Peça 'A Grande Reunião' estreia no Teatro Meridional esta semana

A peça 'A Grande Reunião', de Mário Botequilha, que o Teatro Meridional estreia no dia 14, em Lisboa, tem por eixos a manipulação, o poder e a "dimensão maquiavélica" das suas tramas, disse o encenador Miguel Seabra à agência Lusa.

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Lusa
10/11/2024 23:57 ‧ há 4 semanas por Lusa

Cultura

Teatro

"Os grandes senhores do mundo", banqueiros, políticos, os protagonistas dos encontros Bilderberg, "todos esses perfis sociais facilmente identificados com personagens não só de Portugal, como do mundo", inspiraram o espetáculo, disse o encenador.

 

Para Miguel Seabra, é um espetáculo "muito apropriado depois do que se passou com a eleição daquele senhor para presidente dos Estados Unidos da América".

Com texto original de Mário Botequilha, 'A Grande Reunião' é posta em cena como 'commedia dell´arte', sem faltarem as máscaras, a lógica de humor e de improviso, nem a figura tipificada deste tipo de teatro originário de Itália, o Pantalone.

Xilofone, Mascarpone, Cicerone, Anticiclone e Burlone são os nomes dos cinco 'Pantalones' que evocam os senhores do mundo, "banqueiros, industriais, homens de negócios", continuou a enumerar Miguel Seabra, numa relação de "todas essas" figuras responsáveis "pelas tramas de poder e pelas zonas de pouco acesso, ou nenhum, para as pessoas comuns", onde essas tramas "são cozinhadas".

Ricardo Salgado, que sofre de Alzheimer e responde em tribunal por 62 crimes alegadamente praticados entre 2009 e 2014, associados à derrocada do Grupo Espírito Santo, "um dos senhores que mais roubou, enganou e manipulou toda a sociedade portuguesa", levando "muitas famílias à falência", nas palavras de Miguel Seabra, Donald Trump, "um mentiroso, racista, xenófobo e facínora, que instigou o ataque ao Capitólio", já condenado na justiça e em quem "80 milhões pessoas votaram" nas recentes presidenciais dos Estados Unidos, ou o "antigo primeiro-ministro José Sócrates", que ainda aguarda julgamento, são, segundo Miguel Seabra, algumas das figuras que o público pode rever na peça.

"As pessoas pensam que os Pantalones são uma aristocracia, como a do czar da Rússia ou os lémures de Madagáscar. Mas não. O nosso modelo hereditário é mais parecido com o de uma estrebaria" - uma das falas da peça que satiriza os "donos do mundo, que nem se sabe bem quem são", segundo Miguel Seabra. Mas que causam o caos económico, desastres ambientais e ditaduras populistas, acrescentou.

"O dinheiro é a ordem, é a prova inequívoca da existência de Deus, pois é perfeito, logo divino. No princípio, Ele criou o Céu e a Terra. Achou 'poucachinho'. E [então] criou a Moedinha", diz-se em 'A Grande Reunião'.

O espetáculo não tem, todavia, qualquer pretensão moralista, sublinhou o encenador. Essa nunca foi a pretensão do Teatro Meridional.

Entre as funções da arte, prossegue Miguel Seabra, está "levantar tapetes, apontar, chamar as coisas pelos nomes, criar dimensões trágico-cómicas que levem as pessoas a acordar, refletir, divertirem-se e com isto ajudar o mundo a ir para a frente, a não se conformar", concluiu.

'A Grande Reunião' é o quinto texto original de Mário Botequilha para a companhia sediada no Poço do Bispo, em Lisboa.

A interpretar estão Carlos Pereira, Catarina Mota, Diana Costa e Silva, Emanuel Arada, Henrique Gomes e José Mateus.

Em cena de 14 de novembro a 22 de dezembro, 'A Grande Reunião' tem sessões de quarta-feira a sábado, às 21 horas, e, ao domingo, às 16 horas.

No dia 8 de dezembro terá interpretação em Língua Gestual Portuguesa. O espetáculo conta ainda com uma sessão "excecional", em 9 de dezembro, uma segunda-feira, direcionada, segundo Miguel Seabra, para profissionais com horários de trabalho semelhantes aos dos artistas.

O espaço cénico e os figurinos são de Hugo F. Matos, a música original e o espaço sonoro de Rui Rebelo, a assistência de encenação de Nádia Santos enquanto o atelier 'commedia dell'arte' é de Tobias Monteiro.

A criação seguinte do Teatro Meridional, a estrear em março de 2025, terá texto original de José Luís Peixoto e incidirá sobre questões relacionadas com imigração, revelou à Lusa Miguel Seabra.

Leia Também: Atriz Alina Vaz amava o teatro e tinha "orgulho sem falsa modéstia"

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