"O momento em que nós estávamos a necessitar de fazer um projeto de desenvolvimento desportivo da pista em Portugal coincide com a entrada da troika em Portugal, com uma quebra de financiamento. Nunca tivemos um contrato de desenvolvimento desportivo específico para a pista, que era uma vertente nova. [...]. Tivemos que fazer opções e estas opções foram dolorosas, porque tivemos que sacrificar umas vertentes em detrimento de outras", revelou.
Enquanto analisava o êxito de Portugal na pista, cujo expoente máximo foi o ouro olímpico no madison de Iúri Leitão, também prata no omnium, e de Rui Oliveira em Paris2024, Delmino Pereira assumiu que a FPC investiu menos nos seus mandatos no ciclismo de estrada, com essas verbas a serem destinadas à bem-sucedida vertente.
"[São] situações complexas, porque a estrada nunca teve fartura de apoio e foi penalizada, tanto ao nível do desenvolvimento da prática desportiva em Portugal, como ao nível das seleções. Mas era um caminho que tinha de ser efetuado e tinha de ser urgente. Não podíamos estar três, quatro anos sem fazer ciclismo de pista. O assunto morria logo. Todo o projeto morreria", justificou.
De acordo com o presidente da FPC, os resultados na vertente alimentavam o investimento e a convicção da sua direção de que estava a tomar a opção correta.
"Continuámos sempre a investir e o próprio Governo começou também depois, aos pouquinhos, a dar mais um pouco de investimento, essencialmente nas seleções e agora mais recentemente o Comité Olímpico, sem reservas, apostou forte nas seleções e no projeto de pista", notou.
Assim, e atendendo aos resultados recentes, "justifica-se, mais do que nunca, definitivamente um contrato-programa especial para a pista", de modo a que a FPC possa devolver "financiamento ao ciclismo de estrada, que é absolutamente decisivo também para o seu futuro", sustenta Delmino Pereira.
"É essa a grande demonstração e a evidência que o futuro põe em cima da mesa e que a nova direção e o Governo terão que resolver. É da mais elementar justiça que se faça, efetivamente, um contrato-programa especial para o ciclismo de pista", insistiu.
Apesar de os pistards portugueses terem 'clamado' recentemente por melhores condições, nomeadamente no Velódromo de Sangalhos (Anadia), o líder federativo não acha que "a seleção de pista seja a mais prejudicada".
"Temos seguido sempre uma lógica de probabilidades e a seleção de pista é a que tem mais lógicas de sucesso nas probabilidades. E então, quando nós temos possibilidade de sucesso, nós temos que investir e nós temos sempre investido. [...] Não é a seleção mais penalizada", reforçou.
Pereira concede, contudo, que Portugal não tem "condições para levar as seleções todas" a competir em Mundiais e Europeus das várias vertentes, depois de nesta fase final de mandato terem surgido várias críticas às opções federativas, nomeadamente por levar menos corredores do que as vagas disponíveis aos Europeus de estrada ou não enviar qualquer representante aos Mundiais de maratona (XCM).
"O meu silêncio é um sinal de grande inquietude, pode ser essa palavra, de grande desconforto, porque eu tenho que estar em silêncio, tenho a obrigação da discrição. Mas obviamente que eu acho injusto. Tento gerir as verbas que nós temos na relação das probabilidades, um pouco da justiça da oportunidade [...]. Nós não somos nenhuma potência. Nós somos um país pobre. Tenhamos essa noção. [...] A federação está com muitas dificuldades, não digo financeiras, digo de tesouraria, como nunca esteve, e tivemos de fazer opções [...]. As críticas são injustas", concluiu.