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"As famílias não têm qualidade de vida, andam à pressa, é um inferno"

O professor Carlos Neto, um dos maiores especialistas mundiais na área da brincadeira e do jogo e da sua importância para as crianças, é entrevistado desta sexta-feira do Vozes ao Minuto.

"As famílias não têm qualidade de vida, andam à pressa, é um inferno"
Notícias ao Minuto

30/09/22 por Mariline Direito Rodrigues

País Professor Carlos Neto

"Estamos a criar crianças totós e de uma imaturidade inacreditável": a célebre frase do professor Carlos Neto, dita em 2015, trouxe à tona a discussão sobre a situação dramática vivida por muitas crianças em Portugal. 

As crianças já não brincam na rua com os amigos, não correm, não saltam, não sobem às árvores, tendo o seu corpo cada vez mais aprisionado, conforme defendeu em entrevista ao Notícias ao Minuto

O professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, de 70 anos, jubilado este ano, defende a necessidade urgente de se repensar o modelo de ensino. 

Carlos Neto, um dos maiores especialistas mundiais na área da brincadeira e do jogo e da sua importância para as crianças, é autor do livro 'Libertem as Crianças', que já vai na 5.ª edição. O seu trabalho de investigação, de quase cinco décadas, foca-se no papel do brincar e do jogo no desenvolvimento da criança, na independência de mobilidade em crianças e jovens e no bullying nas escolas. 

O professor lamenta que, hoje, "o corpo fica à porta da escola" e que o sedentarismo invadiu os espaços escolares em Portugal. Há que contrariar esta realidade que protege em demasia as crianças e os jovens roubando-lhes a autonomia. 

Começo com a pergunta que o professor já tantas vezes fez: onde estão as crianças?

As crianças passam a vida na escola de manhã à noite, em média 50 a 60 horas por semana. Acho isso lamentável, porque os pais não têm tempo para estar com os filhos. Passam a vida a trabalhar e os filhos são vítimas do trabalho dos pais. 

Até os jardins de infância vão passar a ser a tempo inteiro para os pais que não conseguem ir buscar os filhos às 15h/15h30. Isto está enquadrado no Plano de Ação de Garantia para a Infância, mas eu pergunto se não devia existir uma garantia para a família no sentido em terem mais tempo para os filhos. 

A escola está a ser um espécie de prisão onde se colocam as crianças, são, no fundo, repositórios.Passar o dia na escola não é, portanto, uma solução.

Não. A escola não pode ser um local onde todos os problemas se resolvem em função do trabalho. Não é aceitável que tenhamos uma escola do pré-escolar e do 1.º ciclo a tempo inteiro com agendas extremamente organizadas e estruturadas. Este conceito que temos de escola em que as crianças estão debaixo de um currículo extenso e intenso não é bom. As crianças não têm de estar sentadas, quietas e obedientes durante tanto tempo. A escola está a ser um espécie de prisão onde se colocam as crianças, são, no fundo, repositórios, caixas onde se põem coisas com pouca participação. 

Quando estamos a falar de uma escola a tempo inteiro em que as crianças estão desde as 8h até às 19h isso é um crime no meu ponto de vista, porque é lá que se resolvem os problemas sociais. 

O ensino remoto à distância foi uma fraude, principalmente até aos 10 anos. 

E a pandemia piorou este cenário.

Com a pandemia, em que o corpo ficou demasiadamente aprisionado, não é viável que se continue com a mesma metodologia em que as crianças passem a vida dentro de quatro paredes. As crianças têm de sair lá para fora, têm de se soltar, interagir, terem contacto com a natureza e com o risco. Costumo dizer que o movimento é o arquiteto do cérebro, por isso, não é possível que as crianças estejam quietas. Estamos numa situação difícil em que depois de uma pandemia e agora de uma guerra, que não sabemos o seu desfecho, há uma espécie de ansiedade coletiva, de envolvimento neurótico e de grande confusão. 

Depois da pandemia o bullying aumentou nas escolas, porque as crianças estão com uma inquietação enorme do ponto de vista emocional, foram demasiadamente penalizadas com este Big Brother gigantesco. O ensino remoto à distância foi uma fraude, principalmente até aos 10 anos. 

Do que as crianças mais precisam agora?

As crianças precisam de muitas experiências lá fora e de muito contacto físico. Têm de se abraçar, de se agarrar, de perseguir e serem perseguidas, de lutar, trepar às árvores, andar em cima de muros, verem o mundo de cabeça para baixo. 

Andar na escola tem de ser um prazer, não uma obrigação. O conceito de aprender implica liberdade, democracia, viver as próprias experiências, e não uma escola replicativa em que as crianças se preparam para testes e para ter médias para entrar na universidade. Isso é um disparate.

O que pode ser feito enquanto sociedade?

Temos de ter escolas, famílias e comunidades ativas, cidades que sejam verdes, caminháveis, e acima de tudo a consciência de que estamos a viver um sofrimento existencial porque temos a nossa vida embrulhada. Somos o quarto país mais seguro do mundo, mas os portugueses não têm qualidade de vida porque passam o tempo a trabalhar. As escolas são sacrificadas por causa deste problema. 

As crianças hoje têm um sentimento muito preocupante de que a escola é uma seca, porque não tem nada de desafiante. São horas a fio.

Qual o modelo de escola ideal, portanto?

Saiu agora um relatório da UNESCO que fala precisamente disso. É preciso desconstruir a sala de aula como lugar de aprendizagem. Pode-se aprender em outros locais. A escola pode-se prolongar para a comunidade que tem imensa coisa para ensinar às crianças, tornando-as pequenos exploradores, artistas, cientistas, etc. 

As crianças vivem sentadas no sofá, são transportadas de carro para a escola e dentro da escola estão dentro de espaços interiores. Nas gerações mais antigas tínhamos duas escolas: a escola da rua onde tudo se aprendia, com os amigos e em aventuras, mas hoje as crianças não têm essa escola da rua, ela desapareceu. A escola tornou-se uma “prisão”. 

Independentemente dos problemas que se estão a viver no sistema escolar, com a falta de professores, salários miseráveis, falta de reconhecimento social, carreiras em atraso, temos de pensar na qualidade de ensino. É isso que se pretende: uma escola ativa, desafiante, interessante, que permita que as crianças se levantem de manhã com vontade de ir para lá e não de fugir dela. As crianças hoje têm um sentimento muito preocupante de que a escola é uma seca, porque não tem nada de desafiante. São horas a fio. Os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. 

Somos o único animal que temos a infância mais longa, portanto temos tempo para aprender. Essa expectativas que os pais e a escola têm de que as crianças podem aprender tudo rapidamente é um erro estratégico. No meu ponto de vista estamos a cometer alguns erros. 

Que tipo de erros?

Quando na escola não se faz uma educação com o corpo todo. O que observamos em muitas instituições escolares é que não só não têm experiências significativas para as crianças, como o corpo fica à porta da escola e só entra o cérebro. 

Enquanto as crianças ficam imensas horas em frente aos ecrãs, os pais ficam descansados porque elas estão hipnotizadas, mas depois ficam agitadas.

E as novas tecnologias são um problema?

Os professores são indispensáveis, não se pode digitalizar a escola completamente. Temos aí uma nova praga que é a dependência digital, as crianças estão a ficar demasiado tempo à frente dos ecrãs e estou a falar de aparelhos lúdicos, porque os instrumentos digitais são úteis para adquirir conhecimentos. 

Enquanto as crianças ficam imensas horas em frente aos ecrãs, os pais ficam descansados porque elas estão hipnotizadas, mas depois ficam agitadas. O tempo que elas passam à frente dos ecrãs retiram-lhe outras experiências que seriam fundamentais para o seu desenvolvimento. 

Considera que o uso dos telemóveis na escola deveria ser proibido?

As crianças saem da escola e ficam logo sentadas nos corredores a olhar para os telemóveis. Antigamente quando nos aproximávamos de uma escola ouvíamos logo um barulho muito esquisito, uma grande algazarra, hoje só ouvimos silêncio. O que se passou foi esta praga da invasão de pequenos instrumentos digitais que estão nas mãos das nossas crianças. 

Na minha opinião depende das idades. Obviamente que os telemóveis, tablets e computadores podem ser de um uso absolutamente excecional no mundo da educação e devem ser usados e consultados dentro das escolas com a supervisão dos professores, outra coisa são os tempos que as crianças passam frente aos ecrãs lúdicos. Estou a falar das redes sociais, jogos eletrónicos, de todas essas narrativas das grandes empresas electrónicas que capturam as crianças. 

Têm havido problemas sérios de crianças que sabem jogar mas não sabem brincar. Já estão viciadas. O Michel Desmurget, para quem escrevi o prefácio do livro ‘Fábrica dos Cretinos Digitais’, defende três ideias essenciais. As crianças não devem ter acesso a dispositivos digitais ao acordar, antes de dormir e não os podem levar para o quarto, nem terem televisão no quarto. 

Até aos 10 anos devem ter supervisão parental no sentido de poderem ver filmes, não podem estar distraídos e introduzir-se em tipo de jogos perigosos que há por aí (no Tik Tok, por exemplo). 

Temos crianças em Portugal que com 5, 6, 7 anos de idade passam 5 horas por dia em frente aos ecrãs. Isso é inaceitável, porque enquanto estão a fazer isso podiam andar na rua, podiam estar com os amigos a fazer brincadeiras, etc. 

Diria que é preciso ter equilíbrio, é a forma como os utilizamos. Tem que se distinguir o uso para fins pedagógicos e o uso para fins lúdicos.

Comparar a sala de aula com o exterior é a mesma coisa que comparar uma banheira com o oceano. Há pais que concordam com a abordagem do professor, mas que dizem que as únicas escolas que aplicam o método de movimento do corpo e contacto com o exterior são privadas e muito caras.

[Professor ri-se]. Em Portugal, felizmente, já estamos a ter muito boas experiências pedagógicas em escolas públicas, não é preciso ir para a Finlândia. Já há muitas autarquias a trabalhar muito bem na melhoria dos espaços exteriores das escolas e em metodologias adequadas de ensino. 

Agora vamos esperar que com esta coesão entre a escola, família e comunidade possamos ter uma escola que vá caminhando na libertação para um novo modelo. Há muitos professores disponíveis para fazer essa mudança. 

As crianças sabem muito bem aquilo que não lhes interessa, o problema é que nós impomos uma visão adulta da escola e não queremos saber daquilo que as crianças gostavam de ter numa escola nova.

Se tivesse alguma responsabilidade em matéria educativa diria que toda a comunidade escolar deveria andar neste momento a jogar às escondidas para aprenderem a perceber o que é o fair play, a gratidão, etc. Comparar a sala de aula com o exterior é a mesma coisa que comparar uma banheira com o oceano. 

Também acho que era necessário 'dessedentarizar' a escola.

Somos muito sedentários nas escolas. As crianças não podem correr, não podem saltar, não podem subir às árvores, é tudo proibido. Qualquer dia temos um letreiro à porta das escolas a dizer que é proibido brincar. 'Dessedentarizar'?

Sim, temos uma taxa de sedentarismo enorme. Saíram recentemente os dados do Eurobarómetro que demonstram que 73%  da população portuguesa não faz uma atividade física sistemática e regular. É um problema sério para a saúde pública porque as pessoas não se mexem. O maior drama que estamos a viver é o número de horas que estamos sentados.

Somos muito sedentários nas escolas. As crianças não podem correr, não podem saltar, não podem subir às árvores, é tudo proibido. Qualquer dia temos um letreiro à porta das escolas a dizer que é proibido brincar. 

Isto é tão grave que há crianças que não sabem correr, não sabem saltar, são muito frágeis e vulneráveis, porque são muito protegidas. É contraditório para os pais. Querem tudo de bom para os filhos mas depois não lhe dão os instrumentos necessários para a sua mobilidade, para serem cidadãos ativos. 

Vivemos num mundo em que só olhamos para a cabeça, não olhamos para o pé. Vivemos o corpo com a ponta dos dedos e esquecem-nos que temos mais membros. Ao princípio precisamos de afetos, de aconchego. Depois quando as crianças começam a andar precisamos de deixar que se afastem para ganhar a autonomia. Educar é dar liberdade e distância. Todos os seres humanos precisam da sua autonomia. Em Portugal sai-se de casa com 35/40 anos, isto é um disparate completo e é o resultado de tudo o que falamos, porque as crianças não são habitadas a ter autonomia. É uma imaturidade crescente nas nossas crianças e jovens. 

Os pais estão a exigir que haja telheiros à porta das escolas para eles estarem à espera das crianças. Repare bem onde chegou a loucura. A escola vive um estado de loucura a todos os níveis.

No seu trabalho de investigação, o professor fala também da importância das cidades serem pensadas nas crianças e das famílias. 

Há muitas restrições com uma urbanização que não é amiga das famílias nem das crianças. Às vezes é preciso percorrer uma hora de automóvel para ir para a escola. Outras estão a 100 metros e não vão a pé. No norte da Europa anda tudo cá fora com climas de neve, em Portugal cai um pingo de chuva entra tudo lá para dentro. O maior drama dos autarcas são os telheiros nas escolas. E agora há uma nova realidade: os pais estão a exigir que haja telheiros à porta das escolas para eles estarem à espera das crianças. Repare bem onde chegou a loucura. A escola vive um estado de loucura a todos os níveis.

Os brinquedos bélicos, como as espadas e as pistolas, são objetos lúdicos úteis. Quando desencadeio uma brincadeira de luta com as crianças elas todas aderem, porque isso está nos seus genes e memórias ancestrais, como forma de ganhar força e resiliência. Não pode ser proibida. Hoje, há pais que proíbem os filhos de certos jogos, como andar à pedrada ou brincar com armas a fingir, porque acreditam que incitam a violência. 

O que cria violência é não fazer esse tipo de jogos. Na infância as crianças preparam-se para a adversidade e para a sobrevivência. A escola e a família deveriam preparar as crianças para se adaptarem. Há a necessidade de brincarem muito para testarem riscos, limites, de ganharem autoestima e confiança. 

O brincar tem uma vertente fundamental que é fugir à realidade. O ser humano é o único animal que consegue fugir à realidade para poder regressar mais poderoso e enriquecido. 

Jogar às escondidas, à apanhada, aos polícias e ladrões, tudo isso são formas de perseguir e ser perseguido. As crianças gostam de fugir e de não serem agarradas e os adultos gostam de persegui-las e de agarrá-las. As crianças gostam de perseguir para matar o outro porque precisam de sobreviver. O ser humano é o único que consegue fazer isso simbolicamente. A agressividade que temos dentro de nós tem de ser posta cá fora e humanizada. As crianças respeitam-se mutuamente porque se confrontam. 

Os brinquedos bélicos, como as espadas e as pistolas, são objetos lúdicos úteis. Quando desencadeio uma brincadeira de luta com as crianças elas todas aderem, porque isso está nos seus genes e memórias ancestrais, como forma de ganhar força e resiliência. Não pode ser proibida. Essas atividades de luta e perseguição são imprescindíveis nas primeiras idades. 

Agora uma coisa completamente diferente é a luta a sério, aí os auxiliares de educação e os pais têm que intervir. 

E há a necessidade de haver competição entre crianças?

É um erro pensar que competir faz mal, competir e cooperar são coisas fundamentais. Agora é diferente quando falamos em classificação e competição. A competição é reparadora, educativa, das coisas mais estruturantes da nossa vontade. 

Na sua visão existem crianças hiperativas ou apenas crianças?

Isso é uma questão em grande debate na comunidade científica, mas o nível de crianças com défice de atenção aumentou nas últimas décadas. Tenho encontrado imensas crianças hiperativas que não são hiperativas, mas também tenho encontrado crianças que são. 

Há imensas crianças medicadas e isso, no meu ponto de vista, é um atentado à dignidade humana a maneira como manipulamos através de químicos essa energia natural. 

Hoje a tolerância para aquilo que é a energia natural de uma criança é mal concebida. É preciso muita paciência para criar uma criança, obviamente, porque têm a necessidade de se compreender a si mesmas e ao mundo. 

Considero que essas crianças são as mais inteligentes, as mais espertas, as mais interessantes, porque têm imensas coisas para nos ensinarem. Elas vão explicar que não estão de acordo com o modelo que as aprisionam e que lhe colocam regras demasiado rígidas. 

Elas têm de ter regras, obviamente, e uma presença adulta que seja bem vincada, com autoridade, porque não se pode admitir que haja crianças a baterem em pais, em professores, com um comportamento violento ou socialmente inaceitável. Mas crianças agitadas ou são fruto do tempo que estão demasiado aprisionadas ou são o resultado de uma característica individual que deve ser respeitada, as crianças não são todas iguais.

O que pensa sobre o tempo dos recreios/intervalos nas escolas?

Não há nenhum critério científico definido do que se considera trabalho e tempo livre, que isso também é outro disparate. Na vida infantil não há propriamente de trabalho e um tempo de libertar energias para depois vir para a sala de aula. 

Fizemos alguns trabalhos de investigação que demonstram que as crianças quando têm um intervalo escolar com mais socialização e mais gasto de energia, as crianças voltam à sala de aula com mais capacidade de atenção. Mas eu hoje discordo deste conceito. O que está errado é o modelo de organização do horário escolar. 

Quem é que me diz, com um critério verdadeiramente científico, que no pré-escolar tem de ser 20 minutos e no ensino secundário tem de ser 10 minutos? O que comanda a minha capacidade de produção é o prazer que tenho no que estou a fazer. Se a escola é desprazerosa eu vou estar sempre à procura do intervalo, quero ir lá para fora. O recreio e a sala de aula são dois conceitos que penso que devem ser anulados no dicionário pedagógico, o que existe são espaços interiores e espaços exteriores. 

Os alunos têm de ser atores no processo de aprendizagem. Hoje divide-se tudo. A escola deveria ser um local onde as crianças trabalhassem por projetos e não por matérias impostas. 

Os adultos vivem à pressa e transmitem para a criança uma ansiedade e um mau exemplo. Há uma gestão do tempo e do espaço errada: não há tempo para a contemplação, para a reflexão, para o diálogo, não há tempo para não fazer nada, para escutar, para observar. A existência é vivida depressa demais e não tem tempo de ser saboreada. 

As famílias não têm qualidade de vida, andam à pressa, é um inferno a vida na família.Para um pai, mãe, educador que esteja a ler esta entrevista e que se depare com esse problema: trabalha o dia todo e anda sempre a correr. O que é que lhe diria?

É preciso ter uma regra, aprender a parar. Pare. Parar, pensar e voltar a reorganizar o nosso tempo de vida.

É preciso que haja coragem política para que hajam decisões em busca de uma harmonização entre o tempo de trabalho dos pais, o tempo que se vive na escola e o tempo disponível para a família. Há muitos países da comunidade europeia em que já se resolveu esse problema com a legislação amiga da família. Os pais saem do trabalho, vão buscar os filhos à escola, têm tempo para eles, há tempo para tudo, não é preciso viver a correr. 

Em Portugal já temos uma legislação que permite uma jornada contínua, com flexibilidade dos horários do trabalho… Mas o que é que impede que isso aconteça? Medo. Medo dos baixos salários, do despedimento.

Os cidadãos têm de ser mais participativos, ativos, não se podem conformar com aquilo que é uma espécie de ditadura em democracia. As famílias não têm qualidade de vida, andam à pressa, é um inferno a vida na família. Têm uma escola organizada, têm tempos fora da escola com atividades de enriquecimento escolar, trabalhos para casa, os pais ainda se encarregam de organizar atividades religiosas, artísticas e desportivas ao fim do dia…

Acredita que no futuro vamos melhorar?

O futuro é incerto, desconhecido, imprevisível, é como brincar, diria que temos de aprender a brincar. Não tenho uma visão fechada ou patológica de olhar para a nossa existência. Tenho a certeza que vamos ter que mudar e que o futuro será melhor. Vamos viver uma vida centrada numa grande cultura virtual, mas também vamos humanizar a nossa vida, com o contacto com a natureza. Tenho uma visão otimista das coisas, mas tem que se apontar os erros, como é óbvio. 

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