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"Somos como as raízes da Madonna, vivemos só a verdade que nos convém"

É um dos grandes humoristas portugueses, senão o maior. Igual a si mesmo, nunca perde uma oportunidade de dar o ar da sua graça, literalmente. Estivemos à conversa com o comediante que atravessou gerações e que continua a ser amado, com o homem que é capaz de se adaptar às circunstâncias, mesmo que à partida estas não lhe pareçam favoráveis. Herman José é o entrevistado de hoje do Vozes ao Minuto.

"Somos como as raízes da Madonna, vivemos só a verdade que nos convém"
Notícias ao Minuto

14/11/17 por Mariline Direito Rodrigues

Fama Herman José

Foi num final de tarde quente de outono que encontrámos Herman José nos estúdios a acabar de gravar o seu programa na RTP1, 'Cá Por Casa'. Sempre com um sorriso no rosto, o humorista levou-nos até ao seu camarim, para uma conversa informal, mas intensa. Herman é dono de um talento para desconstruir os assuntos mais sérios. Aos 63 anos considera-se um homem de sorte por ainda não ter chegado à pura velhice. No entanto, já se prepara para essa fase. Para ser um velho interessante, útil, que não precise de esconder as suas fragilidades como a Madonna esconde o cabelo grisalho com falsas raízes pretas. 

Como tem sido gravar o programa ‘Cá Por Casa’?

É um programa multidisciplinar, no fundo, contém tudo aquilo que tenho feito ao longo dos anos. Tem humor com a Maria [Rueff], a música que adoro, convidados musicais, ‘slots’ de entrevista, portanto, é uma espécie de um 'best of'. O que o distingue dos meus programas anteriores é que agora ganhei um conhecimento que o próprio tempo dá, que permite que numa hora consiga juntar todas as coisas e não dar um ar que está tudo a acontecer ao mesmo tempo. O que não deixa de ter piada, porque no outro dia a minha mãe disse-me que queria vir assistir às gravações e eu perguntei-lhe: ‘Entre as 10h00 da manhã, em que começamos, e as 02h00 da madrugada, em que acabamos, em que altura é que queres assistir ao programa?’.

Teve sempre o sentido de humor apurado ou foi algo que foi construindo com o tempo?

Qualquer talento acho que tem de nascer connosco. Não pode haver humoristas forçados, da mesma maneira que por muito que fizesse não era capaz de jogar futebol, não posso, não tenho talento.Percebi que tinha um talento específico e acho que tenho trabalhado mais do que qualquer colega meu Tentava jogar quando era mais novo?

Sim, para ver se me integrava com os outros colegas, mas tenho total ausência de talento. Temos de escolher aquele [talento] que nos dá mais bem-estar ou rendimento e de nos cultivar para irmos melhorando cada vez mais. Se trabalharmos muito, pode acontecer como o Saramago, que passou de um escritor normalíssimo, a um escritor interessante, a um escritor bom e que, de repente, para lá dos 70 anos de vida, conseguiu inclusivamente chegar ao prémio Nobel tal foi a evolução. Ou como a Mariza, que começa timidamente a imitar a Maria da Fé, depois a imitar umas coisinhas da Amália e descobre-se a ela própria. Todos os grandes intérpretes, ou artistas, têm um processo de crescimento continuado. No meu caso é igual, percebi que tinha um talento específico e acho que tenho trabalhado mais do que qualquer colega meu.

Porquê?

Porque produzi imenso. Horas, horas e horas de televisão. Faço centenas de espetáculos por ano, não só porque me dá o maior prazer, mas também porque tenho a capacidade de multiplicar o tempo. Se for para Nova Iorque fazer um espetáculo e depois para Toronto, os quatro dias de intervalo correspondem a um mês para mim. Aproveito muito o dia a dia.

A sua carreira sempre foi assim muito intensa.

Sempre fui um trabalhador intenso. Quando comecei a dar explicações para comprar o meu primeiro carro, era o que dava mais horas, mais caras, e o que tinha melhores resultados. E passado um ano comprei um Alfa Romeo.

Sou como aqueles burros que têm de ter a cenoura à frente. Sem a cenoura, não me peçam para fazer nada que não me mexo E na escola era bom aluno?

Não, não. Na escola nada disto se aplica, só se aplica quando é a troco de remuneração. Sou como aqueles burros que têm de ter a cenoura à frente. Sem a cenoura, não me peçam para fazer nada que não me mexo.

Então como é que se motivava nesse tempo?

Na escola não me motivava, era um frete horrível. Odiava ter de estudar, odiava exames, odiava tudo. Assim que comecei a dar explicações e a perceber que a cada hora de explicação ganhava 80 escudos, aí passei a adorar. Tudo o que seja trabalho adoro… por causa da remuneração.

Como é que a sua mãe lidava com isso?

Nunca percebeu nada, ainda hoje não percebe. Quando ela me pergunta, por exemplo: ‘Então e este fim de semana?’ eu respondo: ‘Este fim de semana vou para Braga, depois para o Porto e ainda Seixal’. E ela questiona: ‘Mas porque é que ainda trabalhas tanto? Podias parar, ter uma vida menos cara e não te estar a incomodar e a trabalhar tanto’. Ela não percebe que o trabalho em si mesmo é também um prazer.

Acho que há limites para os quais a vida não faz sentido. Por isso é que sou um apoiante fervoroso da eutanásiaImagina-se sem trabalhar?

Imagino se fisicamente ficar debilitado. Sou muito pragmático. No outro dia estava numa conversa em que pessoas discutiam até que estágio é que achariam a vida suportável. Francamente, desde que, pelo menos, possa ter os sentidos da visão e da audição, não preciso de muito mais. Saio ao meu pai, tenho uma grande facilidade em me distrair com ficções, literaturas. Se tivesse de parar por razões físicas, tenho imensas maneiras de ser feliz. Mas também percebo um grande ator brasileiro, que era o Walmor Chagas, que se reformou e foi viver para uma quinta longínqua, e que era profundamente feliz. Mas depois perdeu a visão e não aguentou e matou-se, deu um tiro e acabou com a vida. Acho que há limites para os quais a vida não faz sentido. Por isso é que sou um apoiante fervoroso da eutanásia, acho que devíamos ter direito a dizer quando é que a dor de estar vivo é maior do que o prazer. Acho isso um privilégio. A discussão que se põe ao nível de outros tomarem a decisão por nós é que já é muito complicada.

Como artista sente-se solitário?

Não, sou um felizardo nesse aspeto. Não aguento estar rodeado por muita gente, já bem bastam os espetáculos. Na minha vida privada adoro companhia, mas não muita. Para mim, uma mesa com seis pessoas já é maravilhoso, com oito já começa a ser uma multidão.

Não tenho pachorra para noitadas, nem para barulhos, ou discotecas

Quem é o Herman fora dos palcos?

Continuo a ser um grande trabalhador, ou a escrever para televisão ou a preparar-me para os espetáculos. Mas quando paro, sou um tipo muito calmo, no sentido em que não tenho pachorra para noitadas, nem para barulhos, ou discotecas.

Sempre foi assim, mesmo sendo artista? Normalmente associa-se o divertimento a uma carreira como a sua…

É verdade. Mas não, sou completamente o que se chama o ‘careta’. Bebo champanhe, pouco, é o único álcool que bebo. Já não fumo há 15 anos. Drogas zero, nem cocaínas, nem ervas, nada. E tenho uma grande necessidade de ter paz e de dormir bem. Aos 50 anos ia para Ibiza e adormecia no jantar ao colo das minhas amigas, porque às 08h00 da manhã já estava com o barco no mar.

Presenciou casos de pessoas que se perderam no mundo do espetáculo?

Pessoas que se perderam não, mas pessoas que se destruíram por excessos, sim. O maior excesso de todos, que ainda hoje é um flagelo, continua a ser o tabaco. A maior parte dos casos de sofrimento que conheço da minha geração tem só a ver com o tabaco. Destrói tudo silenciosamente.

Ao longo da sua carreira o Herman teve a oportunidade de trabalhar em inúmeras áreas. No entanto, é verdade que a música sempre foi o seu plano A?

Foi o meu primeiro plano A, depois percebi que dificilmente me ajudaria a concretizar o meu primeiro plano A de vida, que era viver muito bem. Um músico, sobretudo em Portugal, não ganha para ter uma vida muito interessante. A cenoura era muito pequenina, precisava de uma cenoura um pouco mais interessante e essa descobri-a na minha profissão, em que trabalhando muito era possível ganhar o suficiente para viver muito.

Cheguei a ter um mês em que estava em Ibiza a fazer espetáculos e fazia as viagens de avião privado. Gastava no aluguer do avião privado precisamente o mesmo ou mais do que ia ganhar. Mas poder fazê-lo, ter um tipo fardado que me ia buscar ao porto, depois voltar para o barco, era uma coisa que me dava de tal maneira prazer, que não me importava de não ganhar um tostão, porque estoirava tudo. 

Em espetáculos para emigrantes, quase que pago para trabalhar. Vou com muito gosto, mas depois gosto tanto de ficar bem instalado, de ir ver bons espetáculos, de estar em conforto, que acabo por gastar mais do que vou ganhar.

Tenho a síndrome da última folha de catálogo, deixa cá ver qual é a melhor. É uma loucura Considera-se materialista?

Não, porque materialista não sou nada, não sou agarrado a nada. Tenho a síndrome da última folha de catálogo, deixa cá ver qual é a melhor. É uma loucura.

A fama é um luxo ou nem por isso?

Vou ser terrivelmente realista: acho que ser famoso num pequeno país não é verdadeiramente ser famoso. Penso que se Portugal e Espanha fossem um país chamado Ibéria, e se uma pessoa fosse conhecida nessa Ibéria, e consequentemente tivesse um mercado da América do Sul, isso já acho que seria ser famoso. Ser famoso em Portugal é uma coisa muito relativa. Ter a sorte de ser conhecido, sim. Para mim, famoso é o Cristiano Ronaldo ou uma Madonna, isso são pessoas famosas, existem para além dos países. Uma pessoa que chega a Badajoz e que ninguém sabe quem é, para mim não é famosa.

De todo o seu caminho, consegue eleger um auge?

Foi a festa de aniversário dos meus 40 anos, estava tudo certo. Foi o ano em que ganhei mais dinheiro, o ano em que comprei a minha casa em Lisboa, juntei dois apartamentos e fiz a minha festa de anos lá, com a Amália à minha direita - tinha 74 anos, ainda estava ótima. Era tudo jovem, o jovem Santana Lopes, o jovem Paulo Portas. Era uma fase única da vida portuguesa. Portugal tinha começado a organizar-se e havia dinheiro da Europa. Apareciam os primeiros carros bonitos, as primeiras casas bonitas, as primeiras revistas. Estava fisicamente fantástico, tinha perdido peso. Estava a fazer um programa de televisão - ‘Parabéns’ e depois também a ‘Roda da Sorte’. Foi o meu pico absoluto, que com muita pena minha, não percebi que era na altura.

Por outro lado, também é muito associado ao programa que teve na SIC - ‘Herman SIC’. O Herman que se via lá era o ‘puro e duro’ ou era adaptado à necessidade de audiências?

Era uma pessoa muito preocupada.

Em 2001, aconteceu uma coisa terrível que foi o ‘Big Brother’, que  desaustinou completamente os planos da SICMas conseguiu desfrutar do sucesso?

No primeiro ano, sim, a SIC estava na maior, tínhamos vedetas vindas de todo o mundo. Lembro-me que havia programas em que nos corredores os papéis afixados nas portas pareciam partidas. Havia pessoas que chegavam e diziam: ‘Isto é uma partida, não é?’. Víamos Sting, Anastacia, Tom Jones, Norah Jones, David Copperfield, parecia de malucos.

Em 2001, aconteceu uma coisa terrível que foi o ‘Big Brother’, que começou a ter um êxito muito grande na TVI e que desaustinou completamente os planos da SIC. O que o Rangel queria fazer era pegar naquelas audiências todas e tornar a SIC cada vez mais civilizada, mais cultural, menos pimba. E esses projetos caíram completamente pelo chão. Justiça seja feita, a TVI teve duas grandes vitórias na altura: o ‘Big Brother’ e os ‘Jardins Proibidos’. Lembro-me de um dia sairmos daqui para o Alentejo para fazermos umas filmagens, eu era super vedeta é claro, e as meninas do café da bomba pegaram todas em papéis para pedir autógrafos e preparei-me para dar autógrafos... não era para mim, era para Lídia Franco, por causa da personagem que ela estava a fazer na novela. Achei isto de tal maneira fora do comum, que tive necessidade de avisar o Rangel na altura. Ele não ligou nenhuma.

Tinha noção de que a perda de audiências poderia acontecer dessa maneira?

Tive a perceção de que o ‘Big Brother’ ia ser um sucesso gigantesco, porque tinha vindo dos Estados Unidos e estava viciado numa coisa que eram as webcam. Como não se pagava Internet na América, os miúdos e as miúdas deixavam as câmaras ligadas em casa e nós escolhíamos pessoas para ver o que elas faziam. Era um vício e foi dele que nasceu o ‘Big Brother’. Tentei explicar isso ao Rangel na altura. O programa era um guião que não estava escrito, era imprevisível.

Pensa que o ‘Herman SIC’ acabou abruptamente por causa disso?

Não, depois houve uma crise grande, porque andei à procura de audiências a todo o custo. Era muito difícil de fazer, tinha duas horas e meia, trabalhei que nem um macaco. No final, acho que ganhámos a sua alma, mas depois mudou a direção de programas e isto é um pouco como a mudança de governos, eles querem deitar fora os produtos que estão antes e fazer novos. Achei uma tristeza enorme, mas é a vida.

Não imagino maior privilégio do que isto, poder fazer o que se gosta com total liberdadeO Herman teve a oportunidade de passar pelos três canais, embora pela TVI tenha sido uma passagem muito curta. Dos três qual o mais marcou?

Eu sou um produto da RTP e até mesmo isto que estou a fazer é muito subjetivo. Ok, não é líder de audiências, mas é um sítio onde se vai cantar ao vivo, onde há uma Rueff. Quando há essa generosidade de patrocinar essa diferença e o mérito, só um canal público o pode fazer. Estou eternamente grato por isso. Não imagino maior privilégio do que isto, poder fazer o que se gosta com total liberdade.

Acho que não há nada que nos possa destruir, só mesmo a falta de saúdeNos momentos mais difíceis da sua carreira, nunca se sentiu esquecido?

Não, porque os espetáculos não deixam que isso aconteça. Recentemente fiz uma dessas minhas brincadeiras no Instagram e no Facebook e houve um tipo que disse: ‘Já é tempo de arrumares as botas, pá. Já não tens piada, já ninguém te pode ver’. Eu respondi com uma fotografia de um festival que tinha acabado de fazer em Portimão e que tinha para aí 30 mil pessoas. Responde o gajo: ‘Pois, põe fotografias antigas para ver se te safas’ [risos].

Eu estou sempre com o público, crio um canal paralelo. Acho que não há nada que nos possa destruir, só mesmo a falta de saúde. O verdadeiro sofrimento é não ter saúde para fazer as coisas.

Em relação às redes sociais, sente que o aproximaram mais do público, ou o contrário?

Aproximaram-me, sobretudo dos miúdos novos, porque é uma realidade diferente que até a mim me apanhou de surpresa. Há um ano comecei a fazer umas brincadeiras com uma aplicação que descobri e de repente…

O que também serviu para mostrar um pouco mais do Herman. Por exemplo, tinha noção de que o seu comentário sobre a Madonna iria ter tanto destaque?

Não, foi completamente surreal, sendo que era um falso problema, porque a Madonna tem cabelo branco, ela não tem raízes. O que é ainda mais engraçado, porque é uma polémica à volta de uma coisa que não existe.

Este governo espanta-me imenso por ter esta sobrevida toda. Só um político genial como o António Costa podia manter este equilíbrioRecentemente também usou as redes sociais para fazer uma apreciação satírica em relação à agora ex-ministra da Administração Interna. Este governo é mais um desgoverno ou estamos no caminho certo?

Este governo espanta-me imenso por ter esta sobrevida toda. Para já, só um político genial como o António Costa podia manter este extraordinário equilíbrio. A Esquerda percebeu que se não se chegasse à frente para apoiar Costa, voltaríamos a uma lógica que eles combatem, uma lógica mais centro-direita. Também é original o Costa ser um tipo tão esperto e dialogante. A verdade é que nós somos um pouco como as raízes da Madonna, vivemos só a verdade que nos convém. Ninguém se preocupa em dizer que não existem, porque ela é grisalha. O mesmo aconteceu com os incêndios. O Governo falhou, a ministra era péssima, que vergonha isto que aconteceu. Apetece perguntar: Então e a Galiza? Que teve na mesma altura o mesmo número de incêndios e também teve mortos. A culpa foi também do Costa e da ministra? Ou será que não houve aqui uma grande componente de catástrofe natural. Isto não desculpabiliza muitas falhas governativas ao longo dos anos, mas precisamos de bodes expiatórios.

Acho uma pena a Maria Vieira estar a vender mentira na qual ninguém acreditaA Maria Vieira também foi outra revelação das redes sociais, que afirma que tudo o que publica no Facebook é da sua autoria. Acredita?

Não, de maneira nenhuma, e acho uma pena estar a vender essa mentira na qual ninguém acredita. Eu não tenho nada contra as ideias, não estou a fazer nenhum juízo de valor, dentro da legalidade democrática acho que tem todo o direito de exprimir as suas opiniões. Por outro lado, talvez tivesse sido inteligente, e eles ainda vão a tempo [Maria Vieira e o marido], de explicar às pessoas que são uma espécie de um consórcio. As ideias são também minhas, mas o meu marido é o meu ‘ghost-writer’ ['escritor fantasma']. Ele é que tem ligação com a escrita. Esta polémica só acaba por existir porque todos nós que sempre estivemos muito perto da Maria durante todos estes anos sabemos que ela não escreve.

Esta faceta da Maria surpreendeu-o?

Não. De repente descobrem que podem ser notícia no Facebook e criar buzz. O Oscar Wilde dizia que qualquer publicidade era boa, mesmo a má, falem de mim, bem ou mal, desde que falem. Podiam perfeitamente criar o mesmo buzz, mas assumindo que são uma dupla.

Gostava de ser um velho giro, um velho realizado, com público e feliz Quanto ao Herman, o que ainda lhe falta fazer?

Falta-me ser um velho terrivelmente inteligente. Estou naquela fase em que ninguém olha para mim e diz que está ali um senhor de idade, não acontece. Mas tenho a noção absoluta em que há uma altura, que é rápida, em que a pessoa passa a ser verdadeiramente uma pessoa de idade. Tem de se ter uma inteligência e uma arte próprias para podermos continuar a envelhecer na nossa profissão não sendo patético. Eu luto para isso. Cada vez toco mais instrumentos e melhor, cada vez os meus espetáculos são mais artísticos. Tento fisicamente manter-me em forma, não passar além dos limites. Gostava de ser um velho giro, um velho realizado, com público e feliz. Acho que nós pensamos pouco nisso. As pessoas não param para pensar que tipo de velho/a querem ser. Queremos ir para o lar como a nossa avó ou queremos ser velhos diferentes? Se não nos prepararmos profissionalmente vamos ser uns inúteis quando chegarmos ao 60, 70, porque neste momento estamos só a viver do nosso aspeto físico. Devia haver uma disciplina de vida para se pensar sobre isto.

Não quero saber como me recordam, não vou estar cá

Como é que gostava de ser lembrado?

É-me indiferente, completamente. A partir do momento em que acabo uma coisa estou-me completamente a borrifar para tudo. Não quero saber como me recordam, não vou estar cá.

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