A poucos dias de a campanha para as autárquicas terminar, o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho afastou a ideia de linhas vermelhas com o Chega, o que já gerou algumas reações.
As declarações de Passos Coelho foram feitas numa iniciativa da campanha autárquica do candidato do Partido Social Democrata (PSD) em Sintra, Marco Almeida.
Reconhecendo que o partido liderado por André Ventura ganhou "dimensão" nos últimos anos, o antigo líder social-democrata apontou, em declarações à SIC Notícias, que o diálogo não deve ser algo a excluir: "Vivemos uma democracia, temos de nos respeitar uns aos outros e saber trabalhar em conjunto com os que forem os eleitos".
Em relação às linhas vermelhas com o partido, e que já foram várias vezes assunto, Passos Coelho considerou: "As linhas vermelhas são ditadas pela consciência e devem estar relacionadas com coisas muito particulares, especiais e graves".
Montenegro fala em "ruído", mas não descarta ideia
Foram várias as reações que surgiram após as declarações do antigo chefe de Governo, mas, no que diz respeito ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, este reservou-se, evitando, de acordo o Observador, tecer comentários sobre o assunto, indicando que quaisquer questões sobre possíveis coligações pós-eleitorais com o Chega são "ruído". O que acontecer depois das eleições dependerá, diz Montenegro, "do sentido de voto das pessoas".
Segundo a agência a Lusa, em relação ao mesmo assunto, Montenegro apontou também que "nestes dias, o que compete aos candidatos do PSD é apresentar os seus projetos, as suas soluções para os reais problemas das pessoas (...) Tudo o resto é para politiquês, não é para reforçar a ligação com as pessoas".
Ventura fala em "renascimento da Direita" e critica Montenegro
O presidente do Chega reagiu a essas declarações indicando que há um "renascimento da Direita" ao mesmo que acusou o PSD de estar adormecido.
"A frase é importante porque mostra que está a haver um renascimento da Direita em Portugal, e esse renascimento da Direita significa, como o doutor Pedro Passos Coelho já disse, aliás, noutros momentos, não é uma questão de barreiras partidárias, é uma questão de que a Direita tem que se assumir naquilo que é, firme no combate à corrupção, firme no combate à imigração legal, firme pela segurança, mesmo quando isto custa à Esquerda, firme na defesa das pessoas que trabalham, contra as minorias que não trabalham", afirmou.
André Ventura considerou que houve um "reacordar da Direita" e afirmou que "houve uma evolução do doutor Pedro Passos Coelho" e "claramente não houve essa evolução do doutor Luís Montenegro".
Linhas vermelhas com o Chega: O que dizem os partidos?
Para além de Montenegro, outros líderes partidários foram confrontados com a situação, nomeadamente, a líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que depois de estar detida em Israel na sequência da flotilha humanitária de que fez parte, começou a fazer parte da campanha esta terça-feira.
"É irónico que no dia em que Passos Coelho aparece na campanha eleitoral para dizer que 'não devemos ter linhas vermelhas com o Chega' - o Governo que cortou nas pensões -, Luís Montenegro decidiu apresentar avulso medidas para o aumento do CSI [Complemento Solidário de Idosos]", respondeu, considerando que esta era uma tentativa de o PSD de tentar conquistar os mais idosos, os mais pobres, "fazendo-os esquecer o que o PSD os fez sofrer no passado, nesses tempos em que André Ventura e Passos Coelho estavam juntos, com Montenegro no PSD".
"As políticas de Direita não trazem nada para o país - venham elas do Chega ou do PSD", atirou.
Já o porta-voz do Livre, Rui Tavares, desafiou o presidente do PSD e primeiro-ministro a esclarecer se o "não é não" ao Chega passou a "sim é sim" nos municípios. "Em tempos, Luís Montenegro teve uma frase que lhe rendeu muito politicamente em que repetia duas vezes o 'não»' era 'não é não'. Agora, nós estamos em eleições autárquicas. Quando Pedro Passos Coelho, ex-líder do PSD, diz que não faz sentido linhas vermelhas que o Chega, ele está a dizer 308 'sins', um para cada concelho, para cada município em Portugal", criticou.
Por sua vez, e por falar em linhas vermelhas, a líder da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão, evitou falar em "linhas vermelhas" em acordos com o Chega para executivos municipais, mas avisou que os candidatos liberais são irredutíveis nos "valores e princípios".
Falando da 'estratégia' da IL, a líder liberal apontou: "Neste momento estou muito convicta de que não será preciso isso [negociar com vereadores do Chega], nós vamos ganhar onde estamos a concorrer, vamos conseguir fazer a diferença, é nisso que estou concentrada até ao fim da campanha".
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