A deputada do Partido Socialista (PS), Mariana Vieira da Silva, salientou, esta terça-feira, que o partido precisa de fazer "uma profunda reflexão" e que isso "precisa de tempo", após a derrota nas eleições legislativas de 18 de maio e a demissão do secretário-geral, Pedro Nuno Santos.
"É preciso ter consciência da dimensão da derrota e da necessidade de refletir sobre ela", afirmou a socialista, em entrevista na SIC Notícias.
Sobre a duração desse período de "reflexão", Mariana Vieira da Silva sublinhou que só "passaram 48 horas de um resultado tal que ninguém estava preparado". "Para essa profunda reflexão, o PS precisa de tempo e para isso estes primeiros dias serem marcados pela pressa não é útil", afirmou, considerando que é preciso um "processo alargado de discussão interna dentro do partido e de identificação de quem é que se considera ser a pessoa mais capaz de fazer o duro trabalho que o PS tem pela frente".
A socialista acrescenta ainda que não se pode "considerar que só porque alguém já estava a pensar candidatar-se ao próximo congresso do PS que tem um direito reforçado ou prioritário de ser líder do PS".
Questionada sobre se estava a referir-se a José Luís Carneiro, que assumiu publicamente a sua candidatura na segunda-feira, a deputada notou que o ex-ministro "tem todo o direito a candidatar-se", que respeita e agradece a "disponibilidade", mas volta a reiterar: "O PS tem de refletir e saber que mais pessoas estão disponíveis".
"Não é uma critica a quem já avançou", mas sim a defesa da ideia de que quem "quiser estar disponível para liderar o PS deve fazer um trabalho junto de todas as sensibilidades do partido para procurar um caminho".
Já sobre uma possível candidatura da sua parte, Vieira da Silva defendeu: "Nunca excluí, mas isso não significa que a notícia seja 'Mariana Vieira da Silva não exclui'. Estou disponível a ajudar o PS das mais diversas formas, a encontrar um caminho que seja de união".
Referiu também que se tem "ouvido vários dirigentes do PS a apontar para a profunda reflexão" depois da pesada derrota de domingo.
PS viabilizará Governo da AD? "Cabe aos órgãos [do partido] essa decisão"
Quanto à viabilização ou não de um Governo da AD, Mariana Vieira da Silva adiantou que, uma vez que não há secretário-geral eleito, "cabe aos órgãos [do PS] essa decisão".
"Julgo que o PS, e falo no Governo, tem tido nos últimos anos uma posição que só vota favoravelmente a uma moção de rejeição quando tem uma alternativa para propor. Não vejo nenhuma razão para que esta abordagem mude porque a instabilidade, o número excessivo de atos eleitorais tem beneficiado um partido e esse partido é o Chega", frisou.
Reiterou que não vê "razão para o PS alterar a sua posição, não havendo uma maioria para protagonizar e para apresentar não faz sentido votar favoravelmente às moções de rejeição". Sobre o Orçamento do Estado, Mariana Vieira da Silva diz que "é preciso esperar".
"Nós precisamos de tempo para nos reorganizarmos e isso tem de estar presente na cabeça de todos os socialistas", destacou.
"Chega tem gozado de uma excecionalidade na democracia"
Questionada sobre a 'saúde' da democracia, a socialista notou que quando "uma parte significativa da população faz um voto de protesto, assume que é um voto de protesto para abanar, para agitar, é um problema".
"Não cabe apenas ao PS lidar com esse problema. Vejo muitos sorrisos na AD, que compreendo na dimensão da vitória, mas não compreendo porque o fenómeno também afeta e afetará o PSD. É preciso levar a sério as preocupações das pessoas e dar respostas às pessoas que não seja de desvalorização", disse.
E acrescentou: "O Chega tem gozado de uma excecionalidade na democracia que é as suas propostas não são questionadas por ninguém. Muitas vezes não pelos jornalistas, mas também não pelos partidos. São levadas quase que com uma leveza de quem estava mais ou menos fora do quadro da democracia. Isso não pode continuar porque as respostas que o Chega dá são muito questionáveis, o país, em muitos casos, não tem dinheiro para as pagar e nós precisamos de levar a sério as propostas para conseguir convencer as pessoas que o caminho, no caso, é o do Partido Socialista".
Sobre as Autárquicas refere que o "processo está encerrado", que o PS "tem escolhido os candidatos para todas as Câmaras" e que o partido "está unido a apoiar os seus candidatos".
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