Ilustradas por Maria Keil, as duas obras literárias fazem parte da coleção "Memórias de outras infâncias", única no país, que reúne oito mil volumes publicados em Portugal, para a infância e a juventude, entre 1900 e 1979, e que reside na Biblioteca Municipal de São Lázaro, em Lisboa.
"É a coleção mais extensa e mais rica existente em Portugal", disse à agência Lusa o bibliotecário Rui Faustino, da mais antiga biblioteca de Lisboa, fundada em 1883.
Com coordenação científica da investigadora Glória Bastos, esta é uma coleção patrimonial pertencente à autarquia de Lisboa, com literatura para a infância e juventude que estava espalhada por várias bibliotecas municipais e que, pelo período abrangido, espelha também quase um século de história.
"Pode fazer uma viagem no tempo àquilo que era lido pelos rapazes e raparigas de Portugal. Há obras que são intemporais - ainda hoje se continua a ler 'Os cinco' [de Enid Blyton], as obras de Júlio Verne - e depois há outras obras que objetivamente acabam por ser mais datadas e acabam por refletir um pouco a mentalidade daquilo que foi o Portugal do Estado Novo", afirmou Rui Faustino.
A coleção, de acesso condicionado, destina-se sobretudo a investigadores, estudantes universitários, estudiosos sobre infância, juventude e literatura portuguesa.
Desta coleção patrimonial fazem parte autores como Ana de Castro Osório, Ilse Losa, António Botto e Matilde Rosa Araújo, escritores cuja obra perdura ainda hoje, como Sophia de Mello Breyner Andresen, dezenas de recriações e coletâneas de contos populares, mas também livros que denotam racismo, que exaltam os bons costumes e o amor à pátria e ao Estado Novo.
É uma viagem histórica até 1979, ano declarado pela UNESCO, a organização das Nações Unidas para a Educação, ciência e Cultura, como Ano Internacional da Criança, e sobretudo uma viagem no tempo.
"O imaginário juvenil e infantil modificou-se bastante nas últimas décadas com o advento da internet, com a multiplicação dos canais televisivos, com a forma como ocupam os tempos livres", afirmou Rui Faustino.
A própria Biblioteca Municipal de São Lázaro é um exemplo disso. Virada para a comunidade da freguesia de Arroios, é um equipamento generalista, com computadores com acesso à Internet, salas de estudo e uma sala específica para o público infantil, com livros recentes para consulta.
"Tivemos mais de 15.000 visitas ao longo dos [últimos] doze meses. Temos feito um esforço para trazer a biblioteca do século XIX para o século XXI; foi possível triplicar o número de empréstimos de documentação e de livros nos últimos três anos", disse Rui Faustino.
Um pouco por todo o país, em bibliotecas municipais e nacionais, e também em todo o mundo, assinala-se na quinta-feira o Dia Internacional do Livro Infantil.
A efeméride foi instituída pelo Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens (IBBY) a 02 de abril de 1967, coincidindo com o aniversário do nascimento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, uma das referências da literatura para os mais novos.
Este ano, a mensagem do IBBY associada ao dia defende a ideia de que as histórias para crianças têm todas algo em comum, mesmo que sejam narradas em línguas e culturas diferentes.