O conflito entre o Chega, particularmente entre André Ventura, e o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, subiu esta quinta-feira de tom, causando surpresa e estupefação entre os deputados (e não só).
A polémica aconteceu no dia em que estava a ser debatida a proposta de lei do Governo que previa a alteração do regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional.
Os deputados do Chega abandonaram o hemiciclo depois de o presidente da Assembleia da República ter reagido a uma intervenção de André Ventura contra os estrangeiros e os imigrantes.
Nas redes sociais, várias figuras políticas reagiram ao sucedido. Depois da deputada Isabel Moreira ter defendido Santos Silva, sublinhando que "a Constituição tomou partido em relação à xenofobia", outras opiniões na mesma linha se seguiram.
A secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, parabenizou Augusto Santos Silva pelo "saber", "tranquilidade" e "firmeza" perante a "aberração".
"Uma postura que só nos pode deixar honrados e orgulhosos!", frisou a governante.
Enorme @ASantosSilvaPAR 🇵🇹
— Patrícia Costa Gaspar (@PatrciaCostaGa1) July 21, 2022
Perante a aberração, só mesmo o saber, a tranquilidade, a firmeza e a certeza de uma postura que só nos pode deixar honrados e orgulhosos! Sem medos.... Sempre ️
Muito obrigada #democracia #naopassarao #servicopublico pic.twitter.com/DsLlVewSaL
O socialista Porfírio Silva defendeu que o presidente da Assembleia da República "não pode calar-se quando o protofascista insulta as pessoas" que trabalham em Portugal e contribuem para o desenvolvimento do país.
O Presidente da Assembleia da República defende a dignidade de todos os seres humanos que residem entre nós e não pode calar-se quando o protofascista insulta as pessoas que cá trabalham e contribuem para o desenvolvimento do nosso país. Aplauso para @ASantosSilvaPAR https://t.co/NK2M3Hydzu
— Porfírio Silva (@especulativa) July 21, 2022
Ana Gomes questionou quando irá a Procuradora-geral da República pedir ao Tribunal Constitucional para aplicar a Constituição e rever a "vergonhosa legalização de um partido racista, xenófobo e fascista".
E alguém pergunta à Senhora #PGR por que ainda não pediu ao Tribunal Constitucional que aplique a CRP e a lei e reveja a vergonhosa legalização de um partido racista, xenófobo e fascista? https://t.co/6ijIxsPOau
— Ana Gomes (@AnaMartinsGomes) July 22, 2022
O jornalista e comentador Daniel Oliveira reagiu defendendo a mesma ideia: que a Constituição não é neutra "perante a xenofobia e o racismo".
Nenhum Presidente da Assembleia da República pode ser neutral perande a xenofobia e o racismo. Por uma razão simples: a Constituição também não é.
— Daniel Oliveira (@danielolivalx) July 21, 2022
O argumentista e humorista João Quadros comentou o episódio com humor, comparando os deputados a uma equipa que sai do estádio quando está a perder por 3 golos e "ainda faltam 20 minutos para o fim do jogo".
Da muito gozo ver os fachos do Chega a saírem da AR como aqueles tipos que saem do estádio quando a equipa deles perde por 3 e ainda faltam 20 minutos para o fim do jogo
— Joao Quadros (@omalestafeito) July 21, 2022
Na tarde de quinta-feira, os 12 deputados da bancada do Chega abandonaram o plenário depois de acusarem o presidente da Assembleia da República de não ser imparcial no exercício das suas funções.
A reprimenda de Santos Silva, que interveio para destacar o papel dos imigrantes em Portugal, foi aplaudida por todas as bancadas, mas não agradou a Ventura, que defendeu que o socialista devia ter passado a palavra ao partido seguinte, ao invés de fazer um comentário sobre o projeto de lei apresentado.
"Há uma maioria absoluta e há um presidente da Assembleia da República que está refém dessa maioria absoluta", afirmou o líder do Chega mais tarde, acusando Santos Silva de 'seguir ordens' do Partido Socialista.
Já o presidente da Assembleia explicou, em entrevista à noite à RTP2, que qualquer intervenção no parlamento "pode motivar outras intervenções, críticas, protestos, defesas da honra e outras figuras regimentais que servem para criticar tudo o que do ponto de vista de um deputado ou deputada mereça crítica".
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