O realizador brasileiro sublinhou esta ideia de resistência do povo brasileiro perante a atualidade política, na quarta-feira na estreia do filme 'Bacurau' no Festival de Cinema de Cannes (França), correalizado com Juliano Dornelles.
Kleber Mendonça Filho voltou a Cannes três anos depois de ter lá apresentado o filme 'Aquarius', com direito a protesto na passadeira vermelha, na altura contra o processo de destituição da então Presidente eleita do Brasil Dilma Rousseff.
Desta vez sem protestos, Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles disseram que 'Bacurau' vale por si só como declaração de comprometimento político com a realidade.
Novamente com a atriz Sonia Braga no elenco, 'Bacurau' é um 'western' ambientado no sertão brasileiro que 'mostra um Brasil distópico, com rixa acirrada entre norte e sul e armado até ao talo. Não faltará quem veja aí ecos do país sob o governo de Bolsonaro, ainda que o projeto date de 2009', escreveu o jornal Folha de São Paulo.
Em Cannes, os realizadores explicaram que a ideia de 'Bacurau' tem pelo menos dez anos.
"Quando nós escrevemos o filme, [Donald] Trump era apenas uma piada e foi eleito. [...] Bolsonaro foi eleito. O impacto que isso teria no filme, no que estávamos a fazer tornou-se obsoleto pelos eventos", disse Kleber filho.
Juliano Dornelles recordou que o argumento até tinha algum humor, mas no final a realidade brasileira "tornou o filme muito mais sério", e acrescentou: "Todas as semanas no Brasil, é como se tivéssemos um trailer de 'Bacurau' nos jornais".
O festival de Cinema de Cannes começou na quarta-feira.