"Há uma coisa que nós podemos fazer já, que é taxar o Elon Musk. Nós podemos. Portugal pode taxar o Elon Musk, pode taxar o dono da Google, ou o Mark Zuckerberg [dono da Meta]", realçou Mariana Mortágua, numa ação de campanha que decorreu no Teatro da Cerca de São Bernardo, distrito de Coimbra.
Num formato diferente do habitual numa campanha eleitoral, Mariana Mortágua falou durante cerca de uma hora para uma plateia sobre o peso económico mas também político de gigantes tecnológicas como a Google, Amazon ou a Meta (que detém redes como o Facebook, ou o Instagram).
Acompanhada de 'slides', à semelhança de uma aula, a bloquista foi tecendo a teia de ligações entre os mais ricos dos Estados Unidos da América e do mundo, e o poder político do republicano Donald Trump.
Mortágua alertou que oligarcas como Musk, Zuckenberg ou Trump "não estão assim tão longe" e recorreu ao apagão elétrico do mês passado para mostrar o poder que determinadas empresas podem ter no país.
"Imaginem que há um apagão. Pode acontecer um dia. Imaginem que a empresa que gera a nossa energia e a nossa rede de eletricidade é detida por um Estado estrangeiro - eu sei que é impensável", ironizou. "Imaginem que ficamos dependentes de satélites para poder aceder a telefones ou à internet. E que esses telefones e esses satélites pertencem ao Elon Musk. E agora? O Elon Musk tem poder sobre um país. Pode chantagear-nos com tudo", alertou.
Na ótica do BE, Portugal precisa de ter uma "rede de soberania digital" que proteja os cidadãos, e "o Estado tem um papel nisso, como regulador e como fornecedor destes serviços".
"Porquê que vocês, para ter um e-mail, têm que ter um e-mail da Google? Porque é que não pode haver um e-mail oficial, público, que não fica com os vossos dados cada vez que querem fazer alguma coisa?", questionou, dando como "brilhante exemplo" a chave móvel digital, que permite aceder a vários serviços públicos sem ter que partilhar dados com empresas como a Google.
Uma das propostas do BE nestas eleições legislativas antecipadas inclui a criação de um imposto "Elon Musk" - cunhado com o nome do magnata e dono da rede social 'X', antigo Twitter - com o objetivo de taxar grandes empresas de serviços digitais, uma vez que estas utilizam os dados dos seus utilizadores.
"Se a Google fica com os nossos dados quando nós vamos ao Google, quer dizer que o negócio da Google é feito em Portugal. A sede pode estar na Irlanda ou nas Ilhas Caimão, mas o negócio é feito em Portugal. Os dados vêm de Portugal, tal como viria a água utilizada na produção de energia, mesmo que ela fosse produzida noutro país. É a nossa matéria-prima. E se os dados vêm de Portugal, então devem ser taxados em Portugal", argumentou.
O cabeça de lista do BE pelo distrito de Coimbra, Miguel Cardina, alertou que no mundo e no país assiste-se "ao predomínio da miséria moral", dando como exemplo o "genocídio em Gaza que já passa nas televisões e ninguém quer saber" ou "o tempo em que Trump inventa palavras de uma novilíngua obscena como auto-deportaçoes"
"Em Portugal, também precisamos de combater a miséria moral, de combater os tecno milionários e taxar os ricos. Em Portugal, também precisamos de dizer que um genocídio não é aceitável e que Palestina vencerá", defendeu, manifestando-se contra "a aliança pérfida entre a motosserra e a nova extrema-direita".
Durante os primeiros cinco dias de campanha oficial o BE tem apostado em formatos diferentes do habitual, semelhantes a 'talk shows', ou apresentações como a de hoje.
Sem visitas a mercados, feiras ou arruadas, o BE não tem tido contacto com eleitores na rua, apostando no "porta à porta" sem a presença da comunicação social.
[Notícia atualizada às 20h32]
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