O CDS-PP mostrou-se, esta quinta-feira, indignado com a possível colaboração de Diogo Lacerda Machado, ex-administrador da TAP, na iniciativa de um consórcio privado que pretende juntar-se à corrida pela privatização da companhia aérea, com o partido a considerar que a situação "pode configurar um caso grave, de contornos políticos e éticos, que merece uma crítica frontal e clara".
Para Nuno Melo, presidente do partido que perdeu a sua representação parlamentar após as legislativas de 2022, a possível presença de Lacerda Machado no processo coloca em causa a legitimidade da privatização e do consórcio, dada a relação próxima do ex-administrador da TAP e ex-consultor do Governo com António Costa.
"A presença agora à frente de um consórcio, que anuncia concorrer à futura privatização da TAP, coloca legitimamente uma questão de independência política. É legítimo acreditar-se que esta presença e relevância do amigo próximo do primeiro-ministro, que o mandatou e nomeou para a TAP, significam uma preferência do Governo, num concurso que tampouco tem ainda o caderno de encargos publicado", afirmou o partido conservador.
A reação do CDS-PP surge depois da notícia avançada pelo Negócios, que revelou a existência de um consórcio nacional que se prepara para entrar na corrida à reprivatização da TAP. Diogo Lacerda Machado será uma figura de destaque no grupo, mas, questionado pelo jornal, disse apenas que foi abordado por "candidatos interessados na companhia aérea".
De recordar que, em maio, na sua comissão de inquérito à TAP, Lacerda Machado garantiu que não estava envolvido no processo, mas não se afastaria do mesmo caso considerasse que fosse oportuno. "Não estou envolvido em nenhuma entidade interessada, tenho sido procurado por várias – e já agora não vejo nenhum conflito de interesses –, não aceitei nenhuma das abordagens. Não excluo envolver-me se achar que posso ser útil à própria TAP", afirmou o ex-administrador.
Para o CDS, é "muito preocupante que o processo de privatização da TAP comece desta forma", depois de várias comissões de inquérito que escrutinaram a atuação da TAP. "Na verdade, os portugueses sabem hoje que a TAP - companhia portuguesa da maior importância - foi tratada como uma coutada do PS, com ministros e secretários de Estado a interferirem na sua gestão, guerreando-se publicamente pelo seu controlo politico e pessoal", considerou o partido.
No mesmo comunicado, Nuno Melo, que se mantém como o único eurodeputado do CDS-PP no Parlamento Europeu, reiterou que se se confirmar a presença de Lacerda Machado no consórcio, isto simbolizará "um tipo de exercício político que se está a tornar corrente nos socialistas: acham que em tudo mandam e que tudo podem".
"Não sendo desmentido, o anúncio revela um inaceitável desrespeito por normas básicas de imparcialidade e bom senso num Estado de Direito democrático", reafirmou.
O CDS-PP exige, como tal, que Marcelo Rebelo de Sousa esteja "atento à reprivatização da TAP, incumbido que está de assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas", pede uma reação ao primeiro-ministro, e avisa que irá pedir a intervenção da Comissão Europeia no assunto.
Outro dos nomes envolvidos no consórcio é o do empresário Germán Efromovich, ex-dono da Avianca, que já tentou comprar a TAP em 2015 - tendo na altura perdido a corrida para o consórcio Atlantic Gateway, de Humberto Pedrosa e David Neeleman.
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