O líder do partido Livre, Rui Tavares, foi o primeiro a ser recebido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esta tarde de sexta-feira. Após a audiência no Palácio de Belém, em Lisboa, o deputado acusou o Governo de António Costa de vestir “uma atitude de fechamento”, lançando que o primeiro-ministro “tem de cumprir com aquilo que prometeu nas eleições”.
Na ótica de Rui Tavares, muitas propostas apresentadas pelo Livre “já estariam a resolver problemas” na atualidade mas, “por uma atitude de fechamento por parte do Governo, não foram implementadas”. O parlamentar deu como exemplo a medida apresentada em outubro passado quanto à possibilidade de os cidadãos “passarem da taxa variável para a taxa fixa sem penalizações nem obstáculos por parte dos bancos, e que os bancos tivessem de ter oferta universal de taxa fixa”.
“Essa proposta foi aprovada na generalidade e, depois, o Partido Socialista (PS) mudou de voto e chumbou-a na especialidade, para o Governo apresentar um dia depois exatamente a mesma proposta. Vários meses depois, ainda não foi implementada. Se tivesse sido feita quando o Livre a apresentou, neste momento as pessoas já estariam a poupar dinheiro todos os meses na prestação da casa”, explicou.
E foi mais longe: “Isso chumbou porque o PS não se dispôs a dialogar, como não dialogou na transformação de quartéis vazios em residências universitárias”.
Nessa linha, Rui Tavares alertou que “esta maioria absoluta tem ainda muito caminho para fazer para poder chamar a si mesma dialogante”, tal como prometido por António Costa durante as eleições legislativas.
“O Livre veio aqui dizer que a saída é pelo Parlamento, e é isso que faz a política funcionar. Até não é preciso que o primeiro-ministro cumpra com aquele que ele é o programa do Livre, - ele terá o seu -, mas tem de cumprir com aquilo que prometeu nas eleições, que era que, se tivesse uma maioria absoluta, ela seria dialogante”, concretizou.
O deputado apontou ainda que quer “fazer a Esquerda voltar a fazer os debates do futuro”, não só mediante a expansão das medidas que já propôs, como é o caso do passe ferroviário nacional, mas outras.
“Temos consciência de que o passe ferroviário nacional é uma conquista importante, até porque nos tinham dito que era impossível”, disse, adiantando que, “no próximo orçamento, vamos apresentar a proposta de alargamento do passe ferroviário nacional dos comboios regionais aos comboios interregionais e outros”.
Ainda assim, estes “debates do futuro também incluem a herança social, a possibilidade de toda a gente à nascença ter uma conta com certificados de aforro que vá crescendo com juros”.
"Não é o Livre que tem na mão haver uma dissolução ou não"
Interrogado se considera que foi entretanto afastada uma crise política, Rui Tavares respondeu: "Não é o Livre que tem na mão haver uma dissolução ou não. Na verdade, quem tem na mão haver uma dissolução ou não é o próprio Governo e o senhor primeiro-ministro, pelo tipo de liderança e de coordenação que imprimir ou deixar de imprimir ao Governo".
"Nós achamos que o Governo deve governar, deve governar como prometeu, de forma dialogante, e que se o fizer em diálogo com o Parlamento evitaremos uma crise política, em que o país pode estar a saltar, como se costuma dizer, de forma coloquial, da frigideira para a fogo ou seja, para uma situação de incerteza", acrescentou.
O deputado do Livre alertou para "a possibilidade de uma maioria de direita com a extrema-direita", um cenário em relação ao qual disse ver abertura por parte da "direita mais tradicional" em Portugal, "por muito que tente às vezes evitar o assunto".
Segundo Rui Tavares, "o Livre existe para evitar esse cenário e para dar alternativas de uma governação de progresso, no quadro europeu, responsável ecologicamente, e democrática", e para isso "não pode e não deve continuar a ser um partido pequeno".
Recorde-se que, durante uma visita à Feira do Livro de Lisboa, a 25 de maio, o chefe de Estado anunciou que ouviria os partidos com assento parlamentar em julho "para fazer o balanço da sessão legislativa" e para os ouvir "sobre a situação económica, social e política", audiências a que atribuiu um caráter habitual, observando que já não os ouvia "há meses".
O Presidente da República acrescentou que, "depois, perto do final de julho", iria reunir o Conselho de Estado "sobre a situação portuguesa".
[Notícia atualizada às 16h39]
Leia Também: Presidente da República começa a ouvir partidos sobre a situação do país