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"Se lhe apetecer dançar, por favor sinta-se à vontade"

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, André Rieu defende que, no seu entendimento, a música clássica é para todos e não apenas para elites. Para o maestro e violonista, os seus concertos são momentos onde todas as emoções têm lugar.

"Se lhe apetecer dançar, por favor sinta-se à vontade"
Notícias ao Minuto

25/12/18 por Filipa Matias Pereira

Cultura André Rieu

Para os apreciadores de música clássica, o nome dispensa apresentações. Já os que não são fãs desta vertente musical ou nunca tiveram oportunidade de a apreciar, são convidados a se deixarem levar pela melodia da orquestra de André Rieu num concerto onde as emoções assumem claramente o protagonismo. 

Apelidado de 'o rei da valsa', André Rieu é violinista, maestro e fundador da Johann Strauss Orchestra. Já encheu as maiores salas de concertos de todo o mundo, vendeu mais de 40 milhões de CDs e DVDs e os seus espetáculos musicais ao vivo atraem mais de 700 mil pessoas por ano.

Figuras proeminentes da música internacional retratam-no como uma figura incontornável no panorama da música internacional. O motivo? Foi precisamente esse o mote da entrevista ao Notícias ao Minuto.

Com regresso marcado a Portugal para março, depois de um hiato de 20 anos, André Rieu esclarece o que o fez querer integrar o país das quinas na sua tournée. E facto é que, à data, já há quatro dias esgotados para os concertos que terão lugar na Altice Arena, em Lisboa (13, 14, 15 e 16 de março. Há ainda bilhetes à venda para os dias 29 e 30 do mesmo mês). 

Se nunca ouviu as melodias de André Rieu e da osquestra que o acompanha, desconstrua o significado de um concerto de música clássica. Os ambientes típicos destes cenários são tudo aquilo que os espetáculos do maestro holandês não representam. Em palco, o também violinista constrói um espetáculo com cor e 'convida' a plateia a deixar fluir as emoções com naturalidade. "Quando vejo milhares de sorrisos à minha frente, sou o homem mais feliz do mundo" partilha. 

Vive a música intensamente e prova disso é a forma como a aborda, com "o coração". É esse aspeto que, no seu entendimento, o diferencia.

A longa espera dos fãs portugueses está prestes a terminar. Em março do próximo ano irá subir ao da Altice Arena. Como se sente perante o facto de ter esgotado quatro datas em apenas alguns dias?

Voltar a Portugal é também um momento muito aguardado por mim e estou muito feliz por finalmente estar de volta, acredite. Gostaria de agradecer aos portugueses do fundo do coração pela calorosa receção. Quatro concertos esgotados e um quinto espetáculo à venda é realmente incrível [à data da publicação da entrevista já são seis concertos]. 

Todos os anos, no verão, dou um concerto ao ar livre na minha cidade natal, Maastricht. E pergunto sempre às pessoas na plateia de onde vêm. E o número de fãs de Portugal cresceu a cada ano e isso é visível nas bandeiras portuguesas. Foi então que disse à minha orquestra: “Temos de ir a Portugal”. Nunca pensei realizar cinco concertos em Lisboa.

Quero dar às pessoas uma noite alegre, romântica e mágicaO que podem os fãs esperar do concerto em solo português?

Os fãs podem esperar uma linda noite cheia de música: haverá valsas maravilhosas, famosas árias [uma composição musical escrita para um cantor solista] de operetas [ópera ligeira] e musicais, melodias bem conhecidas de filmes e muito mais.

E para Lisboa levarei a Orquestra Johann Strauss, a maior orquestra privada do mundo. Acompanhar-me-á ainda o coro onde temos sopranos arrebatadores com uma carreira mundial e os ‘The Platin Tenors’, que estão comigo há mais de 14 anos!

Os meus espetáculos transmitem emoções. E quero dar às pessoas uma noite alegre, romântica e mágica. Espero que todos dancem juntamente connosco.

Acreditei desde o início que a minha maneira de fazer música podia deixar muitas pessoas felizesSabe que existia uma petição pública para trazer André Rieu e a sua orquestra a Portugal?

Não fazia ideia; mas fico muito feliz por saber. Apesar de não me apresentar em Portugal há quase 20 anos, estou muito contente por saber que há muita gente no país que gosta da nossa música.

A Internet, a televisão e o cinema ajudaram imenso a dissipar o poder mágico e encantador da valsa pelo mundo. E 2018 foi a minha tournée mundial mais bem-sucedida, com quase 700.000 de visitantes. Ao contrário de alguns managers ou empresas discográficas, acreditei desde o início que a minha maneira de fazer música podia deixar muitas pessoas felizes.

Escolho a música que toco com o coraçãoAo longo dos anos editou uma longa discografia. Há algum álbum que o tenho tocado de forma particular?

Na verdade, todos os álbuns são muito queridos para mim. Escolho a música que toco com o coração e, quando há alguma melodia que me toca de forma especial, tenho a certeza de que meu público também será tocado por ela.

Os meus álbuns ‘Amore’ e ‘Falling in Love’ foram dedicados ao amor; enquanto Roman Holiday’ e ‘Love in Venice’ prestam homenagem a um dos meus países favoritos, a Itália. Mas é claro que gostei muito de gravar álbuns como ‘Home for Christmas’ para a época festiva ou álbuns com as mais belas valsas como ‘And The Waltz Goes On’.

Adoro escolher diferentes estilos de música para meus álbuns e misturar melodias clássicas com músicas pop ou de musicais. Realizar todos estes trabalhos com uma orquestra completa dá toda uma nova dimensão a muitos deles. Além disso, o meu novo álbum, ‘Romantic Moments II’, foi lançado a 7 de dezembro.

Notícias ao MinutoAndré Rieu © Getty Images

Em relação à orquestra que o acompanha - Johann Strauss - , como descreve a relação entre os membros? Assemelha-se à de uma família?

Chamo a minha orquestra da minha grande família afetiva. Muitos dos membros da orquestra estão comigo há mais de 20 anos e fazemos imensas tournées, com cerca de 100 espetáculos por ano. E como estamos longe de casa, partilhamos muito, tanto os momentos felizes como os mais tristes. Então, sim, de uma forma ou de outra, pode compará-la a uma família. Aliás, existem 13 casais.

Tudo o que as pessoas veem em palco é real, não há falsidadeNo âmbito da música clássica, podemos dizer que tem um estilo próprio? Como o define?

Sim, acho que tenho meu próprio estilo. As minhas emoções são reais, tudo o que as pessoas veem em palco é real, não há falsidade. Todos nós tocamos com entusiasmo e acho que é isso que faz com que a nossa música seja forte e eterna. Não é a música em si que é tocada num estilo diferente. Acredito que a música clássica se destina a toda a gente e não apenas a elites como alguns tendem a acreditar.

Mozart, por exemplo, era muito popular para o seu tempo. Se na altura existissem selfies, ou se ele fosse vivo agora, aposto que centenas de jovens (e pessoas mais velhas também) iriam tentar tirar fotos com ele. As suas fotos iriam decorar os quartos de muitas jovens. Além disso, quero que os meus concertos sejam uma festa em muitos sentidos, não apenas no auditivo. É por isso, aliás, que muitas mulheres na minha orquestra usam vestidos coloridos, no cenário há candeeiros... toda uma ambiência diferente para que a audiência possa usufruir de algo mais.

Acredito que a música clássica se destina a toda a gente e não apenas a elites como alguns tendem a acreditarNo seu site pode ler-se que a sua vida “é simplesmente música”. A música integra efetivamente as suas rotinas?

A minha rotina é guiada pela música, mas eu não trabalho, eu divirto-me. Eu e a minha mulher, Marjorie, analisamos os novos programas de concertos logo ao pequeno-almoço.

Os meus dias são preenchidos com ensaios, sessões de gravação e concertos. À noite volto para casa no meu carro e aí prefiro silêncio, uma vez que estou rodeado de música durante grande parte do ano. Há apenas uma exceção: quando os meus netos aprendem uma nova música, ou quando tiveram uma aula de música; aí sou um ouvinte muito feliz e orgulhoso.

Quando os meus netos aprendem uma nova música, ou quando tiveram uma aula de música; aí sou um ouvinte muito feliz e orgulhosoO seu pai foi professor de música. Esse facto terá influenciado o seu gosto pela música? Decidiu seguir os seus passos?

Penso que prefiro seguir as pisadas de Johann Strauss, que era um violinista como eu que também conduzia a sua orquestra. O meu pai não era exatamente um professor, mas um condutor de orquestra sinfónica com muitas orquestras para conduzir.

Mas foi num concerto do meu pai que ouvi a primeira valsa com cinco anos. Muitas vezes ele tocava uma valsa no 'encore' depois de um alinhamento de Mozart, Mahler ou Beethoven. E notei como a atmosfera na audiência mudava, as pessoas começavam a mexer-se ao sabor do ritmo.

Também me tornei num músico como o meu pai, sim, mas a minha forma de fazer música e de atuar é completamente diferente. Os meus concertos versam sobre comunicação com a audiência; não são como um concerto de música clássica normal dado pelas orquestras sinfónicas.

Quando se sentir feliz, não se esqueça de rir; quando se sentir triste, não se sinta envergonhado de mostrar as lágrimas. Se lhe apetecer dançar, por favor sinta-se à vontadePor isso quis tirar dos seus concertos o registo ‘sombrio’ dos espetáculos a que assistia na sua infância?

Exatamente. Quis que a minha orquestra viajasse por todo o mundo com a performance de música que eu gosto, nomeadamente músicas como ‘Ballade of Adeline’, ‘Nessun dorma’, ‘Granada’, ‘The Beautiful Blue Danube’, ‘The Radetzky March’, ‘Amazing Grace’ e muitas outras.

Notícias ao MinutoMaestro e a sua orquestra regressam a Portugal em março © Getty Images

E queria ver a audiência para quem estava a tocar. A audiência integra uma grande parte da noite do concerto, sem ela não poderia tocar para ninguém. Devo tanto aos meus fãs. É preciso estar bem ciente do facto de todas as emoções serem permitidas nos meus concertos. Quando se sentir feliz, não se esqueça de rir; quando se sentir triste, não se sinta envergonhado de mostrar as lágrimas. Se lhe apetecer dançar, por favor sinta-se à vontade.

O meu sonho é tornar a música clássica acessível a toda a gente”. Este era o seu anseio, conseguiu alcançá-lo?

Espero que sim, mas acho que a missão ainda não está completa. Vejo pessoas de todas as idades nos meus concertos e isso é uma enorme satisfação para mim enquanto músico. Quando vejo milhares de sorrisos à minha frente, sou o homem mais feliz do mundo.

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