Ossanda Líber: "Portugal está preso à mediocridade dos políticos"

Ossanda Líber, líder do partido Nova Direita e cabeça de lista por Lisboa, é convidada do Vozes ao Minuto esta quinta-feira.

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Maria Gouveia
15/05/2025 13:50 ‧ há 8 horas por Maria Gouveia

Política

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A Nova Direita concorreu, pela primeira vez, às eleições legislativas em 2024. Este ano, regressam com a confiança do trabalho que têm vindo a fazer. Ossanda Líber, presidente do partido e cabeça de lista por Lisboa, esteve à conversa com o Notícias ao Minuto.

 

Nesta entrevista, Ossanda Líber falou da "coragem" que o partido tem e sobre aquilo que defenderão caso sejam eleitos deputados para a Assembleia da República. Falou ainda de temas que marcam a atualidade, tais como a habitação ou o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Sobre a imigração, a presidente da Nova Direita acredita que é o "problema mais fácil de resolver" e defende a criação de "critérios" para quem vem para Portugal.

O partido, que se assume como "conservador" e com "uma visão conservadora da sociedade", acredita na "família com base e valores cristãos", sendo a sua "a prioridade centrar o discurso político em torno dos problemas da família".

Já sobre o facto de a Nova Direita se situar entre o PSD e o Chega, Ossanda Líber deixa algumas críticas aos dois partidos. Salienta que o seu partido traz "energia, coragem e ideias que faltam ao PSD" e a "racionalidade e forma de estar na política que falta ao Chega".

Temos um programa, um propósito muito claro, que é a defesa das famílias, é recentrar a expressão política das famílias e isso, parece-me, não há mais ninguém a propor

A Nova Direita concorre, pela segunda vez consecutiva, às eleições legislativas. Quais são as expectativas?

Nós sentimos que crescemos bastante desde então. Temos uma base que nos serve de referência que foi o resultado que tivemos dois meses depois de termos criado o partido. Uma base incrível, dezasseis mil votos em dois meses. O partido não era conhecido. Ao fim de um ano de trabalho consecutivo, sem parar um dia, acreditamos que temos maior visibilidade, as pessoas conhecem-nos melhor e vai refletir-se nos nossos resultados.

Além de que, quem nos ouviu falar e quem me ouviu falar no ano passado, eu alertava, durante as eleições, precisamente para aquilo que acabou por acontecer. O facto de não termos um Direita unida iria ter consequências muito rapidamente e eu apelava à urgência de ter um partido como a Nova Direita na Assembleia da República para suprir este fosso entre os dois partidos de Direita. 

As pessoas hoje, conscientes disso, talvez ouçam melhor o nosso apelo e percebem que se não for assim parece-me óbvio que a Direita que se está a formar neste momento, composta pelo PSD e pela Iniciativa Liberal, não é suficiente para manter uma estabilidade. Portanto, há mesmo necessidade de mais um partido. Um partido que, em todo o caso, faça pontes, um partido que viabilize simplesmente a Direita. Neste momento, a Direita é literalmente inviável.

Em todo o caso, é isso que estamos a apelar às pessoas. Temos um programa, um propósito muito claro, que é a defesa das famílias, é recentrar a expressão política das famílias e isso, parece-me, não há mais ninguém a propor e, de facto, as pessoas precisam que os seus problemas sejam tratados e penso que temos argumentos suficientes para acreditar que vamos entrar. 

O vosso slogan é 'Libertar Portugal'. Porquê? E por que razão se descrevem como um partido das famílias?

'Libertar Portugal' por uma simples razão. Portugal está, literalmente, amarrado. É um país que está amarrado, é um país que está preso. Está preso à mediocridade dos políticos. Nos últimos anos, estiveram mais preocupados em aproveitar-se de uma conjuntura económica porque, naturalmente, depende da Europa, e não pensaram no país, não pensaram no presente nem no futuro do país. De repente, o país está como que em autogestão e nós vamos vivendo as situações à medida que elas vão acontecendo e, obviamente, depois não há capacidade de reação. Portanto, este país é um país que precisa de se libertar. É um país que está muito burocrático, é um país que tem muitos gastos [...] que podiam ser redirecionados para áreas que, neste momento, estão muito carentes de investimento, como é o caso da habitação, entre outras.

É um país que não percebe que há uma necessidade de reformar o sistema de saúde, o sistema de educação e não o faz porque está preso. As decisões estão dependentes de dois partidos que não têm força, não têm noção da urgência para as implementar. Portanto, é preciso libertar este país, é preciso libertar também as pessoas para que elas empreendam.

O país não faz pontes, o país está dependente da Europa que, neste momento, também está decadente economicamente, socialmente. Há que reformar! As pessoas estavam à espera que a Direita fizesse esse trabalho. Quando foram votar na Direita, há um ano, foi porque perceberam que o socialismo não estava a dar os resultados que prometia e que era preciso dar uma nova perspetiva. O que é que constatamos ao fim de um ano? É que a Direita, no final de contas, por egos - a maior parte dos problemas que a Direita tem neste momento é por causa de egos - não consegue responder a essa demanda dos portugueses. Claro que estou a 'puxar a brasa à sardinha' da Nova Direita mas, de facto, eu como cidadã também digo que o país precisa de um partido como a Nova Direita, precisa de uma pessoa como a Ossanda na Assembleia da República para dar aqui uma lufada de ar fresco, para falarmos de temas que interessam, para avançar.

A prioridade das prioridades é centrar o discurso político em torno dos problemas da família, resolver um a um e é isso que nós queremos fazer. Chamamo-nos partido das famílias porque queremos incentivar a que se façam famílias

Agora, a família. Temos plena consciência porque a maior parte de nós, no partido, somos pessoas de família, é isso que nos une. Acreditamos muito na família como um alicerce do país e sabemos o que é construir uma família. Eu tenho uma família numerosa e sei o que é que as famílias precisam para estar bem, para estarem felizes e, aí sim, poder contribuir devidamente para o país. Neste momento, tal como os jovens, falta tudo às famílias. Uma das nossas bandeiras é a integração e ajuda no apoio às famílias com crianças com autismo, que ninguém fala. No entanto, são milhares de crianças, e adultos também, que estão nesta situação. As famílias estão nessa situação e onde é que isto foi tratado na Assembleia da República? Nunca.

A prioridade das prioridades é centrar o discurso político em torno dos problemas da família, resolver um a um e é isso que nós queremos fazer. Chamamo-nos partido das famílias porque queremos incentivar a que se façam famílias. É fundamental para a continuação deste país e queremos também que elas sejam fortes, que estejam bem. Decidimos que essa seria a nossa prioridade.

No final de um ano, não vimos nenhuma reforma que fosse nesse sentido de melhorar e aí é que entra a Nova Direita

Sobre o tema da Saúde, no vosso programa defendem a entrada dos hospitais privados e, há uns tempos, apontou o dedo ao Governo dizendo que "não estava a ser capaz de gerir o Serviço Nacional de Saúde" (SNS)...

Por força da necessidade, as pessoas já estão a fazer aquilo que o Estado devia ter encaminhado. Elas já estão a recorrer ao privados. Qual é o problema? É que, como isto não está sistematizado, ir aos privados também já começa a ser complicado. Porquê? Porque não há um acordo, o Estado ainda não estendeu a mão aos privados para dizer 'olhe vamos trabalhar juntos'. Isto não significa que o Estado se vá demitir da sua função de prestador de serviços de saúde, significa que se  vai auxiliar dos privados.

Os privados têm uma capacidade incrível de crescer, de se organizar, de se adaptar, mas é preciso que haja um projeto onde seja dito 'vamos fazer aqui um contrato de 10 ou 15 anos, fazemos aqui uma convenção, vocês atendem uma parte, os hospitais atendem outra'. Não está a acontecer isso e, como resultado, as pessoas estão desesperadas, estão a recorrer aos seguros e com os seguros vão aos hospitais, mas daqui a pouco nós já não vamos sequer ser atendidos. Aliás, já hoje é difícil sermos atendidos com a mesma celeridade.

Isto era bom porque permitia que o meu lugar, o lugar no SNS, fosse deixado para as pessoas que têm mais necessidade, que não têm a possibilidade de ir ao privado. É essa precisamente a nossa proposta. É dizer: o Estado faz uma convenção com os privados, dá um cheque às pessoas para elas irem aos privados, as pessoas põem uma taxa, um pequeno acréscimo, e vão ao privado. Na prática, o que já estão a fazer hoje, exceto que não há a mão do Estado. Isto vai libertar os hospitais públicos, em primeiro lugar, para aqueles assuntos que os privados não têm capacidade de responder, mas também para aquelas pessoas que não conseguem contribuir com este bocado que estamos aqui a falar. Então, de repente, como um toque de magia, temos os hospitais não tão saturados, vamos descongestionar os hospitais, o Estado vai estar a garantir que está a fazer o seu trabalho, os privados ficam todos contentes porque, no final, são empregos também.

O PSD hoje já não têm capacidade de se impor, por motivos óbvios, ou seja, são muitos anos de dependências, até de uma cumplicidade tóxica dos dois partidos. Nem têm lideranças com coragem para isso, então vão largando as coisas. É um bocado como a Spinumviva, vai largando aos poucos. No final de um ano, não vimos nenhuma reforma que fosse nesse sentido de melhorar e aí é que entra a Nova Direita. Nós não temos nenhuma pendência, temos muita coragem e bravura. Gostamos do país, somos pessoas que sentem os problemas, mas somos pessoas que trabalhamos, temos filhos, temos a capacidade de identificar os problemas, apresentar soluções e batermo-nos por eles na Assembleia da República. 

A imigração é um outro assunto muito falado e discutido. O que é que a Nova Direita propunha no âmbito desta questão?

Este é de facto, na minha ótica, o problema mais fácil de resolver porque trata-se de definir critérios de acolhimento para pessoas que vêm de fora e pô-los em prática. Não há nada mais complicado. Em África, em todo o lado, os países têm regras. No nosso caso, parece-me que as regras são principalmente três: a primeira é a da pertinência económica. Que imigrante é que precisamos? Será que precisamos só de motoristas de Uber e de pessoas na hotelaria ou precisamos de outro tipo de imigrantes por setores? Em que zonas do país? Em primeiro lugar, para segmentar e criar um sistema de quotas que seja adequado, aquilo que o país pode absorver, sem prejudicar quem cá está - porque é uma questão sobre a qual não se fala. Quando há uma sobre-oferta de pessoas em determinadas áreas, claro que quem cá está acaba por sofrer uma concorrência desleal de quem vem de fora que está disponível para aceitar outro tipo de condições. Este critério depois é muito fácil de o determinar, basta falar com os patrões, com as empresas, e eles dizerem do que é que precisam.

Se nós tivermos em conta que, depois de assegurados os dois primeiros critérios, ou seja, a pertinência económica e a sustentabilidade económica deste imigrante durante os primeiros tempos, o terceiro critério deve ser o da proximidade cultural, porque isto garante uma coesão social

Depois, há a questão que nos tem estado a causar um grande problema social que são as condições das pessoas que cá chegam. Na maior parte dos casos, como não são determinadas regras, as pessoas chegam cá em condições de tamanha decadência, que obriga a sobrecarregar aquilo que o país já não tem para dar aos seus. Nomeadamente, os serviços de saúde, habitação. Isto tudo que nós estamos a propor já vi acontecer, com muito bom resultado, em outros sítios, que é as pessoas antes de virem para cá, organizam-se de forma a que quando cá chegarem terem o mínimo de condições de subsistência até estabilizarem. Isto é normalíssimo. Quem vem de fora, não pensa assim num dia 'agora vou emigrar para Portugal'. Não é assim que as coisas se processam, as pessoas ficam um ano, ano e meio, dois anos, o que for, a prepararem-se para isso. Se elas souberem que para entrar para Portugal, já têm que ter uma série de condições económicas e não estamos a falar de serem ricas, nem nada disso, estamos a dizer o mínimo de sobrevivência para não sobrecarregar. Eu acredito que então elas deixarão de ser um encargo e passarão, no fundo, a ser um ganho para o país. 

Depois há o terceiro critério, o da proximidade cultural. Parece de todos o mais banal, mas não é. Não é porque, um dos factores que tem criado algum frenesim cá dentro, é o facto de estarmos confrontados com milhares de pessoas que têm um distanciamento cultural tão grande e que nos estão a impor a sua forma de estar numa certa medida e não há nenhum povo que receba isso de bom grado. É normal que as pessoas reajam. As pessoas, normalmente, têm um certo ceticismo, à partida, em relação às pessoas estranhas, precisam de se habituar a elas. É tudo natural como quando recebemos as pessoas na nossa casa, é o mesmo fundamento. A questão é que, se nós tivermos em conta que, depois de assegurados os dois primeiros critérios, ou seja, a pertinência económica e a sustentabilidade económica deste imigrante durante os primeiros tempos, o terceiro critério deve ser o da proximidade cultural, porque isto garante uma coesão social. E assim evitamos ver aqueles filmes que temos visto no Martim Moniz e em outras cidades, em que há milhares de pessoas que se reúnem numa praça para rezar sabe-se lá o quê, sabe-se lá quem são. E, de repente, nós temos de nos adaptar. Não é assim, os países existem por algum motivo. As divisões não foram sempre feitas com critérios objetivos, mas eles existem por algum motivo, têm fronteiras. O que une o povo são os seus fatores em comum e, muitas vezes, os fatores culturais e religiosos. Se com isto quero dizer que só devem entrar cristãos e não muçulmanos, não é isso. O que digo é que se entrarem mais cristãos do que muçulmanos nota-se muito menos. Isto é um facto, é matemático. Não tem nada que ver com xenofobia. Tem que ver com 'vamos lá criar o mínimo impacto possível para os nossos'. Por maior que seja a capacidade de adaptação dos portugueses, que é muita, a capacidade de aceitação é muita, muito mais do que aquilo que se diz. Todos nós queremos estar a viver num ambiente que nos é familiar. 

Eu considero que este critério de proximidade cultural, a língua, a religião, também deve ser tido em conta na hora de definirmos uma estratégia migratória. Portanto, três critérios simplérrimos. É defini-los, é publicá-los, é pô-los em prática. É ridículo este problema. Na Saúde vamos precisar de reformas muito profundas, na Educação a mesma coisa, até na Habitação isto vai requerer um investimento enorme do país, mas neste caso da imigração é ridículo. É um problema ridículo que tem de ficar resolvido rapidamente. E, nós, quando estivermos na Assembleia da República vamos falar assim, exatamente aquilo que estou a transmitir, como vai ser colocada em discussão para ver se contribuímos para resolver isto. 

A Habitação também tem sido um tema bastante discutido. O que é que o partido quer propor?

O que se está a passar é que há um desequilíbrio entre a procura e a oferta. Não há mais nada, é esse mesmo o problema. Havendo este problema, só há uma forma de o resolver, é reequilibrar. E como é que se reequilibra? Construindo. Aquela ideia, que ouvi muitos partidos a dizerem: 'Vamos mandar embora todos os imigrantes ou todos os que estão aqui a mais como critério e, de repente, já temos casas para todos' - isto é falso. Para já, não se vão atirar as pessoas ao rio, é uma ilusão achar que as coisas se processam desta maneira. Acho que há um trabalho importante para se fazer nesse sentido, mas não é isso que vai resolver, no imediato, o problema. Na realidade, a única forma que nós temos de suprir isto é entregando casas, ou seja, é construir casas.

Parece-me que não somos os únicos que concordamos com isto, mas qual é a diferença? É que nós, na Nova Direita, consideramos que um projeto desta dimensão, o nível do défice de casas é tão grande neste momento, está a causar tantos danos aos portugueses que precisamos de construir muitas casas e muito rápido. O Estado - atenção que somos um partido de Direita, não gostamos que o Estado se meta em tudo -, porém, aqui estamos a falar de um problema social e este [problema] cabe ao Estado resolvê-lo. E como? Promovendo, precisamente, a construção de casas. O Estado é o único órgão, a única entidade que tem a capacidade de mobilizar os meios necessários, de forma célere, para pôr isto a funcionar. Se dependermos dos privados, leva muito mais tempo. 

A vantagem é que, além da rapidez, as pessoas que compram as casas saem isentas de um fator de especulação. A especulação é o que é: sobretudo numa fase de tanta carência, cada um vende a sua casa ao preço que quer. Nós já fizemos os cálculos. Hoje, no dia em que falamos, uma casa está a dois mil euros o metro quadrado. Há mais caro, há mais barato. Uma casa em média custa isso. Um T2, em média, tem 80 metros quadrados. Um T2 a 160 mil euros, se incluirmos os custos financeiros dá 200 mil euros, é uma coisa que o mercado não consegue oferecer, não tem forma nenhuma. Mas o Estado consegue e esta é a nossa ideia. O Estado promove, as empresas constroem para o Estado e o Estado revende. Neste caso, [o Estado] serve no fundo como facilitador deste processo. 

Há uma outra proposta para as pessoas que arrendam casas sociais. As pessoas vivem em condições com muito pouca dignidade, as casas estão a cair, muito maltratadas porque o Estado quando faz, custa-lhe dinheiro, mas como não tem capacidade, não faz manutenção nenhuma. Portanto, numa situação onde as pessoas não são proprietárias, não fazem manutenção, nem ninguém lhes diz que têm de fazer, não têm sequer condomínio, o Estado não faz e quando faz gasta uma fortuna desnecessária. O que nós pensamos é que não vale a pena o Estado ser proprietário das casas, mais vale revendê-las às pessoas. Já as fez a um preço acessível, as famílias têm estabilidade, têm propriedade. A propriedade dá muita estabilidade a uma família e elas depois que façam a manutenção dos seus prédios porque ninguém quer viver naquelas circunstâncias.

Os países ocidentais, a maior parte deles, não estão preparados para a guerra porque não têm o serviço militar obrigatório. Os jovens não estão preparados para uma luta, para enfrentar uma luta na rua, quanto mais para enfrentar uma eventual ameaça

No vosso programa eleitoral, um dos pontos é o serviço militar obrigatório. Porquê?

Nós propomos o militar ou o social obrigatório. Uma gestão opcional. Em primeiro lugar, e ao contrário do que muita gente diz, não estou em crer que estejamos diante de uma ameaça militar, não estou. Porém, estamos muito tensos no mundo e, de facto, uma forma de evitar a guerra é a dissuasão. Dissuadir significa que o adversário, o inimigo, ou quem quer que seja, saber que estamos preparados para enfrentá-lo. Essa é que é a grande questão.

Os países ocidentais, a maior parte deles, não estão preparados para a guerra porque não têm o serviço militar obrigatório. Os jovens não estão preparados para uma luta, para enfrentar uma luta na rua, quanto mais para enfrentar uma eventual ameaça. Acho que devemos trabalhar na dissuasão que é trabalhada com preparação.

Eu vivi num país em que havia guerra e, portanto, os jovens têm um sentido patriótico muito elevado porque eles já lutaram pelo país. Muitos lutaram e não tiveram de ir para a frente de combate, mas sabem que estão preparados para fazê-lo e isto dá um sentimento de pertença a este país e é algo que vale ouro

Por outro lado, a questão da própria juventude e do sentido patriótico, que na nossa ótica, da Nova Direita, é fundamental acordá-lo. Eu sinto um grande distanciamento dos jovens para o país. Primeiro que o país tem estado a desiludir-nos muito. E, por outro lado, não há nada que os convide, que os traga para este sentimento patriótico. Ter um país, uma pátria, uma nação que não está ameaçada, que não está dividida, que não está a ser disputada, vale ouro. Os jovens devem saber, perceber, que tem de se preservar o país. Eles têm de estar a postos para lutar pelo país. Lutar não tem de ser tudo numa questão militar, só ter a consciência de que eles estão preparados para defender, isso desperta nos jovens um sentimento que o país precisa.

Nas horas difíceis é isso que segura as pessoas, é isso que as une. Mesmo do ponto de vista da educação: eu tenho um rapazinho que vai fazer 10 anos e, se quando chegar a altura Portugal não tiver esse serviço, hei de mandá-lo para algum lado porque eu quero o meu filho preparado para a vida também. Saber manejar uma arma, saber defender-se, autodefesa, ter disciplina, não é que eu não ensine, mas disciplina coletiva é diferente. Aquele sentimento de camaradagem, são fatores que fortalecem o ser humano.

A vantagem que eu tenho, face a outras pessoas que concorrem comigo, é que tudo isto de que falo eu vivi. A maior parte dos temas de que falo, eu conheço-os. Eu vivi num país em que havia guerra e, portanto, os jovens têm um sentido patriótico muito elevado porque eles já lutaram pelo país. Muitos lutaram e não tiveram de ir para a frente de combate, mas sabem que estão preparados para fazê-lo e isto dá um sentimento de pertença a este país e é algo que vale ouro. Considero que só tem vantagens, além de que o país precisa. Nós temos situações, pequenas catástrofes, em que não há razão para irem só os bombeiros ou os militares servir o país. Acho que os jovens têm de estar preparados. Nós só vemos vantagens. O modelo do serviço militar hoje não tem necessariamente de ser um modelo de guerra. O país não está, não parece que esteja ameaçado, mas há mínimos. Considero que o mínimo de três ou quatro meses para ensinar as tais coisas que falei, saber cantar o hino que também é importante, saber fazer uma cama. Os jovens precisam disso, não tem mal nenhum. 

O país que eu vejo é um país em que as pessoas têm esse sentimento de pertença e isso não se manifesta a ir com um cravo no 25 de Abril na Avenida da Liberdade, a desfilar. É com ações diárias e isto torna as pessoas muito fortes e mais seguras e que é também importante dar isso aos nossos jovens. Hoje, sentem-se quase que entregues a ninguém. Há mesmo um sentimento de abandono.

Nós temos de ser mais abertos. Está visto que o socialismo não funciona e mesmo que funcionasse não é o único modelo possível

Outro tópico que salta à vista no vosso programa é o facto de quererem alterar a Constituição. Qual a razão?

As instituições não têm de ser imutáveis, não sei porque é que se põe essa ideia na cabeça das pessoas. O mundo muda todos os dias e, de há 50 anos para cá, o que mudou. Parece-me que a Democracia que vivemos hoje não está adequada aos tempos atuais. Há um problema de sub representação na Assembleia da República, ou seja, nas decisões do país. Os deputados são eleitos por círculos eleitorais, mas depois quando são eleitos, na Assembleia da República, eles defendem o país. Não estão ali para defender uma região, nem o círculo eleitoral pelo qual foram eleitos. Isto faz com que o centro de decisões esteja em Lisboa, o que faz com que o resto do país se sinta sub representado. Uma das alterações que nós queremos fazer é criar uma Câmara, um Senado, vamos dizer, que inclua uma representação destas regiões. Pessoas que são eleitas para representar e defender essas regiões porque tem uma vantagem. Além de ser mais justo, mais equitativo, mais equilibrado,  evita essa tendência regionalista que Portugal não precisa. Nós não somos pela regionalização precisamente porque a dimensão do país, a regionalização - nós temos visto noutros países, mesmo aqui ao lado, em Espanha - é um problema, não é uma vantagem. 

Nós temos de ser mais abertos. Está visto que o socialismo não funciona e mesmo que funcionasse não é o único modelo possível. Acho que há alterações importantes a fazer. A questão do direito à vida, por exemplo, são questões que têm de ser esclarecidas. Há alguma ambiguidade e alguma desatualização que valeria a pena ver. Até aqui temos sido muito conservadores como país na questão da alteração do Constituição, mas já há demasiadas vozes a pedir essa alteração por causa dos vários temas. Há ainda a questão do sistema, nós vivemos num sistema que depende totalmente dos partidos políticos e isto causa também a situação em que nós encontramos. Neste momento, elegemos máquinas políticas - sim, fazem política -, mas são sobretudo máquinas financeiras, de arranjos financeiros enormes cujo foco é mais esse do que propriamente servir as pessoas.

O Chega recebeu um milhão de votos há um ano e não fez nada com eles porque tem uma incapacidade gritante de aprofundar os temas, de os racionalizar

Disse, numa entrevista, que a Nova Direita se situa entre o PSD e o Chega. Quais são as linhas vermelhas entre o seu partido e o Chega? E o que é que vos distancia do PSD?

Não diria linhas vermelhas porque nós não as temos. Nós deixamos as pessoas decidirem que partido é que querem, com qual se identificam, qual o programa com que se identificam. Aquilo que nos diferencia do Chega tem a ver com o facto de o Chega ser um partido que, desde o seu surgimento, tem, essencialmente, abordado dois temas da nossa sociedade - a segurança, a corrupção e alguma coisa da imigração. O Chega, além de só abordar estes dois temas, está muito longe de completar aqueles problemas que temos na vida e, na maior parte das vezes, nem são os mais prioritários. A verdade é que, depois, não têm a capacidade de fundamentar, nem de propor soluções viáveis. Por isso é que o Chega recebeu um milhão de votos há um ano e não fez nada com eles porque tem uma incapacidade gritante de aprofundar os temas, de racionalizar os temas.

Falta essa coragem ao PSD. Por isso, é que ao fim de um ano, eles não fizeram nada. A vida das pessoas não mudou

Quando eu, Ossanda, falo da imigração coloco exatamente o mesmo problema. Estamos todos a ver a mesma coisa, mesmo que uns não assumam, só que tem uma diferença, é que nós vemo-lo de uma forma objetiva, vemos sobre todos os ângulos e apresentamos soluções viáveis. Soluções populistas não resolvem o nosso problema porque as pessoas não acreditam, isso descredibiliza. Portanto, nós temos essa particularidade, essa racionalidade. Nós queremos que o debate na Assembleia da República não gire só em torno da corrupção. É terrível para um país quando um partido só aborda a corrupção. Temos de falar de todos os outros aspetos da vida das pessoas. Nós somos o partido mais completo. Nós pensamos e eu tenho impressão que no lado de lá não é bem assim. 

Já o que nos distingue do PSD é a coragem de abordar e defender os temas, sem qualquer tabu, sem qualquer preconceito, sem problemas, sem tendências. Falta essa coragem ao PSD. Por isso, é que ao fim de um ano, eles não fizeram nada. A vida das pessoas não mudou. As pessoas têm a sensação de que - claro que muitas delas estão a ser manipuladas com esta história do voto útil - mas, não há ninguém que me seja capaz de dizer que desde que o PSD está no poder que a vida mudou num ou noutro aspeto. Este é o problema. Nós temos as ideias, temos a juventude, a frescura, a vontade, o sentido patriota, a visão que falta ao PSD.

Se existisse um CDS como existiu no passado, tínhamos ido todos para o CDS. Neste momento, vê-se a aflição do líder do partido porque desapareceu do panorama. As pessoas continuam a precisar de um partido como aquele, de valores, defesa da família, de convicções, de tradições e é aí que nos encontramos

O PSD, assim como o PS, neste momento, são um negócio. É ver quem fica com mais deputados, quem fica com mais milhões, quem é que move mais, quem é que põe mais gente. Eles já não têm essa frescura e ainda há outro problema. É que o PSD, já há muito, prescindiu do seu cariz ideológico, se é que alguma vez, e verdadeiramente, o teve. Parece-me que oscila muito, dependendo das lideranças.

Assumimos que somos um partido conservador, temos uma visão conservadora da sociedade. Acreditamos e defendemos a família com base e valores cristão. Não há dúvida nenhuma, as pessoas sabem para o que vêm. Eles não. Aquela ideia de querer apanhar toda a gente, acaba por não ter essa força ideológica que é muito importante para a previsibilidade do voto das pessoas, que vão muitas vezes ao engano porque é um vazio ideológico gigantesco. Nós trazemos a energia, a coragem, as ideias e a força que falta ao PSD. A racionalidade e a forma de estar na política que falta ao Chega. 

Do ponto de vista ideológico - e eu tenho-o dito - se existisse um CDS como existiu no passado, tínhamos ido todos para o CDS. Neste momento, vê-se a aflição do líder do partido porque desapareceu do panorama. As pessoas continuam a precisar de um partido como aquele, de valores, defesa da família, de convicções, de tradições e é aí que nos encontramos.

O voto na Nova Direita vai ser um voto muito útil. Vai ser o voto que vai levar as famílias portuguesas e os seus problemas para a Assembleia da República

Se a Nova Direita eleger deputados para a Assembleia da República, em que é que o partido que fará a diferença?

A partir do momento em que entrarmos, as famílias já não vão estar sós, os seus problemas vão ser abordados na Assembleia da República. É engraçado que parece uma coisa tão ridícula porque era suposto fazer-se isso na Assembleia da República, mas não é verdade. Nós andamos um ano a discutir corrupção, empresas, problemas, egos, moções e as pessoas vão deixar o voto para isso. Não. O voto na Nova Direita vai ser um voto muito útil. Vai ser o voto que vai levar as famílias portuguesas e os seus problemas para a Assembleia da República. Esta é a nossa missão, nós definimos isto como nossa missão e vamos cumprir. É o voto mais útil que as pessoas irão dar.

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