"Há incompetência no desenho e execução do programa português"
A um mês de abandonar a presidência do Conselho Económico e Social, ocupando um cargo ao lado de Juncker, Silva Peneda concede esta segunda-feira uma entrevista ao Público onde aborda o período de ajustamento português. O social-democrata deixa ainda um comentário sobre Pedro Passos Coelho.
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Política Silva Peneda
Numa entrevista onde faz o balanço do programa da troika, Silva Peneda, presidente do CES, diz que foram cometidos erros de incompetência no desenho do ajustamento português, nomeadamente na identificação do principal problema.
“Há erros e incompetência no desenho e na execução do programa. O primeiro foi pensar-se que o problema de Portugal era exclusivamente financeiro, quando é muito mais estrutural. Temos empresas débeis, descapitalizadas e isso não é possível resolver em pouco tempo”, critica Peneda, avisando que é impossível haver progresso num país sem classe média.
“A classe média levou uma machadada fortíssima e não há país nenhum que se desenvolva sem uma classe média forte. Isso vai levar muitos anos a recuperar”, explicou o social-democrata, acrescentando que o programa da troika também falhou no que diz respeito a questões relacionados com o tempo preconizado para as reformas, a ideia de uma destruição criativa da economia e os efeitos na quebra da procura interna que levaram à queda do emprego.
“A democracia é muito bonita, mas a democracia só entra no coração das pessoas quando elas sentem que quem está no governo tenta resolver os seus problemas”, sintetiza Silva Peneda.
“Fiel às origens do PSD”, o social-democrata que vai assessor Jean-Claude Juncker não ousa, para já, em fazer julgamentos sobre a prestação de Pedro Passos Coelho, apelidando-o de ‘corajoso, teimoso e perseverante’.
“Enfrentou um período muito difícil. É difícil avaliar as pessoas ainda a quente. É um homem corajoso, é teimoso, é perseverante. O tempo e a história encarregar-se-ão de fazer o juízo de valor final”, explica, deixando ainda a ideia de que nas eleições Legislativas deste ano terá de conseguir encontrar-se uma nova maioria, condição necessária para reforma o país.
“Os problemas estruturais da economia portuguesa não estão resolvidos e o CES tem uma posição sobre isso. O país precisa de um plano a médio prazo - até apontámos 10 anos - que persiga três objetivos: equilibrar as contas públicas, pôr a economia a crescer e reformar o Estado. Mas para isto ser feito é preciso garantir alguns pressupostos, e o mais difícil é a estabilidade e o compromisso político”, explica.
Por fim, relativamente à crise europeia, que tem no seu centro a ‘nova’ Grécia de Varoufakis e Tsipras, afirma Silva Peneda que é necessário encontrar um denominador comum que una todos os países.
“A Europa é uma manta de retalhos de diferenças culturais e económicas. Temos uma realidade muito distinta no Sul da Europa que precisa de ter um tratamento muito distinto. A zona euro tem na sua génese uma ideia federal. Estamos a meio da ponte: acaba-se a ponte ou caímos da ponte”, esclarece.
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