"Naturalmente que, nesta altura, em que nos despedimos de Eduardo Serra estamos, obviamente, contristados e lamentamos o desaparecimento de uma figura do cinema português que teve, de facto, uma dimensão internacional muito forte", frisou o subdiretor da Cinemateca, Nuno Sena, em declarações à agência Lusa.
Nuno Sena reagia à morte do diretor de fotografia Eduardo Serra, aos 81 anos, anunciada pela Academia Portuguesa de Cinema.
O subdiretor da Cinemateca Portuguesa lembrou as nomeações para Óscares que o artista teve e a sua participação em "filmes de grande orçamento", nomeadamente dois volumes da saga Harry Potter, além de "tantas outras participações em produções de prestígio francesas, sobretudo de Claude Chabrol e Patrice Leconte".
Para Nuno Sena, Eduardo Serra "não deixou também de ser um nome importante do cinema português porque esteve, pontualmente, associado a realizadores e a filmes que foram bastante importantes também para a história da cinematografia" nacional, recordando, a propósito, a marca que deixou junto da obra de João Mário Grilo ('O Processo do Rei'), ou em 'O Delfim', de Fernando Lopes.
"Filmes que são obras essenciais do cinema português e que, certamente, devem parte da sua importância ao trabalho extraordinário de Eduardo Serra", observou, sublinhando ainda a importância do primeiro filme que fez em Portugal, 'Sem Sombra de Pecado', que, nas palavras do diretor de fotografia, "foi um filme que também lhe abriu portas no estrangeiro".
Ao recordar a "dimensão internacional" da carreira de Eduardo Serra, Nuno Sena considerou-o como o profissional que "abriu portas para a internacionalização dos técnicos portugueses".
Nuno Sena acrescentou nunca ter sentido o diretor de fotografia a "vestir a pele, nem nas entrevistas que deu ou na maneira como aparecia publicamente, a parecer pôr-se à frente dos filmes que fez ou à frente dos realizadores que fizerem esses filmes".
"Esse recato é uma forma justa para descrever o seu temperamento e a sua forma de trabalhar", concluiu.
Nascido em Lisboa em 1943, Eduardo Serra foi nomeado duas vezes para os Óscares, pelos filmes 'As Asas do Amor', de Iain Softley, e 'Rapariga com Brinco de Pérola', de Peter Webber, que lhe garantiu o prémio BAFTA da Academia Britânica de Cinema.
A carreira internacional de Eduardo Serra teve início em França, onde se fixou em 1963, na sequência da perseguição de que foi alvo por participar em protestos contra a ditadura, recorda a Academia Portuguesa de Cinema, que anunciou a morte do diretor de fotografia nas redes sociais, na noite de quinta-feira.
Entre os filmes que marcaram o seu percurso contam-se 'Harry Potter e os Talismãs da Morte', partes 1 e 2, 'Diamantes de Sangue', de Edward Zwick, 'Belle du Seigneur', de Glenio Bonder, e 'A Promise', de Patrice Leconte.
No cinema português, assinou a fotografia de obras como 'Sem Sombra de Pecado' e 'A Mulher do Próximo', de José Fonseca e Costa, "'O Processo do Rei', de João Mário Grilo, 'Amor e Dedinhos de Pé', de Luís Filipe Rocha, e 'O Delfim", de Fernando Lopes.
Eduardo Serra recebeu os graus de comendador e de grande oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2004 e 2017, respetivamente, e o Prémio Sophia de Carreira, em 2014, da Academia Portuguesa de Cinema.
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