Luís Marques Mendes comentou, este domingo, o programa Mais Habitação, apresentado esta semana pelo Governo, e considerou que o primeiro-ministro, António Costa, "teve de repente um ataque de socialismo radical".
No seu habitual espaço de comentário no Jornal da Noite, da SIC, Marques Mendes reconheceu que existe “uma crise séria na habitação” em Portugal, essencialmente devido à “pouca construção”, ao número de “casas vazias” e aos “preços muito elevados”.
Neste sentido, o programa tem “aspetos muito positivos”, como a “simplificação dos licenciamentos municipais”, mas tem “três ou quatro pecados muito sérios”. E enumerou: “chegou muito tarde” e “é só um PowerPoint”, “não foi articulado com as autarquias”, “mata o alojamento local” e “mata o mercado de arrendamento”, caso o “arrendamento forçado não seja revisto”.
Sobre o arrendamento coercivo, Marques Mendes confessou que achou a medida “muito estranha”.
“Esta medida não me parece do primeiro-ministro António Costa. Eu conheço António Costa. É um socialista moderado, não é um socialista radical. Não consigo perceber porque é que ele teve de repente um ataque de socialismo radical”, disse.
Na ótica de Marques Mendes, a medida vai apenas “criar barulho” e uma “polémica enorme” e não ter resultados porque “todos perdem”, desde os proprietários aos inquilinos. “Os únicos que vão ganhar são os advogados porque vão ter mais negócios e mais clientes”, disse.
Em causa está também o facto de os proprietários considerarem a medida “um ataque à propriedade privada” e de a mesma poder ser chumbada pelo Tribunal Constitucional. “É uma medida que mina a credibilidade de todo o programa e mina a confiança dos cidadãos no Estado e no arrendamento”, considerou.
Abusos sexuais de menores? "Um sismo para a Igreja"
Luís Marques Mendes comentou ainda a divulgação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica, cujo resultados considerou terem sido “avassaladores” e um “sismo para a Igreja”.
“Isto é aqui uma grande traição. No fundo, muita gente dentro da Igreja traiu os princípios e os valores da Igreja e traiu as crianças”, começou por afirmar.
O social-democrata sublinhou que existe “um lado negativo, que nunca pode ser colocado debaixo da mesa”, nomeadamente a existência de “vítimas desamparadas e indefesas”, o facto de “padres abusadores” não terem tido “castigo” e os “encobrimentos” dentro da própria Igreja. “Houve uma Igreja que durante anos a fio não quis esclarecer, não quis examinar, nem permitiu que se investigasse. É um lado muito negro”, afirmou.
No entanto, considerou, também há “um lado virtuoso” e de “esperança”. “Esta comissão independente, presidida por Pedro Strecht e com várias personalidades muito credíveis, foi, de facto, um grande exemplo. Fez um trabalho muito profissional e muito independente. Nem a favor da Igreja, nem contra a Igreja. Foi a favor da verdade”, enalteceu.
Marques Mendes afirmou ainda que também “a própria Igreja tem dado sinais, nos últimos tempos, de querer mudar”. “Deu muitos tiros nos pés, fez declarações muito tontas, mas parece que há aqui uma certa conversão”, disse.
Questionado sobre se o escândalo poderia “cair no esquecimento” com o passar do tempo, o comentador político afirmou que considera que tal será “impossível”, uma vez que a Igreja “tem uma oportunidade de ganhar autoridade e credibilidade porque foi muito afetada”, mas só a conseguirá concretizar “se agir rapidamente” e “com base em decisões”.
“Chegados aqui, com um sismo desta natureza, não chegam palavras, intenções, pedidos de desculpa, pedidos de perdão… Isso não chega”, atirou.
Na ótica de Marques Mendes, a Igreja terá agora de agir perante as vítimas, com apoio psicológico e/ou financeiro, e decidir se mantém os padres acusados de abuso ainda no ativo, o que será “um teste à credibilidade” da instituição. “Abusaram? Têm de sair da Igreja. Não é mudar de paróquia, de colégio ou de local. Têm de sair e se a Igreja não fizer isto não é levada a sério”, disse, acrescentando que os “encobridores” têm de ser “descobertos e responsabilizados”.
Sublinhe-se que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal iniciou a recolha de testemunhos de vítimas em 11 de janeiro de 2022, tendo validado 512 denúncias das 564 recebidas, o que permitiu a extrapolação para a existência de um número mínimo de 4.815 vítimas nos últimos 72 anos.
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