eu possa falar a minha própria língua, estar no meu próprio país e dar-me a conhecer um bocadinho, em termos de qualidade, naquilo que foi a minha evolução enquanto treinador, e dar-me a conhecer um bocadinho aos clubes portugueses. Infelizmente, no tempo em que estive parado, digamos assim, não foi um momento em que houve grandes mexidas nas equipas em Portugal. E digo isto porque enquanto treinador o que eu pretendo é que cada vez mais haja estabilidade.

Nesse momento, recebi a chamada de pessoas amigas, pessoas que eu conheço. Era um pedido que eu não pude, no fundo, recusar. Normalmente não estaria em condições de pegar num projeto desta natureza. Tenho outras possibilidades e momentos em que as coisas poderiam levar-me a um outro tipo de estabilidade. Mas tinha de ajudar um amigo e  vim por isso.

Notícias ao Minuto José Morais conta com seis vitórias em 13 jogos pelo Bodrumspor© Getty Images  

Entrou para um projeto que, à partida, apontavam à descida de divisão nesta 1.ª experiência no principal escalão turco. A quatro jogos do fim do campeonato, o objetivo da permanência ainda se mantém vivo?

Sim, mantém-se. Mas não é fácil. Até porque, tendo em conta aquilo que se passou na última jornada, Tudo depende de nós, mas temos de estar à espera de movimentos extras em campo. No fundo, foi aquilo que nós sentimos na última jornada. Foi que havia forças que nos impediam de pontuar na última jornada em benefícios de terceiros. Não queremos acreditar em fantasmas, mas que os há, há.

O próximo jogo é mesmo com o Sivasspor. É um jogo de vida ou de morte nesta luta pela manutenção?

Sim sim. É um jogo muito importante para a equipa. Tendo em conta os resultados das outras equipas, diria que é fundamental. Vai ser muito difícil. No último jogo [com o Samsunspor] não foram apitados dois penáltis a nosso favor, foi revertido pelo VAR um penálti apitado pelo árbitro e ainda foi apitado um penálti a favor do adversário. Nem o adversário percebeu porque foi penálti. No final do jogo, o próprio treinador da equipa adversária disse foi uma vitória suja.

O início foi muito bom, com três vitórias e dois empates em cinco jogos e zero golos sofridos. Mas a equipa não ganha há três jogos. Qual a razão para esta quebra de rendimento?

Não ganhar há três jogos é normal. No último jogo com o Samsunspor podíamos ter pontuado. Acho que no último jogo aconteceram coisas que não têm muito a ver com aquilo que se passou dentro do campo. Se fossemos pelo que se passou dentro do campo, nós merecíamos um resultado completamente diferente. Aliás, fomos impedidos de ganhar. No fundo, não tenho outra forma de expressar isso. Os dois jogos anteriores a esse que nós não conseguimos ganhar foram contra o Galatasaray fora, que é uma equipa diferente. Não podemos ainda pensar em competir ao mesmo nível com esta equipa. E o outro foi com o Fenerbahçe. Ambas são equipas com outra capacidade competitiva que nós não temos neste momento. Portanto, é perfeitamente admissível.

Gostaríamos, obviamente, de ter feito pontos nesses jogos. Mas o que nós estamos aqui a falar é de uma equipa que tem vindo a crescer, que tem vindo a fazer bons resultados, que reencontrou uma identidade competitiva, que voltou a acreditar. Mais do que os pontos conquistados, foi, no fundo, conquistar uma equipa que conquistou, dignidade, compromisso e um espírito competitivo diferente. No fundo, isso é que são os ganhos que acabam por estar presentes neste grupo. Vamos continuar a nossa luta até ao final e ver até onde é que conseguimos. Nós sabemos que, politicamente, há movimentações. Há outro tipo de movimentos. Mas queremos acreditar que as coisas são feitas pela justiça do jogo e daquilo que se passa no campo e não por outros fatores. Mas no último jogo, nós sentimos que havia fatores que nos impediram de ganhar.

Notícias ao Minuto José Morais foi apresentado no início de fevereiro© Getty Images

Até que ponto é que sentiu isso? Em decisões de arbitragem?

Não me interessa. Eu sou treinador de futebol, não sou especulador. Todos nós andamos nisto há muitos anos e sabemos o que é, mas não me interessa. O que me interessa agora é focar e continuar a trabalhar e pensar que as coisas não são assim que se passam. Antes pelo contrário. Vamos tentar fazer ainda melhor do que aquilo que conseguimos fazer até hoje e procurar ganhar o próximo jogo e nada mais. Não tenho outro pensamento, nem outra perspectiva. Nem estou aqui para me lamentar daquilo que já é passado.

José Mourinho? Foi jogo contra um treinador que é um dos melhores do mundo e com quem aprendi muito e continuo a aprender

Neste regresso à Turquia já defrontou o José Mourinho, de quem foi adjunto há já vários anos. Como foi esse jogo, que terminou com uma derrota da sua equipa?

Foi um jogo bonito, um jogo entre duas pessoas que se respeitam e contra um grande clube, que é o Fenerbahçe. Foi jogo contra um treinador que é um dos melhores do mundo e com quem aprendi muito e continuo a aprender. Jogar contra equipas treinadas pelo José Mourinho traz sempre a oportunidade de continuar a evoluir e a aprender. No fundo, é isso que todos os treinadores aqui na Turquia têm quando surge a oportunidade de jogar contra o José Mourinho. É de facto uma oportunidade de aprendizagem e é um orgulho poder estar numa competição onde tu contra treinadores que são considerados os melhores do mundo. O resto é fairplay, é futebol. Tenho uma alegria grande pelo que se passou e pelo que se está a passar.

E acredita que o José Mourinho ainda pode ser campeão na Turquia?

Não sou eu que tenho que acreditar que o José Mourinho possa ser campeão. O que eu vejo é que o Fenerbahçe já não está a três pontos, mas faltam quatro jogos e tudo é possível. Não é garantido que o Galatasaray ganhe os quatro jogos em falta. Na minha perspectiva, enquanto há jogos e matematicamente for possível, tudo é possível. Mas nem tenho muito a ver com aquilo que se passa no Fenerbahçe e com a luta que eles têm pelo título. Não é esse o meu propósito. Embora esteja no mesmo campeonato, não me cabe a mim, no fundo, avaliar se é possível ou se não é possível.

Notícias ao Minuto José Morais perdeu no reencontro com José Mourinho© Getty Images

Qual o plano para depois desta temporada? Continuar na Turquia?

Não sei. O meu plano foi vir ajudar naquilo que for possível, sabendo que era muito difícil. Eu vim num momento difícil, com poucas jornadas e muitos obstáculos. Não vim aqui e prometi milagres. Mas o que eu prometi sempre é dar tudo o que é possível. Foi isso que até aqui temos vindo a fazer. Voltámos a ser competitivos e voltámos a ter esperança até o final. Há momentos em que eu penso naquilo que é significativo para mim, enquanto líder, em momentos em que as coisas não são fáceis. E liderar, para mim, é nesses momentos em que é extremamente difícil. Haver alguém que faça os outros acreditarem até o fim que é possível. Temos quatro jogos. Enquanto houver um minuto para jogar, tem de haver luta com coragem, dignidade e com espírito de equipa. E, no fundo, é isto que eu almejo. Acreditar até ao fim.

Como diz o outro, vamos lutar com dignidade até o fim por aquilo que nós pretendemos. O que nós pretendemos é ficar na Superliga. Se ficarmos, penso que é meritório. Até aqui, tudo aquilo que tem vindo a ser feito, na minha perspectiva, já parece enorme. Foi uma tarefa enorme. Os jogos que nós temos a menos são jogos que não fomos nós que jogámos. Nós temos um jogo a menos. Até isso era uma dificuldade que nós sabíamos porque temos menos jogos de todos os outros concorrentes diretos. Tínhamos menos jogos, menos pontos. Mas ganhámos muitos pontos e ganhámos vários jogos consecutivos. Jogos que não foram em momentos fáceis também. Vamos tentar o nosso melhor até o fim que é, no fundo, aquilo que nos pedem. E aquilo a que nos comprometemos.

E treinar em Portugal está na sua mente? Se houver uma possibilidade no verão, não descarta essa oportunidade?

Não, não descarto. Gostaria muito. Se houver essa oportunidade, é algo que penso seriamente em concretizar. Mas são coisas que não dependem de mim. Eu não posso, neste momento, estar à espera que isso seja uma possibilidade. Não fecho as portas a outras possibilidades que existem. De facto, existem. Existem mais possibilidades fora do país, do que propriamente em Portugal. Mas se houver em Portugal, com todo o carinho, analisarei a possibilidade. Porque penso que tenho coisas muito positivas, enquanto treinador, a oferecer a qualquer clube que eu possa liderar em Portugal.

Leia Também: José Morais sofre nova derrota e pode ver manutenção por um canudo

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