O novo líder parlamentar do Partido Socialista, Eurico Brilhante Dias, fez rasgados elogios ao programa do Governo, apresentado esta sexta-feira por Mariana Vieira da Silva, e vincou que a maioria absoluta do PS irá dialogar com todas as forças democráticas, deixando bem claro que o Chega é uma linha vermelha.
Em entrevista ao programa '360', da RTP3, o líder dos socialistas na Assembleia da República, assumiu que tem o trabalho facilitado por uma maioria absoluta, mas disse que "há sempre espaço para o diálogo democrático e para encontrarmos as melhores soluções".
"Aquilo que temos visto, e esta semana já tivemos expressão nisso, é que a maioria absoluta do PS é uma maioria que continuará a trabalhar com os partidos à esquerda e com a direita democrática, procurando que as soluções legislativas sejam as melhores", disse o antigo secretário de Estado da Internacionalização no governo que cessou funções esta semana.
A distinção de direita democrática foi um recado óbvio ao Chega, partido que o PS fez questão de dizer inúmeras vezes com o qual não iria dialogar ou trabalhar. Para Brilhante Dias, "há um partido que não é democrático", mas apesar de não se furtar aos debates, admite que "o debate é particularmente difícil pelas suas posições extremistas, racistas e xenófobas que tem vindo a assumir".
Os primeiros dias da nova legislatura foram também marcados pelas escolhas dos vice-presidentes da Assembleia da República, com a não-eleição de João Cotrim de Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal, a surpreender mais do que as rejeições dos dois candidatos do Chega.
O líder da bancada socialista desvalorizou a situação, afirmando ser meramente uma questão de números e de normal funcionamento do Parlamento. "É o jogo democrático", resumiu.
Programa do Governo é "cumprir de promessas" eleitorais
O Governo anunciou esta sexta-feira o programa para os quatro anos da legislatura, com enfoque na transição digital, na emergência climática, no combate às desigualdades e no défice demográfico. Na apresentação, Mariana Vieira da Silva repetiu as palavras do documento e disse que o Governo quer ser uma "'task force' para a recuperação" do país.
Com o programa a ser criticado pela oposição por ser muito semelhante ao programa eleitoral apresentado pelo PS para as últimas legislativas, Eurico Brilhante Dias defendeu essa caracterização, afirmando ser o expectável de um Governo com maioria absoluta.
"O programa do Governo é mesmo o programa eleitoral do Partido Socialista. Aquilo que uma força política responsável deve fazer e cumprir as suas promessas. Não estava à espera que a oposição criticasse o Governo por fazer aquilo que prometeu", disse o deputado.
Segundo o líder parlamentar do PS, as críticas relativamente ao facto do programa não ter tanto em conta o impacto da guerra na Ucrânia como o expectável também não têm fundamento, já que o documento "é a longo prazo, para um espetro de quatro anos e maio, até 2026, e o problemas estruturais que estavam no programa eleitoral do PS não mudaram".
"Teremos a oportunidade de discutir as respostas de contingência em 2022 no quadro do Orçamento do Estado", disse Brilhante Dias, reiterando que este é "um programa para a transformação estrutural do país, e os problemas estruturais do país não mudaram de 23 para 24 de fevereiro."
"É paradoxal: uns dizem que o programa do Governo não responde à emergência; outros dizem que não é reformista e não olha para o futuro. Eu diria que no meio está na virtude", concluiu.
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