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"O meu primeiro amor foi o Vítor Baía. Ele é o maior e o Buffon também"

Vítor São Bento deixou o Sporting da Covilhã este verão para voar diretamente para o principal escalão do futebol grego. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o guardião de 27 anos traça os objetivos para a nova fase na carreira, mas não esconde alguma tristeza por, em Portugal, não darem o devido valor ao jogador luso que compete no segundo escalão.

Vítor São Bento

© Global Imagens

Francisco Amaral Santos
24/09/2019 08:08 ‧ 24/09/2019 por Francisco Amaral Santos

Desporto

Entrevista exclusiva

Vítor São Bento deixou a cidade da Covilhã e partiu para a Grécia este verão, para assinar um contrato de dois anos com o Xanthi. A equipa tem feito um início de temporada surpreendente e o guardião português de 27 anos foi considerado o melhor na sua posição na 3.ª jornada da I Liga.

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, São Bento traça aqueles que são os objetivos para esta nova aventura na carreira e a primeira fora de Portugal. 

O guardião, que começou a dar os primeiros toques na bola no Santa Maria, de Barcelos, revela ainda quais os ídolos que tinha quando era criança e não esconde alguma tristeza por acreditar que, em Portuga,l não é dado o devido valor ao jogador luso que compete no segundo escalão. 

Não preciso de mil e uma coisas para me sentir bem

Que balanço faz desta experiência na Grécia?

Até agora, tem tudo corrido bem. Fui bem acolhido pelas pessoas, pelos jogadores e pela direção. Têm sido todos muito acolhedores e desde o primeiro minuto senti-me em casa. Agora estou ainda melhor, porque a minha namorada também está comigo. Está tudo a correr bem. A equipa tem correspondido porque a direção construiu uma equipa para ir ao playoff, e esse objetivo está a ser cumprido.

Nos últimos três jogos foi titular. Qual a sensação?

É uma boa sensação. Vim para aqui com a ideia de tentar jogar e trabalhar ao máximo, tendo noção das minhas capacidades. No primeiro jogo oficial não fui titular, mas depois surgiu a minha oportunidade e agora quero dar continuidade.

Entretanto foi considerado o melhor guarda-redes da 3.ª jornada.

Foi positivo para mim. O nosso trabalho [de guarda-redes] é tentar ajudar a equipa a não sofrer golos e dar segurança para chegarmos à vitória. Tivemos um jogo complicado. Estivemos a ganhar 2-0, que é um resultado enganador, eles conseguiram fazer um golo, e depois tentei ao máximo agarrar a vitória e foi o que aconteceu. Eram muitos importantes aqueles três pontos.

Quais os reais aos objetivos neste ingresso no futebol grego?

Já estava na II Liga há vários anos e desejei sempre cimentar-me na I Liga. Tive a possibilidade de ir para o Nacional na altura, mas foi um ano atípico e nada correu bem. Não consegui impor-me lá. Já que este ano não consegui novamente ir para a I Liga portuguesa, surgiu a oportunidade do estrangeiro, que era algo que também desejava. Agora, gostava de me impor no Xanthi e, quem sabe, subir para uns patamares maiores.

Aceitou prontamente o convite do Xanthi

Vou ser sincero… Tinha outros convites do estrangeiro em mãos, mas a Liga grega foi a que mais me cativou. Tem grandes equipas como o PAOK, o Olympiakos e o Panatinhaikos, e acho que é um campeonato muito competitivo e no qual há portas para chegar a patamares superiores. É uma liga apetecível para jogar.

Quais as maiores diferenças entre o futebol grego e o futebol português?

Até agora, só mesmo o nível tático. A intensidade é semelhante. A nível tático notam-se algumas diferenças, mas são poucas. Hoje em dia, os treinadores e os jogadores evoluem cada vez mais. A Liga é muito competitiva e até agora só jogámos contra equipas de grande qualidade. Fisicamente e tecnicamente as equipas gregas são evoluídas.

Numa altura em que Abel Ferreira está no PAOK, Pedro Martins no Olympiacos e Luís Castro no Panetolikos…

Aqui na Grécia há muitos estrangeiros, não só portugueses. Há argentinos, espanhóis e uruguaios. Todos estes jogadores estrangeiros, aliados à qualidade dos jogadores gregos, deram aqui um acréscimo de qualidade no futebol grego. Trazemos um toque diferente.

Como é a relação os adeptos?

O primeiro jogo foi em casa do AEK e o impacto foi diferente. O ambiente era fantástico porque os adeptos são apaixonados. Os nossos também o são, mas em menor escala porque o AEK é uma equipa grande na Grécia. No último jogo em casa, o nosso estádio estava quase cheio e isso é muito importante para nós. Ganhando ou perdendo, se os adeptos estiverem a puxar por nós, vão estar a dar-nos vida e vontade para irmos atrás dos resultados.

Enquanto país, o que o surpreendeu na Grécia?

A Grécia é um país que não é tão desenvolvido como Portugal em termos de estrutura de casas, das próprias ruas… É um país que não é assim tão moderno. Aqui em Xanthi há várias culturas, há uma zona grega e outra zona turca. É um país muito bonito com praias espetaculares, muitos castelos e muita história da Grécia antiga. Não é tão moderno como Portugal, mas já me habituei. Os costumes são os mesmo, as comidas não diferem muito e é um país ao qual uma pessoa se adapta muito facilmente. Sinto-me realmente bem aqui. Neste momento, é como se estivesse em casa. A nossa vida de jogador não pode passar muito por estar sempre fora de casa ou sempre a passear. Claro que nas folgas podemos ir dar uma volta. Mas a rotina normal é treino e casa. Eu sou uma pessoa que se ambienta bem. Não preciso de mil e uma coisas para me sentir bem.

Essa capacidade de adaptação é uma das grandes qualidades dos jogadores e treinadores portugueses?

Sim, os portugueses tem muita história nisso. Conseguem adaptar-se no estrangeiro, muitas vezes porque não há oportunidades em Portugal. O estrangeiro é uma porta interessante para podermos evoluir e conseguirmos chegar a outros patamares.

Notícias ao MinutoVítor São Bento num jogo ao serviço do Sporting da Covilhã.© Reprodução Instagram Vítor São Bento 

Esteve dois anos no Sporting da Covilhã. Esta época a equipa tem estado muito bem e está assinar uma início de época prometedor. O que tem achado?

Tenho visto com bons olhos. Fico extremamente contente. É um clube que me deu muito e ao qual eu também dei muito. Espero que continuem assim e só desejo o melhor para o clube. Estou sempre a acompanhar.

Mas há condições para sonhar com a subida à I Liga?

Eu acho que sim, porque ficaram com uma excelente base do ano passado e contrataram bons jogadores. Se em casa continuarem a ter um bom desempenho, acredito que andem ali nos seis primeiros lugares. E, depois, já se sabe como é a II Liga, tudo pode acontecer.

A II Liga é, de facto, um campeonato muito exigente?

Sim, sem dúvida! Aliás, acho que está a ficar cada vez mais complicado. Este ano, desceram três equipas da I Liga o que faz com que haja maior qualidade na II Liga e mais candidatos à subida. Acho que o nível está a subir e isso só é benéfico para o futebol português.

Filipe Rocha é treinador de I Liga

A grande figura do Sporting da Covilhã é o Adriano Castanheira. Ficou surpreendido por ele não ter dado o salto para a I Liga ou até mesmo para o estrangeiro?

Acho que o Adriano é um valor e um ativo do Sporting da Covilhã que se calhar deveria ter saído o ano passado. Só não compreendo como é que as entidades portuguesas não conseguem ver um jogador como ele. Creio que este ano vai continuar a demonstrar o valor que tem e provar que nunca é tarde para sair da II Liga.

Acha que falta algum reconhecimento aos jogadores da II Liga?

Isso não sei. A minha opinião é que os clubes poderiam dar mais oportunidades aos jogadores portugueses que alinham na II Liga porque já estão em Portugal e a fase de adaptação será muito mais rápida. Eu não posso falar pelos clubes, mas penso que o jogador português é muito bom e na II Liga há muito valor. Só faltam mesmo as oportunidades na I Liga.

A II Liga deixa os jogadores preparados para a I Liga?

Acredito nisso. As diferenças não são assim tantas. Há sempre o ritmo e a velocidade do jogo, mas isso é algo que se apanha rápido. A II Liga está cada vez mais competitiva e isso aproxima os dois escalões.

Jogava, estudava e trabalhava ao fim de semana numa pizzaria. Estava ali um bocadinho perdido

Fale-nos um bocadinho sobre o seu percurso.

O meu percurso é um bocadinho atribulado! (risos) É um percurso interessante porque sempre tive uma preocupação... Eu comecei no Santa Maria, de Barcelos, tive a oportunidade ir para o Sp. Braga aos 16 anos. A partir daí pensei para mim: 'Se quero evoluir até chegar aos seniores, era interessante jogar nos campeonatos nacionais de cada escalão'. Foi o que eu fiz para poder evoluir e chegar aos seniores e ser um guarda-redes melhor. Quando dei por mim já estava a treinar com a equipa sénior do Varzim que estava na II Liga. Na altura eles gostaram muito de mim e o treinador de guarda-redes era o Rui Barbosa, que agora está no Wolverhampton. Foi aí que eu assinei o contrato de formação e fiquei lá, subindo a sénior.

Sempre sonhou que um dia chegaria ao escalão sénior?

O objetivo foi sempre ser profissional de futebol, mas os primeiros dois anos de sénior foram muito complicados. No primeiro, sei que era o ano de aprendizagem e fiquei no plantel do Varzim, que estava na 2.ªB para subir à II Liga. No ano a seguir fui jogar para o Santa Eulália de Vizela e aí é que eu vi que não sabia se iria chegar a ser profissional. Jogava, estudava e trabalhava ao fim de semana numa pizzaria. Estava ali um bocadinho perdido e à procura da essência. Mas, nesse mesmo ano, tivemos um jogo da Taça de Portugal contra o FC Porto e foi aí que se deu o clique. Fiz um bom jogo e gostei da envolvência do jogo. Nessa altura tive totais certezas daquilo que queria. Fui para o Farense, não fiz nenhum jogo, mas assinei o meu primeiro contrato profissional.

Parece que foi tudo passo a passo... 

Foi uma carreira feita degrau a degrau, e com o meu pai e a minha família a apoiar-me sempre e a nunca deixarem-me desistir. Sabemos que na vida nada é fácil e nada é dado. E, se for dado, há que desconfiar. Trabalhei muito e também tive a estrelinha que às vezes temos de ter. Na terceira época de Farense, consegui jogar com muita regularidade e depois surgiu a mudança para o Nacional. Infelizmente, as coisas correram mal na Madeira. Descemos de divisão e eu tinha um contrato de quatro anos que não foi cumprido. As pessoas acharam que não devia cumprir e, se as pessoas não me querem, fazemos as contas e vou para um lugar onde me querem e onde acham que tenho valor. Foi assim que apareceu o presidente do Sporting de Covilhã, que disse que me queria e que iria apostar em mim.

O Filipe Rocha foi seu treinador no Sp. Covilhã e deu o salto para o Paços de Ferreira este verão, mas acabou por sair muito cedo. Como viu esta saída muito madrugadora?

É uma situação muito ingrata. Acho que ninguém pode avaliar o trabalho de um treinador em três jornadas. Infelizmente, no futebol português isto acontece. Acredito que o mister vai dar a volta por cima e há de pegar noutra equipa com qualidade porque é um treinador com boas ideias e o futebol português precisa de treinadores como ele. É um treinador de I Liga. O ano passado trabalhei com ele e ele tem métodos e ideias de treinador de I Liga. É um treinador que trabalha bem o lado psicológico do jogador. Faz-nos evoluir. Nem sempre é simpático nas palavras, mas às vezes os jogadores precisam de ouvir coisas más para refletirem e pensarem sobre aquilo que estão a fazer.

Que mais treinadores o marcaram neste percurso?

Todos eles marcaram-me de forma positiva. Até hoje tenho boa relação com todos. Claro que há uns que são mais simpáticos, outros que nem tanto, mas é maneira de ser deles. No meu caso, guardo um bocadinho mais dos treinadores de guarda-redes porque passamos imenso tempo com eles. De treinadores principais, talvez diria o Jorge Paixão. Foi o meu primeiro treinador a nível profissional e guardo um carinho por ele.

Tinha algum guarda-redes que visse como um exemplo quando era criança?

O meu primeiro amor foi o Vítor Baía (risos). Era um guarda-redes que eu admirava muito e que eu acompanhava no FC Porto. Ele é o maior e o Buffon também porque é um guarda-redes lendário!

Que objetivos ainda tem para a carreira, agora que deu este importante passo? 

Eu nem gosto muito de pensar a longo prazo. Vamos apontar até aos 30 anos para me cimentar aqui na Liga grega. Nestes dois anos de contrato, gostava de me impor aqui no Xanthi e no campeonato grego e depois, quem sabe, melhorar o patamar. Para já, o objetivo é esse. Depois dos 30 anos, a gente logo vê! (risos).

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