A líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, criticou, esta sexta-feira, aquilo que considera ser "uma deriva autoritária" do Governo, defendendo que é necessário "exigir" ao Executivo de António Costa que "faça o seu trabalho" ao invés de "ocultar" a "falta de resposta que tem dado ao país".
Em declarações aos jornalistas, depois de ser recebida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a bloquista começou por dizer que a "deriva autoritária" do Governo é vista "quando um ministro tenta interferir com a televisão publica, a RTP", quando há "perigosas e gravíssimas suspeitas de corrupção no Ministério da Defesa e, perante a gravidade desse problema, o primeiro-ministro diz que os portugueses não querem saber da corrupção" e na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP..
"O Governo começa por enxovalhar a comissão de inquérito, começa por enxovalhar os deputados que pertenceram e fizeram trabalho na comissão, quando, na verdade, até os episódios mais rocambolescos dessa comissão de inquérito, tiveram um responsável que foi Governo e tiveram um responsável, em particular, que foi o ministro João Galamba", disse.
A também deputada considerou que Galamba e a sua atuação e gestão no campo da TAP foram "totalmente omitidas do relatório" da CPI e descreveu a situação como algo que "nunca" tinha visto.
"Eu já participei em várias comissões de inquérito, umas melhores, outras piores, já assisti e já pude ler vários relatórios de comissões de inquérito, uns mais parciais, outros menos parciais, o que eu nunca tinha visto é um relatório de uma comissão de inquérito que apaga uma parte da história, que apaga audições, factos, trabalhos, documentos que foram analisados", apontou.
"Essa deriva autoritária do Governo, numa tentativa espúria de se proteger perante as dificuldades do país, tornam o relatório da comissão parlamentar de inquérito um documento inútil", criticou, defendendo que o documento "não reflete a verdade" e que a "única preocupação" é "ilibar" o Executivo e "construir uma ficção".
Mariana Mortágua diz que foram estas "preocupações" que transmitiu ao presidente da República, na "antecipação" de um verão que se prevê "difícil", bem como um ano letivo "muito complicado", nomeadamente também nas questões de alojamento, uma vez que "nada foi feito para resolver" a crise na habitação, admitindo preocupação com um "processo estrutural de empobrecimento do país".
"O Governo pediu estabilidade, para ter maioria absoluta, para resolver problemas do país", lembrou a bloquista, defendendo que o Portugal "tem problemas" - empobrecimento, habitação, educação, saúde - "e o Governo não resolve nenhum" deles.
"Temos de exigir ao Governo que faça o seu trabalho e que governe, em vez de encontrar expedientes perante a sua própria incapacidade, incompetência ou falta de vontade, que acabam por ter tiques de autoritarismo, derivas autoritárias, e que tentam com o poder da maioria absoluta apagar, quer as exigências de transparência e de escrutínio, como a própria atividade do Parlamento, no caso da comissão de inquérito, e ocultar assim a falta de resposta que tem dado ao país", defendeu.
Mortágua acrescentou que, "quando o Governo reúne com profissionais da educação ou da saúde, está a reunir com as pessoas que têm as soluções para a saúde e para a educação".
"Enquanto o Governo continuar a insistir de forma autoritária a não ouvir estas pessoas, a não ouvir os problemas e a não encontrar soluções com os profissionais, com quem conhece os setores, com quem quer que a saúde e a educação funcionem em Portugal, não vai conseguir responder aos problemas", rematou.
De notar que, em maio, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que ouviria os partidos com assento parlamentar em julho "para fazer o balanço da sessão legislativa" e para os ouvir "sobre a situação económica, social e política". Os encontros acontecem antes de uma reunião do Conselho de Estado "sobre a situação portuguesa".
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