"Embora fosse nossa opinião que Sérgio Aires [atual vereador e candidato do BE à Câmara do Porto] seria capaz de encabeçar e interpretar um projeto de convergência - justamente como independente -, manifestámos a nossa disponibilidade para encontrar uma outra figura independente e agregadora, escolhida por ambas as partes", pode ler-se numa carta da Comissão Coordenadora da concelhia do BE/Porto a que a Lusa teve acesso.
Segundo a coordenação do BE/Porto, houve vários "contactos e iniciativas" para tentar uma convergência, e em junho o partido "reiterou o interesse e disponibilidade para uma candidatura Bloco-Livre, que incluísse independentes, sugerindo então que o Livre indicasse o primeiro nome à Câmara do Porto, e o Bloco o segundo; e o Bloco indicando o primeiro nome à Assembleia Municipal e o Livre o segundo".
"Após essa proposta, houve nova reunião entre ambos os partidos, da qual resultou a intenção de um novo encontro, já depois da apresentação pública da candidatura do Livre", porém na sexta-feira, segundo o BE, o Livre comunicou "que a sua decisão se mantém, preferindo uma candidatura própria em lugar de uma coligação com Bloco incluindo independentes".
Segundo o partido, houve quatro reuniões formais entre as estruturas do BE e do Livre desde julho de 2024, e ainda uma nacional e contactos por escrito.
O BE defende que se esforçou "por uma convergência e continua a afirmar publicamente: até à entrega das listas é possível juntar quem quer realmente transformar o Porto e juntar candidaturas".
À Lusa, o candidato do Livre à Câmara do Porto, Hélder Sousa, recusou comentar "o teor de negociações privadas" com o BE, porque "negociações sérias não se fazem na praça pública".
"Concordámos numas [coisas] e discordámos noutras. Não há muito a dizer", frisou, confirmando ainda que houve conversações com todos os partidos de esquerda que "não chegaram a bom porto", apesar do Livre defender "uma convergência alargada à esquerda".
Hoje, o BE recorda ainda que se reuniu com o PS/Porto quando ainda não tinha candidato, mas "a decisão do PS de apresentar Manuel Pizarro, numa lógica de reivindicação do legado de Rui Moreira, tornou inviável essa possibilidade".
Já com o PCP "existiram contactos informais", mas "quando abordada publicamente a questão, a resposta tem sido de que, nesta altura, não vale a pena reunir por estarem as candidaturas já no terreno".
Várias personalidades independentes assinam hoje um texto no jornal Público intitulado "Ainda estamos a tempo", onde defendem que "é preciso construir, sem sectarismos, um programa para uma outra cidade do Porto", apelando "a que, à esquerda, se possam ainda fundir candidaturas", pois temem que "PCP, Bloco de Esquerda e Livre acabem por, concorrendo sozinhos, não garantir a eleição de vereadores da esquerda no próximo executivo".
Assinam o documento, entre outros, a atriz e encenadora Sara Barros Leitão, a cantora Ana Deus, a música Ana Matos Fernandes (Capicua), a autora Clara Não, os encenadores Gonçalo Amorim e Nuno Cardoso e a escritora Regina Guimarães.
Concorrem à Câmara Municipal do Porto Manuel Pizarro (PS), Diana Ferreira (CDU), Nuno Cardoso (movimento Porto Primeiro), Aníbal Pinto (Nova Direita), Pedro Duarte pela coligação "O Porto Somos Nós" (PSD/IL/CDS-PP), Sérgio Aires (BE), o atual vice-presidente Filipe Araújo (movimento Fazer à Porto), António Araújo (movimento Porto à Porto), Alexandre Guilherme Jorge (Volt), Hélder Sousa (Livre) e Miguel Corte-Real (Chega).
O atual executivo é composto por uma maioria de seis eleitos do movimento de Rui Moreira e uma vereadora independente, sendo os restantes dois eleitos do PS, dois do PSD, um da CDU e um do BE.
As eleições autárquicas estão marcadas para 12 de outubro.
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