"Do acervo que vai estar patente na exposição temporária unicamente dez objetos saem da exposição de longa duração, mais de duas centenas de peças saem da reserva do museu e uma percentagem significativa são peças que nunca foram mostradas", revelou à Lusa o diretor MNSR e da Casa-Museu Fernando de Castro, António Ponte.
Atualmente, de um espólio com mais de 18 mil bens culturais, apenas 1.400 estão acessíveis ao público através da exposição de longa duração.
A exposição temporária "Horizontes Partilhados: Viagens e Transformações" traz à luz do dia mais de 230 objetos que compõem as reservas, biblioteca e o arquivo não só do MNSR como da Casa-Museu Fernando de Castro, numa narrativa construída a partir do tema orientador da programação do MNSR para 2025: Confluências e Criação.
Nas reservas do MNSR, explicou António Ponte, encontram-se numerosos objetos que testemunham uma longa história de contactos e de relações, diretas e indiretas, entre Portugal e diversos pontos do mundo, que conduzem a uma reflexão sobre as convergências e os processos de criação do quais resultou o que é, hoje, o património cultural português.
Com comissariado literário do escritor Gonçalo M. Tavares -- uma novidade - e comissariado científico de Ana Bárbara Barros, José da Costa Reis e Paula Fortuna Oliveira, a mostra estrutura-se em três núcleos centrais - Objetos e Viajantes, O Olhar (d)o Outro e Contaminações -, abrindo com dois marcos miliários romanos (colunas de pedra utilizadas para marcar distâncias nas estradas romanas).
"Estamos a falar das grandes viagens, para além da própria História de Portugal, mas que de alguma forma refletem a importância destes objetos que nos induzem a olhar para estas viagens como transformadoras", detalhou António Ponte, dando como exemplo "o alto-relevo da 'Fuga para o Egito' [que estará em exposição], uma viagem mítica, bíblica, que traz a perspetiva de que ao longo da história da humanidade, a viagem foi sempre uma constante e que muitas vezes condicionou a forma de ver o mundo".
A exposição implicou uma reflexão interna alargada e tem representadas "quase todas as coleções" do MNSR - pintura, escultura, cerâmica, têxteis, documentos e lapidária --, conduzindo o visitante numa viagem por África, Índia, China, Japão e Brasil.
"[Nesta exposição] há uma peça que é muito curiosa: o mastro da embarcação do D. Pedro [IV], da sua viagem entre o Brasil e Portugal quando veio para as lutas liberais. É uma peça muito simbólica do ponto de vista histórico e da dimensão sentimental de parte desta coleção", contou, antecipando ainda que a exposição integrará um conjunto de tapeçarias muito relevante da coleção do MNSR, bem como, entre outras, um Godrim, colcha de abafo indiana recentemente restaurada.
À Lusa, António Ponte adiantou estar também a preparar "um conjunto de novas exposições com objetos que tradicionalmente estão em reserva, a apresentar ainda no final deste ano e inicio do próximo, trazendo "novas leituras e novos cruzamentos de peças do museu com peças artísticas contemporâneas".
Com inauguração agendada para quinta-feira, a exposição temporária "Horizontes Partilhados: Viagens e Transformações" ficará patente no MNSR até 22 de novembro, tendo entrada livre para residentes em Portugal.
Leia Também: Presença recorda "tradutor brilhante" e "companheiro" que foi Filipe Guerra