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"A IL quer eleitores. Não temos problemas que venham do Chega ou do PCP"

Mariana Leitão, cabeça de lista da Iniciativa Liberal no círculo eleitoral de Lisboa, é a convidada do Vozes ao Minuto desta terça-feira.

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© X / Iniciativa Liberal

Carmen Guilherme
13/05/2025 09:04 ‧ há 6 horas por Carmen Guilherme

Política

Legislativas

Em plena campanha eleitoral e a poucos dias de os portugueses se deslocarem às urnas no âmbito das eleições legislativas de 18 de maio, Mariana Leitão, cabeça de lista da Iniciativa Liberal (IL) por Lisboa, esteve à conversa com o Notícias ao Minuto

 

Nesta entrevista, que aconteceu ainda antes de o Tribunal Arbitral decidir definir serviços mínimos para a greve da CP, a também líder parlamentar da IL fala das propostas que o partido tem para o país e assegura que este "será sempre um garante de estabilidade e estará à altura das responsabilidades", com "exigência". 

Assim se chegam a possíveis acordos pós-eleitorais, especificamente um acordo de governação com a AD. Mariana Leitão lembra que a IL só terá "capacidade de influência com uma votação reforçada" e, por isso, deixa conversas para pastas para mais tarde.

Numa altura em que já assumiu uma candidatura à Presidência da República, diz que mantém esse "compromisso" e que "nada mudou". Não exclui, contudo, a possibilidade de vir a a assumir uma função governativa, algo que diz estar "dependente de inúmeros fatores". 

Se há uma certeza é o "nunca" ao Chega, a quem a IL recusa uma aproximação, defendendo que não há "assuntos de partidos": "Nós queremos eleitores, venham eles de onde vierem", aponta a liberal, referindo que é preciso apresentar "soluções" além das das "fórmulas milagrosas" que "nada resolvem" do partido liderado por André Ventura.

Pedindo aos eleitores que se mobilizem no dia 18, entende que o país, "há demasiadas décadas em estagnação", tem de "mudar". 

Greve na CP? Enquanto isto for um monopólio do Estado, mal gerido, acabam por acontecer este tipo de situações

Antes de irmos às eleições de 18 de maio, não podia deixar de aproveitar a oportunidade para a questionar sobre um tema que tem marcado os últimos dias e que é a greve na CP - Comboios de Portugal. O Governo não pode mesmo resolver este impasse?

O Governo, neste momento, é um Governo de gestão. Portanto, eu percebo algumas das limitações. Acho é que, efetivamente, sabendo das consequências que iriam ocorrer, devia, pelo menos, ter sido mais incisivo nas negociações para tentar ao máximo evitar esta situação. Verdade seja dita, também não se percebe muito bem a decisão do Tribunal Arbitral, que [incialmente] determinou que não havia necessidade de haver serviços mínimos, quando me parece que é do mais elementar bom senso que existam serviços mínimos para garantir que as pessoas conseguem, de facto, chegar ao trabalho. Mas o problema base disto tudo é que a CP tem alguns problemas - necessidade de modernização, os comboios estão muito degradados, há um conjunto de reivindicações dos trabalhadores que também são algumas delas atendíveis ou compreensíveis – agora, era preciso, de facto, haver aqui alguma concorrência neste mercado como forma até de melhorar o serviço prestado às pessoas e até mesmo para melhorar as condições e os vencimentos do trabalhadores. Enquanto isto for um monopólio do Estado, gerido pelo Estado, mal gerido, acabam por acontecer este tipo de situações. Isto não é de agora. No último ano consigo recordar-me de três ou quatro greves. E isto é profundamente injusto para as pessoas, que pagam o passe e ficam completamente impossibilitadas e sem alternativa. 

Recentemente, ouvimos Luís Montenegro admitir a possibilidade de alterar a lei da greve. O líder da IL considerou que o direito à greve é intocável, mas manifestou-se disponível para discutir alterações à legislação laboral. Que alterações são estas? 

Rui Rocha diz que o direito à greve é intocável, como é óbvio, mas, depois, é óbvio que também há maneiras de conseguir garantir que, independentemente do direito à greve estar acautelado, que tem haver, pelo menos, estas questões dos serviços mínimos. 

Mas como é que se acautela isso? Incisivamente, que alterações podem ser essas que o presidente da IL falou?

Eu acho, em concreto, e sem querer entrar em grandes detalhes jurídicos, que a questão que salta mais à vista é a questão dos serviços mínimos. O direito à greve é um direito que deve continuar a existir e que faz parte de um Estado democrático, agora, tem de se garantir que não fica uma população inteira prejudicada por conta desse direito à greve. Porque o direito de uns, no fundo, acaba por prevalecer sobre o direito dos outros, que é o de pagarem um passe e terem direito a andar naqueles transportes públicos. E, depois, há aqui outras questões, que não têm diretamente a ver com a legislação laboral, mas que me parece que são também pertinentes e que são coisas que a IL já propôs. Nós temos uma proposta de reembolsar as pessoas pelos dias em que elas não conseguem ter acesso aos transportes públicos. Não faz sentido a pessoa pagar um passe para ter direito a um determinado transporte, não ter esse transporte, não ter alternativa e tem de pagar a alternativa do seu bolso. Está a pagar duas vezes o mesmo serviço e isso também não faz sentido. E, por outro lado, o que também já falei, de haver aqui uma liberalização do mercado para que não haja uma completa e excessiva dependência de um organismo que funciona mal, que está bastante obsoleto, em termos de linhas, infraestruturas e de comboios, e em que a população fica completamente à mercê dos sindicatos. 

Liberalizar o mercado significa abrir o mercado, não significa que agora a CP passe a ser 100% privada

Já sabemos que a solução para a IL seria privatizar a CP.

Liberalizar. Não é necessariamente só uma questão de privatizar, é uma questão de abrir o mercado.

Isso pode ser, por exemplo, um sistema como o de Itália? Em que não deixa de existir uma empresa estatal, mas em que também há algumas empresas privadas de comboios que têm uma administração regional mais independente, digamos assim?

Claro. É um dos modelos. Liberalizar o mercado significa abrir o mercado, não significa que agora a CP passe a ser 100% privada. A CP até se pode manter pública, não sei se será isso o cenário ideal para o país. Aqui, o importante é dar alternativas às pessoas e as pessoas não estarem dependentes de um monopólio. Nós não gostamos de monopólios, gostamos de mercado e de concorrência. E, dentro desse princípio, a liberalização do mercado, abrir oportunidade a que haja mais concorrentes, no fim do dia, o que causa é uma melhoria na prestação do serviço aos clientes, neste caso à população, e é isso que pretendemos. Neste momento, está tudo dependente da CP e quando a CP falha, falha tudo, o país para.

Há um objetivo declarado e esse objetivo é crescer. Portanto, tudo o que implique não crescer ou ficar na mesma, é não cumprir com o objetivo

Olhando para as legislativas, estamos a poucos dias do chamado dia 'D'. O ano passado houve um objetivo muito claro da IL, queriam 12 deputados, não conseguiram concretizar essa meta. Este ano, não há, digamos, a assunção de um número, um objetivo declarado. Porque é que isto acontece? Há receio de falhar?

Há um objetivo declarado e esse objetivo é crescer. Portanto, tudo o que implique não crescer ou ficar na mesma, é não cumprir o objetivo. Parece-me que é justo começar por dizer isto. Agora, não há uma métrica? Não, não há uma métrica porque, de facto, o crescimento pode ser aquilo que os portugueses nos quiserem dar e há uma expectativa grande. Temos uma convicção profunda de que vamos, de facto, crescer e, como temos feito até agora, de forma sustentada e muito convictos das nossas ideias e do caminho que é preciso para que as pessoas também adiram às nossas ideias. Temos toda a paciência do mundo. Foi uma opção não estar a impor um número concreto. Numa lógica de crescimento sustentado também não sei se faz grande sentido assumir um número só porque sim, posso dizer que são 10, ou que são 12, ou que são 20, ou que são 40... Qualquer crescimento que seja feito pelo mérito das nossas propostas, pela confiança que conseguimos transmitir e pela convicção de que as pessoas têm de que as nossas ideias funcionam e de que somos necessários para ajudar a mudar o país, já é algo que no deixará sempre extremamente satisfeitos e a cantar vitória.

É lamentável estarmos nestas eleições por conta de um caso pessoal e não por conta de questões que interessem efetivamente ao país

Pelas declarações dos últimos dias, já percebemos que Rui Rocha, presidente da IL, não fecha a porta a uma coligação pós-eleitoral, mas já disse anteriormente que só aceitaria um acordo de governação com a AD - Coligação PSD/CDS se fosse esclarecido o que havia para esclarecer sobre a Spinumviva. A Mariana considera que, neste momento, está tudo esclarecido sobre a empresa familiar de Luís Montenegro?

Antes de mais, deixe-me dizer que é lamentável estarmos nestas eleições por conta de um caso pessoal e não por conta de questões que interessem efetivamente ao país. Não deixa de ser lamentável que o Governo e Luís Montenegro, na altura da discussão do Orçamento do Estado, não tenham tido qualquer problema em ceder em toda a linha ao Partido Socialista para evitar eleições, porque queriam garantir estabilidade, mas, uns meses depois, por causa de um caso pessoal, já não tiveram problema nenhum em mandar o Governo abaixo, em ir para eleições. Acho que é importante deixar esta nota, porque uma coisa é a defesa das nossas ideias e dos nossos princípios e, aí, é óbvio que é mais fácil entender as consequências - porque as pessoas de facto estão a ser leais ao programa eleitoral que apresentaram a eleições na altura, às suas convicções, às promessas que fizeram aos portugueses -  do que por conta de um caso pessoal.

E, em relação à Spinumviva, em concreto, parece-me que é capaz de ainda haver umas explicações, não sei se são bem explicações... O que acho, pessoalmente, e o Rui Rocha também já tinha tido a oportunidade de dizer isto, é que na altura em que toda esta situação começou, ainda antes, quando Luís Montenegro teve a oportunidade, porque resolveu isto de uma forma que foi entregar à mulher e aos filhos, ele devia, de uma vez por todas, ter abandonado qualquer tipo de ligação direta ou indireta àquela empresa. Quando veio para o Governo, a mesma coisa. Em nenhum desses momentos o fez. E, agora, quando tudo isto se ficou a saber, levantaram-se um conjunto de suspeições, ainda mais obrigação tinha de garantir que as eliminava a todas.  E como é que as eliminava? Afastando-se de qualquer ligação àquela empresa, que era muito mais do que uma mera empresa que geria o património da família, como entretanto se veio a perceber. Pronto, entretanto não o fez e lá está. Agora, a dúvida principal é como é que Luís Montenegro, enquanto primeiro-ministro, vai conseguir garantir que não existe qualquer tipo de conflito de interesses, nem qualquer tipo de influência por parte daqueles clientes relativamente à gestão que o Governo tem de fazer, caso vença as eleições. 

A Iniciativa Liberal, e é isso que temos dito, será sempre um garante da estabilidade e estará à altura das responsabilidades. E isso também implica uma exigência grande para a situação, qualquer que seja o resultado

Então, nesse caso, tendo a Iniciativa Liberal essa posição, não poderá vir a ser uma contradição uma aliança à AD? 

Para já, é preciso sabermos o resultado das eleições para podermos falar nesses cenários. E, depois, há todo um caminho que é preciso ser feito até chegarmos a esses cenários. E esse caminho, de facto, existe também. A Iniciativa Liberal, e é isso que temos dito, será sempre um garante da estabilidade e estará à altura das responsabilidades. E isso também implica uma exigência grande para a situação, qualquer que seja o resultado. Quanto mais força a Iniciativa Liberal tiver, e essa força vem do voto, maior será a nossa capacidade não só para manter estes níveis de exigência altos, relativamente aos princípios, à forma como se está no exercício de uma função pública, na forma como se gere um país, na responsabilidade para com os portugueses, mas também nas políticas que podemos implementar, que são políticas muito mais ambiciosas.

Uma coisa muito importante: toda a gente faz muitas promessas, mas há uma coisa em que ninguém toca, praticamente, que é na necessidade de reformar o Estado e tornar o Estado muito mais eficiente. E, aí, a Iniciativa liberal tem ideias muito concretas para garantir que o Estado se torna muito mais eficiente. Isto não é, ao contrário daquilo que nos dizem, ou nos tentam atacar 'ah, vocês é o Milei e a motosserra e querem acabar com o Estado'. Não é nada disso, nem vamos despedir a Função Pública toda, não é disso que se trata. Nós temos uma proposta muito objetiva que é: por cada duas pessoas que se reformam -  são pessoas que se vão embora porque querem, porque chegaram à idade da reforma, - só entra uma. Isto não é mandar ninguém embora. 

Mas era também nessa área que a Iniciativa Liberal gostaria de assumir uma pasta no Governo?

Já foi dito pelo próprio presidente do partido que é uma área pela qual nós temos uma aptidão, é algo que, de facto, já estudamos há muitos anos, que nos dedicamos com afinco. Temos defendido essa eficiência, no fundo, o Estado focar-se nas áreas essenciais em que tem de estar focado. Isto é algo que nós defendemos desde o dia em que entrámos para o Parlamento e já o defendíamos antes enquanto partido. E portanto, sim, é uma das áreas em que tenho a certeza que seríamos muito bem sucedidos. Mas, como digo, acho que, nesta altura, o foco deve estar em garantir que as pessoas conhecem as propostas da Iniciativa Liberal e reforçam a votação na Iniciativa Liberal, porque só assim é que nós conseguiremos implementar o que quer que seja, influenciar o que quer que seja e manter padrões de exigência elevados que fazem muita falta hoje em dia.

O objetivo será, quando o país tiver condições para tal, uma eventual taxa única de IRS 

Já que fala de uma matéria que vos acompanha há muito tempo, porque é que deixaram a taxa única de IRS cair de um ano para o outro?

Não, nas últimas eleições eram duas taxas já, que é a mesma proposta deste ano. A proposta não mudou. Nós, no passado já tínhamos tido a taxa única e, entretanto, evoluímos para as duas taxas, mas o objetivo será, quando o país tiver condições para tal, uma eventual taxa única. 

Ou seja, a medida não caiu?

A lógica é uma taxa única, que mantém a progressão. Às vezes, as pessoas acham que a taxa única é beneficiar os mais ricos. Não. A taxa incide sobre a diferença entre o Salário Mínimo Nacional e o vencimento da pessoa. Agora, o que é que acontece? Neste momento, até para garantir alguma transição, porque percebemos que são medidas em que é preciso que as pessoas também se habituem, porque estamos a passar de uma situação em que temos nove escalões e para evitar sermos demasiado drásticos, digamos assim, temos as duas taxas como proposta, que já era a do ano passado e que nos parece ser aquela que, neste momento, face a todas as circunstâncias, também será a que eventualmente acautela melhor os interesses do país, em que temos uma taxa de 15% e uma taxa de 28%.

Qualquer que seja a coligação ou o cenário, tem de ser com base nas ideias, com base nas propostas, com base na nossa capacidade de influenciar uma governação de forma efetiva

Voltando à questão das pastas e à possibilidade de a Iniciativa Liberal vir a integrar uma solução governativa, que outras pastas, além dessa que já falámos, gostaria de ver o partido  assumir?

Vou ser muito sincera... Neste momento, falar em pastas é uma coisa que, a nós, interessa-nos pouco. Só interessaria se, de facto, conseguíssemos fazer aquilo que queremos nas várias pastas e isso implica termos, lá está, uma votação reforçada para conseguirmos ter essa capacidade de influência. Aí, temos ideias fantásticas para todas as pastas e pessoas fantásticas para todas as pastas. Agora, para efeitos de uma eventual coligação, não acho que seja o momento para estarmos a falar disso. O cenário de uma futura, eventual, qualquer que seja a coligação ou o cenário, tem de ser com base nas ideias, com base nas propostas, com base na nossa capacidade de influenciar uma governação de forma efetiva. Isso faz-se através das nossas ideias e das nossas propostas e daí eu dizer com grande insistência que o voto na Iniciativa Liberal é o voto que vai permitir pôr essas políticas em prática e só essas políticas é que vão dar-nos um futuro diferente daquele que temos tido e uma vida melhor às pessoas. 
 

E a Mariana? Já disse que aconteça o que acontecer, será candidata presidencial. Isso significa que está a excluir assumir uma função governativa na próxima legislatura?

Neste momento, o meu foco, é ter um grande resultado no dia 18 de maio. O meu compromisso em relação à Presidência da República é um compromisso que assumi e que continuarei a assumir. Não mudou nada, neste momento não mudou nada. Eu, na altura em que assumi a candidatura à presidência da República, já era deputada, já era líder parlamentar, aquilo que estou a fazer neste momento é candidatar-me a deputada e, portanto, não muda nada em relação à minha situação anterior a estas eleições. O meu foco, neste momento, é garantir - até porque sou cabeça de lista em Lisboa, - que temos um bom resultado em Lisboa, mas, acima de tudo, que temos um extraordinário resultado no país inteiro, e conseguir reforçar o resultado da Iniciativa Liberal e esse tal crescimento que queremos. 

Função governativa? Não acho que faça sentido estar aqui a excluir ou não excluir uma coisa que está completamente dependente de inúmeros fatores

Então, não exclui essa hipótese. 

Eu vou ser sincera, não acho que faça sentido estar aqui a excluir ou não excluir uma coisa que está completamente dependente de inúmeros fatores, nomeadamente o resultado das eleições, o que quer que seja que aconteça nos dias seguintes. Portanto, nem sequer seria justo para mim e para os eleitores estar aqui já com grandes proclamações do que é que eu vou fazer ou não vou fazer. Há uma coisa que eu lhe posso dizer, o meu compromisso com a candidatura à Presidência da República está assumido e continuará assumido, nada mudou. 

Mas o facto de estar a concorrer a estas Legislativas, no fundo, não é assumir uma derrota nas Presidenciais?

Não, de todo. É exatamente, como lhe digo, o que é que mudou desde o dia em que eu apresentei a minha candidatura à Presidência da República e agora estamos a ir para eleições? Nada, a não ser termos umas eleições. Eu já era deputada, eu já estava no Parlamento, eu já me tinha candidatado à Presidência da República. Tudo igual. 

Mas as pessoas, à partida, sabem que, se eventualmente vier a vencer, terá de deixar essas funções. 

E então, com certeza, e serei Presidente da República.

Nunca, em momento algum, teremos qualquer tipo de acordo com o Chega. Nunca. É uma impossibilidade efetiva

Voltando a questões de governabilidade. Uma sondagem para o Expresso, divulgada esta sexta-feira, mostra que a IL cresce, mas, mesmo com a AD a vencer as eleições, não é possível obter maioria. A IL não viabilizará um governo com o Chega? Não está disponível para nenhum tipo de acordo?

Isso já foi respondido, sempre com a mesma resposta, inúmeras vezes, e eu vou voltar a responder. Nós não, nunca, em momento algum, teremos qualquer tipo de acordo com o Chega. Nunca. É uma impossibilidade efetiva.

É mesmo nunca?

É nunca. É impossível. Há todo um universo que nos separa do Chega, em inúmeras matérias.
 

Mas, no vosso programa eleitoral, não se pode dizer que há uma aproximação ao Chega? Há uma preocupação muito maior com medidas relacionadas com a segurança interna, há também a defesa de um agravamento de penas para determinados casos, como abuso sexual, alterações à lei da nacionalidade, isto não é uma aproximação ao partido de André Ventura?

Não. Primeiro, não há assuntos de um partido, ou de outro partido… Não há, isso não existe. Há, é situações que vão ocorrendo nos países que nos fazem ter maior preocupação com esses assuntos, conforme a incidência que eles também estão a ter. É óbvio que com os aumentos de criminalidade que vieram expressos no Relatório de Segurança Interna, que mostram aumentos relacionados, por exemplo, com o tráfico de seres humanos, que mostram aumentos relacionados com a violência doméstica, que mostram um conjunto alargado de incidências de criminalidade violenta, que não podemos ignorar essas evidências e, portanto, enquanto partido responsável, também temos de tentar fazer alguma coisa quanto a isso. As eventuais propostas de aumentos de penas que existem são muito incisivas, são muito concretas e muito específicas relativamente a determinados fenómenos. No caso da violência doméstica, um dos fenómenos que percebemos é que, mesmo quando as pessoas são condenadas, há toda a evidência de que elas praticaram aquele crime, se a pena for inferior a 5 anos, as pessoas podem ter pena suspensa, que é o que acontece na maioria dos casos. Qual é que é o problema disso? É que as pessoas vão ser reinseridas exatamente no mesmo enquadramento familiar onde estavam. E, portanto, a reincidência é muito maior. É óbvio que temos de ser mais duros, digamos assim, com a forma como olhamos para esta situação. Porque aquilo que acontece, e infelizmente este número tem aumentado de forma exponencial, é que há cada vez mais vítimas de violência doméstica que acabam a ser mortas. Qual é que é a forma também de se evitar isto? É efetivamente evitar, se calhar, tantas penas suspensas neste tipo de situações. E, portanto, é ver determinados fenómenos, perceber que eles estão a ter uma incidência maior, perceber que estão a ter maior impacto na população e tentar ter uma ação de propor para evitar ou para tentar corrigir esses fenómenos. E é isso que fazemos. 

Qualquer pessoa que se identifique com as ideias da Iniciativa Liberal é bem-vinda. Todos. Não tenho problema nenhum em que venham eleitores do Chega ou que venham eleitores do Partido Comunista. Aquilo que interessa é que as pessoas percebam que não há assuntos tabu, não há assuntos de partidos

 Mas a IL não quer roubar eleitorado ao Chega?

Nós queremos eleitores, venham eles de onde vierem. Qualquer pessoa que se identifique com as ideias da Iniciativa Liberal é bem-vinda. Todos. Não tenho problema nenhum em que venham eleitores do Chega ou que venham eleitores do Partido Comunista. Aquilo que interessa é que as pessoas percebam que não há assuntos tabu, não há assuntos de partidos, não há propostas de partidos. Todos os assuntos devem ser discutidos, todos os assuntos devem ser debatidos entre os vários partidos políticos e todos devem apresentar soluções. E, depois, cabe aos portugueses avaliar quem é que tem as melhores soluções. Isso é o funcionamento de uma democracia. Imagine, são assuntos do Chega, então ninguém fala deles, como é que  vamos conseguir resolver esses fenómenos ou qualquer que seja o assunto, se só o Chega é que fala dele? E, normalmente, sempre sem propostas concretas e sempre naquela loucura de resolver tudo, porque é tudo uma bandalheira. Naquela forma muito populista. Não, nós, enquanto partido responsável, temos de garantir que damos também soluções às pessoas que não sejam aquelas supostas fórmulas milagrosas que o Chega apresenta, que normalmente nunca resolvem nada e que se resumem a mandar uns berros para o ar. Acho que os partidos também têm uma responsabilidade acrescida que é não deixar que certos temas fiquem exclusivamente para certos partidos.

Alguma coisa não está a funcionar porque, se ao mesmo tempo que batemos recordes de investimento público, financiamos e injetamos dinheiro no SNS, ele não está a dar resposta, alguma coisa está mal
Se há tema em comum é a Saúde. A Iniciativa Liberal também tem aproveitado esta campanha para partilhar muito as suas ideias para a Saúde, em específico a liberalização da Saúde através do programa 'Sua Saúde'. Com este programa o Serviço Nacional de Saúde (SNS) deixaria de existir tal como o temos?

Vou tentar explicar isto de uma forma muito sucinta e simples e vou fazê-lo de uma forma diferente, que é pegando nos vários ataques que nos foram sendo feitos. O primeiro ataque que nos dizem é 'a Iniciativa Liberal quer privatizar a saúde'. Mentira, nós não queremos privatizar nada. O segundo ataque que nos fazem é 'ah, mas o que nós precisamos é de reforçar o SNS e a Iniciativa Liberal quer é dar lucro aos privados'. Mentira, não é esse o fundamento. Na última década, não houve um verão em que não tivesse havido urgências encerradas de Ginecologia-Obstetrícia. E, na última década também, batemos recordes, todos os anos, de investimento público no SNS. Alguma coisa não está a funcionar porque, se ao mesmo tempo que batemos recordes de investimento público, financiamos e injetamos dinheiro no SNS, ele não está a dar resposta, alguma coisa está mal. Não é para tirar dinheiro ao SNS, não é para acabar com o SNS, não é para impedir as pessoas de irem ao SNS, não é para dar lucros aos privados, exclusivamente, o que queremos é que as pessoas tenham o verdadeiro acesso à saúde universal. O que está na Constituição diz que o SNS é universal e tendencialmente gratuito. Então, vamos pensar: quem é que neste momento, não tendo alternativa, ou seja, não tendo um seguro de saúde ou um subsistema de saúde, como a ADSE, consegue ter acesso à saúde em tempo útil? Ninguém.

Neste momento temos: Consulta de cardiologia em Faro, lista de espera, 498 dias. Consulta muito prioritária de neurocirurgia no Hospital Santa Maria, 192 dias em lista de espera. Consulta de oftalmologia em Coimbra, 897 dias. Ou seja, se eu precisar de uma consulta destas, ou estou 897 dias à espera ou tenho um seguro de saúde e vou ao privado, ou tenho dinheiro e vou ao privado. E quem não tem dinheiro? E a pessoa que não consegue pagar uma consulta no privado? Tem de estar 897 dias à espera. Isto é inadmissível, isto é, quanto muito, um acesso universal a listas de espera, não é um acesso universal à saúde. O que é que nós dizemos? Contar com os três setores. E não vale a pena vir a dizer 'ah, mas hoje em dia já se usa os outros setores'. Só em situações limite, quando tudo falhou. O que queremos é que, em vez do privado e do social serem uma coisa a que só alguns têm acesso, conseguir trazê-los para cooperarem com o Serviço Nacional de Saúde para atenderem as pessoas da mesma forma que o Serviço Nacional de Saúde faz, em completa parceria. Em 2024, já temos mais de quatro milhões de seguros de saúde privados. Há quatro milhões de pessoas que descontam, pagam impostos e, portanto, alimentam o Serviço Nacional de Saúde com os seus impostos, ao mesmo tempo que depois pagam o seu seguro privado. Isto não faz sentido nenhum. 

 Mas o Estado seria capaz de suportar o custo desse sistema que a Iniciativa Liberal quer? 

Então, considerando que o Estado, neste momento, já tem de suportar o custo com a saúde, é óbvio.

Então não significa um desinvestimento? 

Não significa, significa uma gestão muito mais racional e muito mais eficiente do ponto de vista dos tempos em que damos uma resposta às pessoas. Significa não ter de deixar uma pessoa 897 dias à espera de uma consulta de oftalmologia e poder mandá-la para um privado para ela conseguir. E não é só esta questão de as pessoas conseguirem ter acesso a cuidados de saúde em tempo útil, há outra questão que também está muito associada à nossa proposta, que é a questão da liberdade de escolha. Um exemplo: eu gosto muito de um médico, sou seguida por aquele médico há já uma década e aquele médico entretanto passou para o privado e deixou de dar consultas no público. Eu já não posso ir àquele médico. Se estiver dependente do público, nunca mais posso ir àquele médico. Se há tema onde as pessoas estão mais vulneráveis e onde precisa haver maior empatia e maior atenção, apoio às pessoas, é na matéria da saúde. E, portanto, ter esta liberdade de escolha é fundamental, especialmente quando as pessoas estão doentes. 

Não, a Iniciativa Liberal não é nada extremista 

Esta semana, o líder da Iniciativa Liberal afirmou que é preciso rever a Constituição, considerando que é tempo de retirar da lei fundamental a menção de "caminho para uma sociedade socialista". A proposta mereceu críticas por parte do porta-voz do Livre, Rui Tavares, por exemplo, que acusa a IL de ser extremista. 

Não, a Iniciativa Liberal não é nada extremista e aquilo que o Rui Rocha disse não é novidade nenhuma. Podia achar que tinham sido todos apanhados de surpresa, que horror, e agora estarem a reagir assim pela surpresa, mas não.  Inicialmente o espírito da Constituição vinha muito vincado da conquista do pós-25 de Abril, da Revolução e tudo mais, mas o que temos hoje em dia em Portugal não é propriamente o caminho para o socialismo, não é? Temos uma democracia liberal, plural, em que há várias ideologias democráticas, obviamente, com respeito pelas instituições e pelos princípios democráticos, pelos direitos, liberdades e garantias das pessoas, em que essas e várias ideologias podem coexistir e coexistem no Parlamento. Portanto, é nesse sentido que se propõe essa questão da revisão, para não estar apenas ali a menção a uma coisa que, na altura foi muito importante. Não está em causa e percebe-se perfeitamente o contexto histórico em que a Constituição foi feita e todo o simbolismo que teve na altura, mas, entretanto, a sociedade evolui, o país evolui, já passaram 50 anos, está na altura de facto de se calhar ficar um bocadinho mais de acordo com a realidade. E a realidade é que vivemos numa democracia liberal plural, com inúmeros partidos, com várias formas de pensar diferentes e não estamos todos propriamente aqui, nem os portugueses, nem os partidos, a caminho do socialismo, nem parece que seja esse o intuito neste momento.

Era mais útil se Rui Tavares tivesse mais preocupado em apresentar as suas ideias ao país do que propriamente estabelecer metas em relação à Iniciativa Liberal

Já agora, Rui Tavares também disse que o Livre está a fazer caminho para disputar o 4.º lugar com a Iniciativa Liberal. É uma declaração de disputa clara? 

Não sei. Acho que vou olhar para isso como um elogio, é sinal de facto que a Iniciativa Liberal é um partido que todos ambicionam, em que se reveem. Agora, eu acho é que, sinceramente, era mais útil se Rui Tavares tivesse mais preocupado em apresentar as suas ideias ao país do que propriamente estabelecer metas em relação à Iniciativa Liberal, mas se o faz, pronto, é um problema dele. E lá está, é o que digo, vejo isso como um elogio, é sinal que de facto somos aqui uma ameaça ao Livre, em que o Livre sente necessidade de vir fazer essas proclamações de que o grande objetivo da vida do Livre é ultrapassar a Iniciativa Liberal. 

Para finalizar, que mensagem é que gostaria de deixar aos eleitores?

Acima de tudo, pedir aos eleitores que se mobilizem no dia 18, é muito importante para a Democracia  fazermos valer o nosso direito e dever de voto. Depois, dizer que o futuro precisa de ser diferente, que o país tem de mudar, que estamos há demasiadas décadas em estagnação e completamente asfixiados por impostos e burocracia e só há um partido que consegue e que quer de facto acabar com isso que é a Iniciativa Liberal. 

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