A participação de Israel na 69.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, em Basileia, na Suíça, levou a momentos de tensão entre a televisão pública espanhola RTVE e a União Europeia de Radiodifusão (UER) e até o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, foi envolvido. Mas, afinal, o que aconteceu?
As críticas começaram em abril, um mês antes do concurso, quando a RTVE pediu a "abertura de um debate" sobre a participação da estação israelita KAN e lembrou as "preocupações apresentadas por vários grupos da sociedade civil em Espanha", relacionadas com a "situação em Gaza".
O mesmo pedido viria a ser abordado na segunda semifinal da Eurovisão, na passada quinta-feira.
No prólogo da atuação da candidata israelita, Yuval Raphael, os comentadores espanhóis Tony Aguilar e Julia Varela recordaram que a RTVE pediu formalmente à organização do festival para que se abra um debate sobre a continuidade de Israel. Os comentadores sublinharam ainda as "mais de 50 mil" mortes de palestinianos, incluindo 15 mil crianças.
El mensaje de RTVE antes de #Eurovision2025: "Frente a los derechos humanos, el silencio no es una opción. Paz y justicia para Palestina" #EurovisionRTVE https://t.co/x3mkEt0tbW pic.twitter.com/epV46XPkV7
— RTVE Noticias (@rtvenoticias) May 17, 2025
Face aos comentários, a UER advertiu a RTVE de que seria multada se voltasse a repetir as declarações na final de sábado. Numa carta, dirigida à chefe da delegação espanhola, Ana María Bordas, a organização recordou a RTVE que as regras da Eurovisão "proíbem as declarações políticas que podem comprometer a neutralidade do concurso".
"O número de vítimas não tem lugar num programa de entretenimento apolítico, cujo lema 'Unidos pela música' encarna o nosso compromisso com a unidade", lia-se no texto, a que a imprensa espanhola teve acesso.
No entanto, apesar da ameaça da UER, antes da final de sábado, a televisão espanhola publicou nas suas redes sociais e emitiu uma mensagem num fundo preto, onde se lia: "Perante os direitos humanos, o silêncio não é uma opção. Paz e justiça para a Palestina"
Posteriormente, o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, defendeu a exclusão de Israel da Eurovisão e de outras competições internacionais, tal como aconteceu com a Rússia após a invasão da Ucrânia, em 2022.
"Não podemos permitir duplos 'standards'", disse Sánchez, realçando que "ninguém levou as mãos à cabeça" quando a Rússia foi excluída de competições desportivas internacionais ou de iniciativas como a Eurovisão.
Além da presença, também a votação do público espanhol, que atribuiu 12 pontos - o máximo - a Israel, foi alvo de críticas e levou a RTVE a pedir uma autoria ao televoto.
O ministro israelita da Diáspora e da Luta contra o Antissemitismo chegou mesmo a considerar que a pontuação do televoto espanhol foi uma "bofetada" na cara do primeiro-ministro de Espanha.
Na rede social X, Amichai Chikli, numa mensagem dirigida a Pedro Sánchez, face aos 12 votos recolhidos pela canção israelita no televoto espanhol, escreveu: "Sánchez, parece que os espanhóis falaram e a bofetada na cara foi ouvida aqui em Jerusalém".
Sanchez, parece que los españoles han hablado y la bofetada la hemos escuchado aquí en Jerusalén.@sanchezcastejon pic.twitter.com/hRYC3bsII6
— עמיחי שיקלי - Amichai Chikli (@AmichaiChikli) May 18, 2025
Também a televisão pública de língua neerlandesa da Bélgica, VRT, exigiu à organização do Festival Eurovisão "total transparência" sobre o sistema e as regras de votação, e pôs em causa a participação da emissora em futuras edições do concurso.
A emissora interrompeu a sua transmissão durante a atuação de Israel na final, tal como já tinha feito em 2024, e exibiu um ecrã negro criticando as violações dos direitos humanos em Gaza, o silêncio da imprensa, e apelou a um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
La TV belga VRT durante l'esibizione dell'artista Israeliana. (Sì, ho tradotto con google translate) #eurovision #escita pic.twitter.com/kKuXvMYKFg
— LALLERO (@see_lallero) May 17, 2025
A polémica surge após Israel ter ficado em segundo lugar no concurso, estando prestes a superar a Áustria, que venceu nos momentos finais, entre celeumas ligadas à grave situação humanitária na Faixa de Gaza.
A atuação israelita obteve apenas 60 pontos por parte do júri profissional, ficando na décima quinta posição, mas somou também 297 pontos do voto popular, que representa 50% da ponderação no resultado final.
Por sua vez, a Áustria recebeu 258 pontos do júri e 178 pontos do público.
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