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"Não sou radical nem moderado. Tenho convicções"

O ex-ministro das Infraestruturas e atual candidato à liderança do PS defende que "este é o tempo da decisão" sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa. Em entrevista ao Notícias ao Minuto faz saber que, se vier a ser primeiro-ministro, ouvirá todos os partidos com representação no Parlamento, mas garante que haverá decisão com ou sem acordo.

"Não sou radical nem moderado. Tenho convicções"
Notícias ao Minuto

10/12/23 por Tomásia Sousa

Política Pedro Nuno Santos

Tem 46 anos, foi ministro das Infraestruturas e da Habitação num mandato que ficou marcado pelo anúncio unilateral, em junho de 2022, da construção de um aeroporto em Alcochete. Pedro Nuno Santos - então ainda ministro - viria a ser desautorizado por António Costa e a solução, que também previa a utilização provisória da base aérea n.º 6 do Montijo, foi revogada.

É agora candidato a secretário-geral do Partido Socialista (PS) e, numa altura em que a campanha entra na última semana, assegura, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que, consigo, a decisão sobre a localização do novo aeroporto existirá "independentemente de haver ou não acordo entre todos os partidos ouvidos".

Nesta corrida à liderança do PS, Pedro Nuno Santos acredita ser o "candidato que está em melhores condições de mobilizar o partido e a maioria do povo português", mas não perde muito tempo a explicar o que o distingue dos adversários. "O meu adversário é o PSD", refere nesta entrevista.

As eleições para decidir o sucessor de António Costa enquanto secretário-geral do PS estão marcadas para os dias 15 e 16 de dezembro.

Não sou radical nem moderado. Tenho convicções

Falta menos de uma semana para as eleições diretas do Partido Socialista. Por que razão devem os militantes do PS votar em si e não nos seus opositores? 

Entendo que sou merecedor do voto dos militantes do Partido Socialista porque acredito que sou o candidato que está em melhores condições de mobilizar o partido e a maioria do povo português para um projeto vencedor, capaz de resolver os problemas do país, de responder às suas ambições e de gerar um contexto de esperança para o futuro da nossa comunidade.

Em entrevista, há umas semanas, ao Público, José Luís Carneiro defendeu que "a marca" de Pedro Nuno Santos é "o enclausuramento à Esquerda". Concorda com estas declarações? E por que razão acha que é visto como um candidato mais polarizado do que os outros?

Não concordo com a declaração nem com a dicotomia entre radical e moderado. Não sou radical nem moderado. Tenho convicções. Quero concretizar as minhas convicções, construir um projeto político em que acredito e lutar por ele, de forma ao mesmo tempo convicta e responsável.

José Luís Carneiro já revelou também, por exemplo, que ficou surpreendido com o apoio de Francisco Assis à sua candidatura. Percebe essa surpresa? E, do seu lado, ficou surpreendido com algum dos nomes do PS que se colocaram do lado de José Luís Carneiro?

O Partido Socialista é a casa comum da democracia e do pensamento livre. O que verdadeiramente desejo é que estas eleições sejam uma demonstração da força do nosso partido e que cada militante vote no projeto que entende melhor defender o nosso futuro coletivo.

Só depois dos eleitores votarem é que faz sentido pensar em cenários possíveis

Sei que tem sido muito abordado sobre a possibilidade de uma reedição da geringonça e de o PS se coligar à Esquerda, e tem respondido que antecipar isso, para já, seria apenas estar a fazer conjeturas especulativas sobre o futuro. Mas a verdade é que, no cenário europeu, as maiorias absolutas são cada vez mais raras e a maioria dos governos é formada por coligações. Sendo essa uma possibilidade real - e olhando para os projetos dos outros partidos e para as posições que os mesmos têm tomado face aos problemas que o país enfrenta atualmente -  com quais se poderia coligar o PS, sem abrir mão das suas bandeiras?

O Partido Socialista apresentar-se-á a eleições com o objetivo de vencer e de obter o melhor resultado possível. Só depois de os eleitores votarem e de ficarmos a conhecer a composição da Assembleia da República é que faz sentido pensar em cenários possíveis. Até lá, trabalharemos para apresentar a nossa visão de país às pessoas e para merecer a sua confiança e o seu voto.

O meu adversário é o PSD

De acordo com a sondagem da Universidade Católica para a RTP, Antena 1 e jornal Público, o atual ministro da Administração Interna é o preferido dos portugueses para líder do PS e também para primeiro-ministro. Sente que tem perdido favoritismo ao longo das últimas semanas?

O meu adversário nestas eleições não é o meu camarada José Luís Carneiro ou o meu camarada Daniel Adrião. O meu adversário é o PSD e o projeto que convoca para o país. E perante esse adversário, as sondagens têm sido reveladoras de quem é o candidato melhor posicionado para vencer a Direita nas eleições de 10 de março. A sondagem mencionada mostra que a nossa candidatura é a preferida entre aqueles que votaram na maioria absoluta do PS em 2022.

E com quais não se coligaria? Há possibilidade de um bloco central com Pedro Nuno Santos à frente do Governo?

Como já tive oportunidade de dizer, o nosso foco neste momento é vencer as eleições de 10 de março com o melhor resultado possível para o Partido Socialista. 

Uma das questões mais fraturantes entre a sua posição e a do atual primeiro-ministro é a da reposição do tempo de serviço dos professores. Esta será uma das suas bandeiras, caso vença as diretas e seja candidato a primeiro-ministro? Tem um calendário para essa reposição (que estende, aliás, a toda a Função Pública)? Qual será o custo dessa medida?

A reposição do tempo de serviço será alvo de negociação com os trabalhadores e, no quadro daquilo que é o objetivo de política orçamental e de contas públicas. Encontraremos certamente uma solução que permita um equilíbrio entre a justa devolução do tempo de serviço e a sustentabilidade das contas públicas. 

Um dos temas que tem marcado as últimas semanas é o caso das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinhal que foram tratadas no Hospital de Santa Maria. Face às dúvidas levantadas pelo Presidente da República, esta semana, quanto à atuação do Governo neste caso, acha que se a situação não ficar esclarecida até ao próximo dia 10 de março, o PS pode sair prejudicado nas Legislativas?

Sobre este tema, entendo que devemos esperar pelas averiguações em curso para nos pronunciarmos com mais propriedade e justiça para com os potenciais envolvidos.

E no que toca à Operação Influencer, que conduziu à crise política que se vive atualmente, ter-se-ia demitido se estivesse no lugar de António Costa? Acha que foi uma decisão precipitada?

Sobre esse tema não tenho nenhum comentário a fazer a não ser reconhecer o trabalho e integridade com que António Costa desempenhou o cargo de primeiro-ministro de Portugal.

Este é o tempo da decisão e comigo essa decisão existirá

Outro assunto que tem marcado os últimos dias é o novo aeroporto, uma decisão que ficará para o próximo governo. É conhecida a sua posição sobre a necessidade de tomar uma decisão o quanto antes. Será também para si, se vier a ser primeiro-ministro, uma das primeiras decisões a tomar? E manterá a preferência por Alcochete, tal como sugeriu agora também a Comissão Técnica Independente?

Como tenho dito em diversas ocasiões, este processo não vai ser posto em causa nem novamente adiado por minha responsabilidade. Não podemos esquecer que este é um problema com cinco décadas, que nos prejudica todos os dias. Este é o tempo da decisão e comigo essa decisão existirá. Ouviremos todos os partidos representados na Assembleia da República, mas decidiremos, independentemente de haver ou não acordo entre todos os partidos ouvidos.

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